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Surto Entrevista: Bia e Branca Feres


Por Juvenal Dias

Recentemente, as gêmeas Bia e Branca Feres, ex-atletas do nado sincronizado, estiveram em uma feira de óculos em São Paulo para promover a marca da qual são patrocinadas. Antes de atender a fila gigantesca de gente que se formava para tirar fotos com as nadadoras, elas tiraram um tempo para uma conversa com o Surto Olímpico. Falaram a respeito de seu novo momento após o fim de carreira e como estão vendo o esporte, agora de fora. Confira o sincronismo das duas até quando uma completa a resposta da outra:


- Vocês pararam mesmo de competir? O que passou pela cabeça de vocês para esta decisão? 

Bia: Nós penduramos nosso 'maiô'. Encerramos nosso ciclo na Olimpíada no Brasil, que foi onde tivemos melhor resultado até hoje. Foi o sexto lugar... 

Branca: E foram 22 anos dedicados ao nado sincronizado. Ainda teria mais anos se constasse a natação também. Chegou a hora de nós podermos parar para fazer outras atividades... 

Bia: Termos nossas famílias. Eu casei, ela está noiva. A vida está muito boa. Estou curtindo muitas coisas que não podia viver antes. A vida de atleta também dá muitas coisas legais, mas, às vezes, tinha um casamento, uma reunião da nossa família e nós estávamos viajando, não podíamos estar perto. Então estou aproveitando minha família e amigos. 

Branca: Sim está dando para aproveitar bastante. Outra coisa sobre parar. Paramos no auge. Para nós é muito melhor que tenha sido assim. Foi algo que nós conversamos, olhamos uma para outra e falamos que iríamos parar. É muito melhor parar por cima, bem, do que sendo cortado, do que parar lesionado. Encerramos a carreira com 28 para 29 anos, estando bem. Isso foi uma decisão muito bem tomada da nossa parte. 

Bia: Até porque nós temos outros projetos fora das piscinas. Estamos com um projeto para natação e nado sincronizado para crianças carentes aprovado. Vem em breve. Vamos lançar um canal no YouTube (NOTA: o canal delas já foi lançado e se chama 'Mais Q Gêmeas Twins!' : https://www.youtube.com/channel/UCsSfEQHHvom9yZnxnaSPtLQ ) . Temos outros projetos que ainda não podemos falar, mas está por sair. E está sendo muito legal fazer outras coisas da vida. Não só nadar. 

Branca: A dedicação ao nado era integral. 


- Não dá saudade do ambiente, da competição? 

Bia: Não, eu tenho saudade das minhas amigas, mas não tenho saudade da água fria. Pelo contrário, eu tenho pavor. Eu tomo banho escaldante no verão. Outro dia tocou o despertador e antes eu ficava sempre nervosa, com medo de chegar atrasada (no treinamento). Mas tocou o despertador e eu pensei: “o treino, o treino, o treino”. Depois que veio: “não, eu posso voltar a dormir. Eu não estou treinando, só preciso ir à academia. Estou cansada e hoje não vou”. Isso é muito louco. 


- A memória corporal ainda funciona como de um atleta? 

Bia: Nós somos hiperativas, gostamos muito de fazer bagunça... 

Branca: Eu gosto muito de comer, então preciso me exercitar. Depois das Olimpíadas, eu engordei dez quilos em três semanas. Meu corpo não entendeu nada. Tive que fazer uma reeducação para meu corpo... 

Bia: E eu engordei seis... 

Branca: Nós só postávamos fotos velhas no Instagram. Tivemos que fazer o destreinamento. Para meu corpo entender que não treino mais oito horas diárias. Para acostumar com uma nova dieta. Hoje como mais e treino menos. 


- Vocês acham que falta mais essa transição dos atletas para suas aposentadorias? 

Branca: Acho que falta muito no pós (carreira). Todo atleta que para, engorda. 

Bia: É muito difícil, é muito delicado esse momento de transição, porque nós ficamos 22 anos e nós aposentamos. Você para e: “meu Deus, e agora? Para onde vou? O que vou fazer?” Tem muito atleta que entra em depressão. É até legal comentar que o COB tem um programa para atletas que param. Se quiserem fazer cursos lá dentro para se especializarem ou trabalhar na área. É um momento muito delicado. Nós fazemos análise. Cada uma tem sua analista. Nós nos cuidamos, mas é um momento muito delicado para todo atleta. 

Branca: E a primeira coisa que as pessoas olham nos atletas é o corpo. Elas julgam muito. Imagina! Eu engordei dez quilos do nada. Agora eu sou uma pessoa normal, deixem eu ser feliz. 

Bia: E ao contrário do que se pensa, hoje sou muito mais saudável do que quando eu treinava. Esporte é performance, não é saúde em hipótese alguma. Quando somos atletas, estamos convivendo o tempo todo com dor, com lesões, dieta rigorosa. Então está sempre no limite, essa é a vida de um atleta. Hoje não. Estou saudabilíssima, me alimento bem e não preciso ir além dos limites do meu corpo. Estou muito feliz. 

Branca: Nunca estivemos tão felizes assim nas nossas vidas. 


- Comentem a respeito do nado sincronizado brasileiro. As meninas conquistaram recentemente medalha na competição em Paris... 

Branca: Agora mudou o nome. Nós fazíamos parte do nado sincronizado. Depois que encerramos, passaram-se alguns meses e virou nado artístico. Tem muitas amigas nossas lá na seleção. Até as mais novas, também conhecemos e amamos de paixão. Estamos torcendo muito. 

Bia: Nós estamos em um momento difícil do esporte. Infelizmente tem crise no Brasil inteiro. Teve crise muito séria na nossa Confederação e isso afastou muito os patrocinadores. Faz com que as meninas não compitam tanto quanto deveriam. O circuito internacional é muito importante. Mas falamos com elas todas as semanas. Estamos sempre torcendo, no que elas precisarem... 

Branca: Torcendo, dando ideias, às vezes vamos aos treinos. 


- O ano é de Pan-Americano, é muito importante. Como vocês veem isso para o esporte? E como vocês projetam que o país possa chegar para Tóquio-2020? 

Bia: No Pan, a seleção tem uma missão muito importante. Já que na última edição (Toronto-2015), não conquistamos a medalha de bronze. Tem que ter muito foco para poder recuperar esse lugar... 

Branca: Apesar do investimento não estar sendo suficiente para isso. Comparando com outros países, aqui está muito aquém. 

Bia: Para a Olimpíada, provavelmente vá apenas o dueto (Maria Clara e Luisa). Acho que elas têm muita chance de pegar uma final. 

Branca: Elas têm muito potencial. Isso seria um resultado incrível. Já são três Olimpíadas que esse resultado não acontece.

foto: Instagram/reprodução

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