A
cada quatro anos ela aparece e todo o atleta olímpico sonha com este
momento. Não. Não estamos falando das Olimpíadas. Trata-se da famosa
frase "um feito digno de Hollywood". O esporte deu uma pausa para as
festas de finais de ano. Mas suas glórias e seus personagens continuam
conquistando gerações através de um outro meio tão fascinante quanto os
seus recordes: o cinema.
A
sétima arte e o esporte são duas paixões que levam milhões aos seus
espaços. Não por acaso sempre estão se entrelaçando e rendem ótimos
roteiros com contornos épicos. Sejam nas disputas, sejam nas telonas.
Por isso o Surto Afora resolveu fazer uma seleção com cinco filmes
baseados em acontecimentos reais para assistir e cujos temas estão
diretamente ligados aos esportes olímpicos.
Por
conta da necessidade de adaptação cinematográfica, algumas adaptações
às histórias podem ter sido feitas. Contaremos em detalhes cada uma.
Confira nossa seleção:
1 - Desafio no Gelo (Miracle - 2004, dirigido por Gavin O'Connor)
O uso político do esporte sempre acompanhou os atletas. Já contamos na Coluna Surto Mundo Afora #11 como tais métodos capitalizaram em favor dos envolvidos. Mas foi nas Olimpíadas de Inverno de 1980, em Lake Placid, Nova Iorque, que um dos maiores eventos envolvendo Estados Unidos e União Soviética aconteceu.
Meses
antes do boicote capitalista aos Jogos de Moscou e em uma época onde as
duas Olimpíadas aconteciam no mesmo ano, o treinador Herb Brooks foi
encarregado de tentar o que muitos achavam impossível: derrotar a então
tetracampeã e quase imbatível União Soviética em um jogo de Hóquei no
Gelo. Vivido no cinema pelo ator Kurt Russell, Brooks, após a recusa de
dois outros técnicos, assume os EUA com seus métodos nada convencionais e
um grupo de jogadores totalmente desconhecidos.
A
trama de fato ocorreu. Herb selecionou 26 jovens atletas, onde 6 foram
cortados. Os escolhidos eram universitários que foram testados à
exaustão e com metodologias técnicas/táticas que mexeram na estrutura do
hóquei sobre o gelo. Até hoje são lembrados como exemplo de que não só
com apenas as grandes estrelas formam grandes times.
Em
uma equipe que se tornou ícone de patriotismo, o roteiro mostra como a
utilização política ocorreu em um momento de conturbada crise interna.
Mas o grande feito é a história em si, contada com contornos épicos.
Como de fato foram.
2 - Lucha - Driblando com o impossível (Lucha Jugando con lo imposible - 2016, dirigido por Ana Quiroga)
La Maga, A Messi de Saias, Maradona do Hóquei... apelidos não faltam para tentar adjetivar o talento de Luciana Aymar. Tanto que o caso se inverteu, Messi já foi chamado de "A Lucha do futebol". Oito vezes melhor do mundo e considerada a maior jogadora de todos os tempos, a argentina ganhou um documentário biográfico que narra sua trajetória no esporte.
Uma inspiração para todas as gerações a partir dos anos 2000, o filme mostra em detalhes seus dramas pessoais e acompanha jogo a jogo o seu último grande torneio, a Copa do Mundo de Hóquei na Grama de 2014. Além de entrevistas com suas ex-companheiras, as filmagens revelaram detalhes e segredos das equipes vencedoras (e que fracassaram) com a atleta.
Oriunda de Rosário, uma das maiores províncias da Argentina, até hoje Luciana é reverenciada mundo afora. Um dos momentos mais marcantes é a lembrança de quando a jogadora foi a porta-bandeira do seu país nas Olimpíadas de Londres, em 2012. Um feito inédito para o hóquei na grama, que aquela época, era tratado como uma das maiores chances de ouro. Mas acabou com a prata...
Aclamada como uma das melhores escolas cinematográfica da América Latina, com 21 indicações ao Oscar e 9 estatuetas, a produção foca em ser uma série documental e com precisão histórica. Disponível na Netflix.
3 - Ícaro (Icarus - 2017, dirigido por Bryan Fogel)
O diretor Bryan Fogel tinha a intenção de filmar a experiência pessoal como ciclista amador e tentar melhorar sua performance com o mesmo método ilegal empregado pelo Lance Armstrong. Só não esperava filmar o maior escândalo de doping da História. Foi assim que surgiu o vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2017.
Com
imagens reais e impressionantes, o diretor acabou criando um
documentário jornalístico que traz cenas históricas. Com ajuda do Dr.
Grigory Rodchenkov, um russo que tentaria aumentar seu rendimento
na Haute Route, tradicional corrida nos Alpes, Bryan dá de cara com um
roteiro digno de filme de espionagem. Repleto de revelações e segredos, é
uma produção fantástica.
Diante
das suas câmeras o esquema de doping da Rússia desmoronou. Pode-se
dizer que o mundo do esporte se divide entre antes e depois das
denúncias dos casos. E dentro do furacão, Fogel teve acesso a documentos
exclusivos, relatos impressionantes e um arquivo inestimável. Tão
surpreendente que parece ficção, mas é totalmente real. Disponível na
Netflix.
4 - O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball - 2011, dirigido por Bennett Miller)
Raros são os filmes que conseguem superar as suas versões em livros. Este é um. Estrelado por Brad Pitt, a produção conta a história real e revolucionária do time de beisebol Athletics Oakland, da MLB, e seu General Manager, o Billy Beane. Após perder suas três maiores estrelas e sem nenhum dinheiro para contratação, Beane aposta em uma solução ainda desconhecida e que muda a estrutura da Liga.
A
revolução causada no esporte foi tamanha que chegou a diversos outros
esportes, mas antes impactando diretamente todos os americanos, como
NBA, NFL etc. O roteiro é inspirado no livro "Moneyball", que também é
imprescindível para os apaixonados por esporte e que detalha de forma
profunda o esquema que abalou a estrutura de contratações esportivas
modernas.
Além
da ótima história, a película conseguiu também transformar os jargões e
regras do beisebol numa linguagem didática para os leigos. Uma dica é
assistí-lo com o Youtube por perto, para rever imagens reais das cenas
filmadas no longa.
Recebeu seis indicações ao Oscar em 2012, incluindo Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator para Brad.
5 - Raça (Race - 2016, por dirigido Stephen Hopkins)
Poucas imagens são tão emblemáticas no Século XX quanto o norte-americano Jesse Owens, um negro, conquistando medalha de ouro sob os olhos de Hitler. O que poucos conhecem são as adversidades que o velocista teve que superar para chegar até o Estádio Olímpico de Berlim e calar os Nazistas.
É
o que temos nesse filme que tentou reproduzir os anos anteriores ao
triunfo de Owens sobre o discurso supremacista em 1936. Do racismo em
seu próprio país ao encontrado na Alemanha Nazista. O atleta é vivido
por Stephan James, que precisou fazer uma preparação especial para
chegar ao porte físico do campeão olímpico.
Há
momentos de extrema dor. Não física, mas moral. Estamos falando de uma
América a década de 20/30, portanto três décadas antes das lutas sociais
e raciais que abalaram os Estados Unidos e levaram às conquistas de
direitos civis revolucionários.
Mesmo
não sendo uma obra-prima do cinema, o filme conta com uma produção
quase fiel ao feito histórico. Como a cena do salto triplo de Jesse, que
foi reproduzida com a máxima fidelidade possível.
Além
da narrativa, ele lança luz sobre o quanto sofrem os medalhistas até
chegarem ao pódio. Uma lenda agora eternizada nas telonas.
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