A cena é corriqueira e poderia ser ambientada em qualquer cidade do
mundo. Um grupo de aproximadamente 12 senhores em um almoço regado à boa
comida e algumas risadas, relembrando os velhos tempos. No entanto, o
encontro se passa no Rio de Janeiro (RJ) e reúne alguns dos pioneiros do
voleibol brasileiro. Na tarde desta quarta-feira (15.08) os ex-atletas
que integraram a seleção masculina do Brasil da modalidade, nos Jogos
Olímpicos de Montreal 1976, se reuniram para comemorar os 42 anos da
disputa.
Da equipe presente na disputa, compareceram Antônio Moreno, Paulo
Petrelle, Jean Luc Rosat (Suíço), Alexandre Abeid, Bernard Rajzman,
Celso Kalache, Fernando de Ávila (Fernandão), Elói de Oliveira, Sérgio
Danilas e o técnico Carlos Souto. Outros nomes do elenco, mas que não
puderam participar são o técnico José Roberto Guimarães e William
Carvalho, além de Bebeto de Freitas, falecido em março deste ano.
Na época a modalidade ainda era uma novidade entre os esportes
olímpicos, era a quarta participação do vôlei nos Jogos. O Brasil ainda
estava longe de se tornar a potência com cinco ouros olímpicos, mas ali
já estava sendo semeada a filosofia e a paixão pelo esporte que começou a
aflorar na década seguinte. Em Montreal, três atletas da celebrada
“Geração de Prata”, estreavam em uma edição dos Jogos Olímpicos. Um
deles, Bernard Rajzman, hoje tem o nome do Hall da fama do voleibol, mas
em 1976 era apenas um jovem talento deslumbrado com as maravilhas da
vila olímpica.
“Aqui somos os ‘dinossauros’ do voleibol. Esta geração inspirou tudo
que aconteceu ao longo do tempo que resultou no que a modalidade é hoje
no Brasil. Eu era o mais jovem desta equipe e foi muito importante para
mim, minha primeira Olimpíada. Tinha sorvete e pizza de graça, foi
importante para dar disciplina (risos), e saber a hora de cada tarefa é
importante. Quando comecei no voleibol ninguém sabia exatamente o que
era o esporte. Este caminho que trilhamos tornou o voleibol o que ele é
hoje aqui no Brasil e referência no mundo”, contou o ex-atleta.
Outro estreante em Olimpíadas presente em Montreal, Fernandão
destacou a evolução da modalidade ao longo das últimas quatro décadas e
celebrou a oportunidade de encontrar os companheiros de seleção.
“Este encontro representa muita coisa, sempre é bom rever amigos.
Naquela época treinávamos, trabalhávamos e estudávamos, a estrutura era
muito pequena e amadora ainda. Na década de 1970 íamos para o Mundial e
Jogos Olímpicos apenas para participar, a partir dos anos 1980 começamos
a disputar medalhas. Em Montreal era a minha primeira experiência
olímpica. De lá para os dias atuais o Brasil evoluiu muito e deixou o
torcedor mal-acostumado com tantas conquistas”, disse Fernandão.
A reunião que colocou tantos craques ao redor da mesa foi ideia de
Celso Kalache, que também esteve em Munique 1972. O ex-jogador mora
atualmente nos Estados Unidos e quis replicar por aqui o hábito de
reencontros que é bastante disseminado por lá.
“Eu moro nos EUA, e lá eles têm uma cultura de promover estes
reencontros. Então quis passar isso para o nosso voleibol. Aproveitei
que vinha ao Brasil e tentei reunir o pessoal. É muito bacana a CBV nos
prestigiar. Montreal foi uma experiência espetacular, e foi o começo da
transformação que deixou os Jogos Olímpicos no modelo de negócio que tem
hoje. Naquela época fazíamos mais pelo amor ao esporte e o convívio do
grupo”, explicou Kalache.
Presente no encontro convidado pelos participantes, o diretor
executivo da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Radamés Lattari,
presenteou os envolvidos com camisas personalizadas do uniforme atual
da seleção masculina. Radamés confessou ter se espelhado em muitos dos
ex-atletas que estiveram no evento.
“A maioria dos que estão reunidos aqui hoje foram meus ídolos quando
comecei a jogar voleibol. Fico muito orgulhoso em estar aqui presente
representando a Confederação Brasileira de Voleibol. É de nosso
interesse preservar e celebrar a memória do voleibol. Fizemos uma
homenagem a todos os atletas que representaram o vôlei brasileiro em
Jogos Olímpicos, na véspera da Rio 2016, e agora vamos homenagear os dez
anos da conquista do ouro olímpico pela seleção feminina em Pequim.
Estas iniciativas servem para mostrar às novas gerações que nossa
modalidade se encontra no patamar de grande potência graças aos esforços
de pessoas que deram duro para colocar o voleibol na posição de
destaque que tem hoje”, destacou Radamés.
Outro personagem da história de Montreal, o técnico Carlos Souto, é
hoje presidente da Federação de Volley-Ball do Rio de Janeiro. O
dirigente relembrou como o Brasil ainda era visto como equipe de pouca
expressão do cenário mundial do vôlei, mas que, mesmo com as
dificuldades, aquela geração impulsionou a modalidade ao status atual.
“Naquela época o voleibol era romântico, não era profissionalizado.
Todos tinham seus compromissos, trabalhavam. Tínhamos dificuldade para
treinar, reunir o grupo que era basicamente divido entre Rio e São
Paulo. Antes de irmos para Montreal fizemos uma excursão pela Europa,
mas foi difícil conseguir adversário, pois muitos times não queriam
jogar conosco, pois não achavam que tínhamos qualidade suficiente.
Passamos pela França, Holanda, Hungria e Polônia, que era um adversário
muito acima de nossas possibilidades. Eles foram os primeiros a atacarem
do fundo. Esse grupo chegou em sétimo, mas foi o passo inicial para
chegar à medalha de 1984”, lembrou Souto.
Após o encontro fica a certeza de que o legado deixado por estes
senhores pavimentou o caminho de tantas vitórias que o torcedor
brasileiro se acostumou a celebras. Se hoje o vôlei no país tem a
relevância que tem muito devemos aos homens ali reunidos entre brindes e
risadas em uma tarde ensolarada do inverno carioca.
Foto: Divulgação
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