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Comitê Organizador dos Jogos do Rio dobrou dívida e fechou 2017 com R$ 267 milhões a pagar

O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016 fechou o exercício de 2017 com uma dívida de R$ 267,8 milhões, de acordo com um relatório de auditoria independente ao qual o site GloboEsporte.com teve acesso e divulgou no último domingo (18). O documento foi apresentado em reunião da direção da entidade com presidentes e emissários de confederações esportivas olímpicas no dia 9 de novembro. O encontro se deu em um hotel no aeroporto Santos Dumont, no Rio.

As confederações esportivas filiadas ao COB (Comitê Olímpico do Brasil) são associadas ao Comitê Rio 2016 e devem deliberar sobre as contas de ambos. Na assembleia do dia 9, cinco deles não aprovaram as contas do Rio 2016: duas (remo e tênis de mesa) as reprovaram e outras três (rúgbi, tiro com arco, levantamento de peso) se abstiveram de apreciá-las. As demais confederações presentes foram a favor da aprovação, em que pesem os problemas.

O passivo mais que dobrou em relação ao apresentado no balanço de 2016 - o débito, então, era de aproximadamente R$ 132,3 milhões. Como a entidade tinha R$ 12 milhões em ativos, encerrou o exercício 2017 com perda de R$ 255,7 milhões.

Vale lembrar que o comitê teve um orçamento superior a R$ 8 bilhões para realizar a primeira Olimpíada já feita na América do Sul.

O relatório feito pela empresa Lopes Machado apontou um quadro dramático da situação financeira do comitê - até pior do que se imaginava. Dos R$ 267,8 milhões do total da dívida, R$ 84,2 milhões são devidos a fornecedores e R$ 138,8 milhões a processos judiciais, chamados no documento de "provisão para contingências".

Ao todo, R$ 118 milhões dizem respeito a processos trabalhistas. Até agosto, o Comitê Rio 2016 era réu em 332 ações trabalhistas movidas por vários de seus antigos funcionários - ele chegou a ter quase 6.000 durante o ápice da operação dos Jogos.

O fornecedor que mais tem a receber é a multinacional francesa GL Events, que providenciou estruturas temporárias. Enquanto a dívida galopa, o caixa do Rio 2016 seca em ritmo alucinante. De acordo com o relatório de auditoria, ao final de 2017 o comitê tinha apenas R$ 12 milhões em ativos. Em comparação, em 2016 ele era R$ 164,4 milhões porque ainda havia verba de patrocínio a ser recebida. Ou seja, em um ano a entidade esvaziou os cofres em R$ 152 milhões, mas a dívida aumentou 100%.

"O comitê está insolvente. Não há mais dinheiro e, principalmente, não há mais fontes de recursos. Os patrocínios já foram recebidos e o dinheiro gasto. Por outro lado, a dívida continua enorme, principalmente com fornecedores e processos civis e trabalhistas" afirmou Jorge Eduardo Scarpin, professor de contabilidade na Concordia College, nos Estados Unidos, e professor licenciado na Universidade Federal do Paraná em entrevista ao site.

Scarpin analisou o relatório a pedido da reportagem e classificou a penúria financeira do Rio 2016 como "medonha". Ele ainda lançou um alerta sobre quem pagará a dívida milionária."Em caso de insolvência, de maneira geral os trabalhadores possuem preferência no recebimento. Entretanto, há quase R$ 120 milhões a serem pagos aos trabalhadores e menos de R$ 10 milhões em ativos para isso. A situação preocupa mais porque, em caso de não pagamento, os governos federal e estadual devem fazê-lo. Porém, considerando as finanças públicas, não dá para garantir que isso será feito" comentou Scarpin.

Quando o comitê foi fundado, após a escolha em 2009 do Rio como sede olímpica, caberia aos governos federal, estadual e municipal arcar com eventuais dívidas. Antes da Olimpíada, houve uma mudança em lei que tirou o governo federal da obrigação. Portanto, o governo do estado e a Prefeitura do Rio deveriam cobrir o rombo. Ambos, porém, vivem caos financeiro e já disseram que não devem ajudar a cobri-lo.

O Comitê Rio 2016 alega que a Prefeitura não honrou acordo, assinado em 2016, para que repassasse R$ 150 milhões a fim de realizar o evento. A maior parte do total não foi dada. Uma outra alternativa seria pedir ao COI (Comitê Olímpico Internacional) que saldasse os compromissos não honrados. A entidade internacional, até o momento, não demonstrou interesse em fazê-lo.

Os auditores também ressaltaram a falta de documentos comprobatórios fornecidos pelo comitê sobre suas situações fiscal e financeira. Por exemplo, eles assinalaram que o comitê possuía contas correntes em cinco bancos (HSBC, Bradesco, Citibank, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) a 31 de dezembro de 2017. Todas as contas tinham saldo zerado e, segundo a direção do comitê, estavam encerradas. Porém, os próprios auditores afirmam que não foi possível verificar se tais contas estavam inativas devido à falta de documentação do Rio 2016.

Faltam, além disso, prestações de contas de patrocínios e convênios que ajudaram a financiar o megaevento realizado entre agosto e setembro de 2016.

O Comitê Rio 2016 foi constituído com Carlos Arthur Nuzman como presidente. Ele acumulou os cargos de chefe da entidade e do COB até outubro de 2017, quando o dirigente foi preso pela Polícia Federal sob acusação de atuar como elo para compra de votos na eleição que fez do Rio sede dos Jogos Olímpicos. Atualmente, ele responde em liberdade após obter habeas corpus.

Depois da saída de Nuzman, o Rio 2016 passou a ser chefiado por Edson Menezes, que fazia parte de seu conselho de administração. Paulo Wanderley, que sucedeu a Nuzman no comando do COB, também não quis assumir o comitê, como rezava o estatuto. Ele fez uma manobra estatutária para se livrar da tarefa.

Em junho deste ano, a entidade contratou o ex-diretor executivo da Copa de 2014, Ricardo Trade, para a missão de saldar as dívidas e encerrar as atividades - por estatuto, o comitê precisa ser finalizado até 2023. Hoje, há apenas nove funcionários em atividade. Um dos contratados, advogado, cuida das ações trabalhistas. Outros dois analisam as ações dos ingressos e dos fornecedores. Também há profissionais de TI (tecnologia da informação) e uma secretária.

Em contato com a reportagem, Trade afirmou que o balanço de 2017 não pôde ser apresentado antes devido a "inconsistências" que foram resolvidas apenas recentemente. O dirigente também disse que o total da dívida atual - decorridos os 11 meses de 2018 - está para ser apurado. Ele espera tê-lo em mãos em um período de até dez dias e apresentá-lo a fornecedores, ao COI e esferas de governo para que possa haver negociação.

Trade esteve em Buenos Aires em outubro, durante os Jogos Olímpicos da Juventude, onde se encontrou com diretores do COI. Bernard Rajzman, que é membro no comitê internacional, também integrou a comitiva. De acordo com o CEO do Rio 2016, houve "conversas positivas".

"A conversa foi ótima, precisamos trabalhar em conjunto. Fui bem recebido e não recebi nenhum nariz torcido" afirmou.

A estratégia é fazer com que o COI pague a dívida ou então atue politicamente para ajudar a cobrar o governo e a prefeitura do Rio. Indagada pela reportagem, a Prefeitura do Rio afirmou que "não há repasses programados" para o Comitê Rio 2016. Já o governo do Estado do Rio de Janeiro disse que "espera que o Comitê cumpra integralmente os compromissos assumidos".


foto: getty images
Com informações de globoesporte.com

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