Nunca antes na Ginástica Artística, em mundiais e/ou Olimpíada, tínhamos sentido tanto o “gostinho” de medalhar entre as equipes. Brasil, hoje, passou bem perto disso. Antes de iniciar a final, era possível fazer as contas, somar uma queda daqui, outro desequilíbrio dali que tenha acontecido nas qualificatórias, e imaginar, ainda que de modo longínquo, que era possível o Brasil chegar ao pódio aparando as arestas da qualificatória. Isso foi sonhado no Rio/2016 também, tudo em razão de uma geração bastante talentosa e com potencial.
Mesmo diante da expectativa, a razão dizia que havia equipes superiores. Além do imbatível time americano, Rússia e China se colocavam à frente. Canadá e Japão talvez fossem disputas mais diretas. Contudo, a torcida era para que as meninas surpreendessem.
Na primeira rotação, a vilã das qualificatórias: a trave. Jade sofreu uma queda, ficou com 11.466. Rebecca e Flávia fizeram uma passagem regular, sem erros graves, garantindo um 13.300 e um 13.600, respectivamente. Resultado dentro do normal, mas superior às qualificatórias. Após a primeira rotação, Brasil estava em 7º.
Na segunda rotação, Brasil no solo. Jade fez uma boa apresentação, terminou com 13.100. Flávia Saraiva acertou sua série e garantiu um 13.800. Thaís Fidélis, finalista em Montreal/2017, neste aparelho, encerrou a apresentação do Brasil no exercício de solo com 13.233. Ao final da segunda rotação, com 78.499, Brasil se manteve em 7º, a uma distância superior a 2.000 para o pódio.
No salto, aparelho da 3ª rotação, o Brasil brilhou. Jade fez belos 14.600, Flavinha 14.433 e Rebecca 14.633. Totalizaram a terceira maior nota da disputa, com 43.666, e somados ao seu desempenho nos demais aparelhos, com 122.165, o Brasil foi parar na terceira posição, faltando apenas uma rotação para o final da competição.
Não deu outra. Não teve coração que não palpitasse com a chance da inédita medalha. O grande problema seria a China que, embora em 7º lugar nessa altura, iria para o salto, aparelho que dá melhores notas. Mesmo assim, a torcida pelo bronze era enorme e as chances reais.
Pela frente, as barras assimétricas. Há anos, o pior aparelho para a equipe brasileira. Só que a qualificatória mostrou ser possível fazer um bom trabalho. Brasil foi para o exerício sabendo de quanto precisaria para a medalha. A China estava com 162.396 após passar pelo Salto e as brasileiras teriam de fazer excelentes 40.232. Jade foi a primeira, fez uma apresentação simples e tirou apenas 12.233. Flávia Saraiva veio em seguida, mas erros pontuais lhe renderam a nota de 12.466. A Rebecca, melhor na quali entre as brasileiras, encerrou sua apresentação após um erro de transição entre as barras, ficando com 12.966, um ponto a menos do que fez nas qualificatórias. O sonho do bronze se tornou um amargo 7º lugar.
Não que o resultado tenha sido ruim, porque o Brasil demonstrou evolução em alguns aspectos, mas a proximidade da medalha deixou um sabor de "quero mais" e expôs mais uma vez a necessidade de aperfeiçoamento nas assimétricas e na trave, este último aparelho que já foi um dos melhores exercícios das brasileiras.
De toda forma, a performance confirmou o retorno do Brasil para o grupo das oito melhores equipes do planeta, o que o país não conseguia, em mundiais, desde 2007, além da certeza de que as meninas têm potencial para alçar voos mais altos em Stuttgart/2019, mundial da Alemanha, e consequentemente em Tóquio/2020.
AMERICANAS LIDERAM DE PONTA A PONTA
As americanas não perdem uma grande competição desde 2010. São quase dez anos de hegemonia e, agora, o quarto título consecutivo em mundiais, sexto de 2003 para os dias atuais.
Neste mundial, a diferença entre elas e o restante das equipes não pareceu diminuir. Ao contrário. As americanas, comandadas por Simone Biles, registraram 171.629 e não deram chances as demais, com quase 9 pontos na frente da Rússia.
Biles liderou a equipe dos EUA em todos os quatro aparelhos, alcançando as maiores pontuações do dia no Salto (15.500), Barras Assimétricas (14.866) e Solo (14.766). Ficou atrás de Karen Eaker na trave, com 13.733.
O treinador da equipe americana, Laurent Landi, elogiou os esforços das ginastas, treinadores e equipe dos EUA: "O espírito de equipe foi incrível".
Com a vitória das americanas, Simone Biles garantiu seu 11º título mundial. Se conquistar mais duas (grandes chances), será a primeira ginasta, entre homens e mulheres, a conquistar 13 títulos mundiais.
RÚSSIA RETORNA AO PÓDIO COM UMA PRATA
Depois de terminar fora do pódio em 2015, as ginastas russas tiveram o prazer de levar a prata com 162,863, igualando o desempenho nos Jogos Olímpicos do Rio/2016.
A equipe contou com grande performance da mamãe Aliya Mustafina, principalmente nas barras assimétricas, em que pontou com belo 14.500, ajudando as russas a se consolidarem em segundo lugar.
Esta é a quinta medalha de prata da equipe em mundiais e a oitava no total, desde 1994.
CHINESAS SE RECUPERAM E FICAM COM O BRONZE
A china sofreu várias quedas, mas se recuperou e garantiu o bronze.
Liu Tingting nas barras assimétricas, Zhang Nin e Chen Yile na trave sofreram quedas que colocaram em risco o desempenho chinês. Depois de uma rotação de baixa pontuação no Solo,parecia que a China não conseguiria manter o pódio conquistado em Nanning/2014 e em Glasgow/2015, com amedalhade prata.
No entanto, a China se beneficiou de erros de outras equipes na última rotação, inclusive do Brasil, como vimos, e garantiu a medalha de bronze.
O treinador Liang Chow disse estar extremamente orgulhoso de sua equipe e que ele sabia que tinha a chance de ainda ganhar uma medalha: "Eu sabia que havia uma chance, porque as outras equipes tinham que competir as barras assimétricas e na trave”, disse Chow, que retornou à China neste ano depois de quase 30 anos de treinamento nos Estados Unidos.
É a quarta medalha de bronze da equipe mundial para as mulheres chinesas e sua oitava medalha da equipe mundial desde 1981.
CLASSIFICAÇÃO FINAL
Após a apresentação de todas as equipes, Estados Unidos, Rússia e China garantiram vagas para a Olimpíada de Tóquio/2020, no Japão. As demais vão ter de esperar o mundial de Sturttgat (ALE/2019), para tentar outras 9 vagas.
Assim ficou a classificação final por equipes no feminino:
1) Estados Unidos: 171.629;
2) Rússia: 162.863
3) China: 162.396
4) Canadá: 161.644
5) França: 161.294
6) Japão: 160.262
7) Brasil: 159.830
8) Alemanha: 159.428
Amanhã a disputa é no individual geral masculino. O brasileiro Caio Souza vai para a disputa com a 9ª melhor nota entre os finalistas.
Foto: 1 e 3) FIG; 2) CBG.
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