Por Bruno Guedes
Após
três vices - 1967, 2011 e 2013 - a Dinamarca finalmente conseguiu o tão
sonhado título do Campeonato Mundial de Handebol Masculino. Invicto e
em casa. A conquista veio após derrotar a Noruega, seleção essa que pela
primeira vez alcança o pódio, por 31 a 22. O resultado abre uma nova
força campeã para o esporte, que tenta se popularizar mas esbarra no
centralizado mercado europeu.
Os dinamarqueses se juntam a 11 outros países vencedores do Mundial. A
maior campeã é a França, com seis troféus e 11 pódios ao todo. Os
franceses, campeões em 2017, desta vez ficaram com o terceiro lugar. Os
heróis de uma final histórica foram Rasmus Lauge, Mikkel Hansen e Mads
Mensah Larsen, que marcaram 10 gols. Hansen, aliás, terminou a
competição como artilheiro, com 72 tentos em 10 jogos.
O
título conquistado em casa pela Dinamarca tem uma importância ainda
maior, porque reacende a rivalidade escandinava, já que a vizinha Suécia
é uma das potências do handebol e a que segunda mais levou o caneco:
quatro no total. E aí entra a parte interessada por mais times campeões:
a Federação Internacional de Handebol (IHF).
O
handebol é um dos esportes mais populares da Europa. Na França, durante
muitos anos, chegou a ser o esporte favorito da população. Por vezes
rivalizando com o rugby, outra paixão nacional. Ambos foram superados
pelo futebol a partir do final da década de 80. Entretanto, após anos
com o esporte centralizado no continente europeu, é desejo da IHF (que
tem sede na Suíça) que ele alcance novos mercados mundo afora.
Atualmente
a IHF possui seis confederações e 209 federações internacionais. Desde
2000, quando o egípcio Hassan Moustafa foi eleito presidente da
entidade, o handebol passou a ser visto como algo que poderia atingir um
público maior. Entre os exemplos de sucesso para a empreitada estava
justamente a popularização feita pela FIFA com o futebol.
Quase
20 anos depois, ainda não há a massificação desejada e até muitas
críticas quanto a condução com pouca rotatividade presidencial. Antes
restritas ao continente europeu, os Mundiais passaram a rodar o mundo em
busca de visibilidade. Literalmente. De 1938 a 1995 todas as edições
Masculinas foram disputadas na Europa. Mas a partir de 1997, onde foi ao
Japão, o evento teve uma alternância maior, chegando à África em 1999
(Egito) e 2005 (Tunísia) e Oriente, em 2015 (Catar). A competição em
2021 voltará ao Egito.
Já
o Feminino só saiu do Velho Mundo em 1990, a décima edição, quando foi
disputado na Coreia do Sul. Voltou para a Europa e só viajou novamente
para a Ásia em 2009, na China. Em 2011 o Brasil sediou o torneio, que
volta ao Oriente em 2019, com o Japão. Estes países foram sempre vistos
como "em ascensão". O que de fato ocorreu com as brasileiras e
sul-coreanas. Por um período bastante razoável as duas seleções
conseguiram bater de frente com as potências.
Só
que foi insuficiente para quem almejava maior relevância mundial.
Apenas Brasil e Coreia do Sul, ambos no feminino, são países fora da
Europa que ganharam o Mundial. E juntando as duas categorias. Em Jogos
Olímpicos é pior ainda: apenas as coreanas alcançaram o topo de fora do
continente europeu, sendo bicampeãs 1988/1992.
O
trabalho ainda é longo e requer muitos outros projetos paralelos para
atingir a meta de popularização. Os sucessos brasileiros e coreanos só
foram possíveis graças a importação de treinadores e intercâmbios. E é a
partir desta prática que o esporte consegue sair do seu nicho.
Metodologia e práticas específicas são os grandes formadores de atletas.
Em
estudo feito em 2015 pelo Ministério do Esporte, o Diagnóstico Nacional
do Esporte (Diesporte), como era de se esperar, o futebol era praticado
por 59,8% dos estudantes. O Handebol aparece em décimo, com 1,6% dos
alunos, sendo a esmagadora maioria por meninas. Porém aí começam os
problemas: a falta de incentivo e continuidade esportiva. Os números
mostraram que a maior prática acontece de 16 a 24 anos ocupando 45% dos
envolvidos na pesquisa, seguidos por 26,8% que abandonaram até os 15
anos de idade.
O
trabalho é muito maior que apenas incentivar. Precisa-se de
metodologias e emprego cada vez maior de um lastro grande de incentivo
ao esporte. Principalmente o suporte aos praticantes em fases de
desenvolvimento. Cabe a todos os amantes cobrar. Não só pelos seus times
favoritos, mas por uma vontade maior de expansão esportiva.
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