Por Bruno Guedes
Causou
grande polêmica nas últimas semanas as novas modalidades que podem ser
incluídas para as Olimpíadas de Paris, em 2024. Mais precisamente uma
delas: Breakdancing. Escalada esportiva, skate e surfe, que já estão
confirmadas para Tóquio 2020, são as outras levadas à discussão. Mas por
que tantos esportes diferentes e exóticos ganharam força nos Comitês
Organizadores? Há diversos motivos. Mas o principal é aquele que move o
mundo: dinheiro.
Breakdancing
entrará, caso seja aprovado, no lugar do Beisebol, incluído no programa
do ano que vem. Tantos esportes polêmicos ganharam força nas últimas
décadas graças ao lobby de patrocinadores. Principalmente as marcas
ligadas a eles. São esses investidores que ajudam na viabilidade
financeira do evento e, obviamente, querem suas marcas expostas para o
mundo todo através de influenciadores esportivos. Literalmente.
Ainda
que não tão populares como Natação ou Atletismo, por exemplo, tais
modalidades geram bastantes receitas ao longo do ano e competições. No
caso do Surfe, a cada vez maior popularização do esporte acabou
fomentando de forma considerável a moda têxtil. Não são raros os casos
de personalidades famosas e sem ligações com alguma prática esportiva
que usam bonés, camisas ou roupas com marcas famosas oriundas dele.
Muito
em evidência no Brasil atualmente, explica bem o porquê do Breakdancing
ganhar força em meio às demais modalidades. Se em outros países as
empresas ligadas ao estilo de vida ou moda estão entre os maiores
investidores do Surfe, fabricantes de carros, de bebidas e operadoras de
telefonia estão entre os maiores apoiadores da Brazilian Storm, apelido
para o sucesso dos surfistas brasileiros. O Breakdancing, por ter
estilo comercial parecido, atua, em parte, neste mercado e público alvo.
Percebe-se a gama de investidores interessados no emprego de capital.
Num
mundo onde cada vez menos as autoridades governamentais querem se
comprometer com verba pública para organização das Olimpíadas, o
dinheiro privado e de grandes empresas é sempre uma das saídas mais
importantes e cruciais. A Rio 2016 é um exemplo. Com pendências
financeiras, três anos depois ainda gera debate sobre as receitas
empregadas pelo estado na sua organização.
Outra
razão, neste caso também bastante relevante e que acaba indo de
encontro ao citado anteriormente, é a renovação do público que assiste
os Jogos Olímpicos e atuação em novos nichos esportivos. Um evento de
tal magnitude e grandeza acaba englobando diversos perfis de
espectadores. E quanto maior a variação destes, mais anunciantes
diferentes buscando seus consumidores. Qual marca não gostaria de estar
sendo vista na maior competição esportiva do planeta?
Excluído
de 2024, o Beisebol estará em Tóquio no próximo ano pelo mesmo motivo.
Além de ser o esporte mais popular do Japão, movimenta bilhões de
dólares ao longo do ano e atua em mercados também gigantescos. O maior
deles, claro, nos Estados Unidos. Até por esse motivo, é bem provável
que volte para 2028, quando os Jogos Olímpicos retornam para Los
Angeles, uma das capitais desta modalidade.
Vem
daí, também, o assunto tratado com bastante cautela por parte do Comitê
Olímpico Internacional: a possibilidade futura da inclusão de jogos
eletrônicos nas Olimpíadas. São os chamados e-sports. Além de um grande
público consumidor, suas receitas ultrapassam facilmente a casa de
bilhões de dólares. Uma lucratividade tão alta que fez com que clubes de
futebol vissem neles uma importante ferramenta para atrair não só mais
dinheiro, como jovens que possam fidelizar a sua marca.
O
grande debate não é a inclusão do Breakdancing, mas sim se há um
público considerável para que ele tenha seu interesse em alta e consiga
atrair interessados em assisti-lo durante as Olimpíadas. Segundo os
organizadores, sim. O Surto Olímpico mostrou em reportagem que 79% dos
franceses têm uma opinião positiva sobre os quatro esportes propostos. E
o número aumenta para 89% entre pessoas de 15 a 25 anos.
Deu
para perceber em qual faixa etária há uma aprovação maior? E é nela que
mora o enfoque para atrair novos consumidores e espectadores. Ainda que
seja um assunto delicado e que dê calafrios nos mais tradicionais
amantes do esporte, não pode ser tratado como algo que esteja ferindo os
Jogos Olímpicos em sua concepção. O mundo vem mudando. As práticas
esportivas também. Adapte-se ou morra.
A
Comissão do Programa do Comitê Olímpico Internacional (COI) discutirá a
proposta para o acréscimo dos quatro novos esportes, antes que ele seja
submetido à Junta Executiva, em sua próxima reunião, de 26 a 28 de
março. Mas mesmo faltando cinco anos para os Jogos de Paris 2024, muitos
debates e polêmicas estarão no centro das questões.
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