Por Juvenal Dias
Essas são as palavras da maior surpresa dos Jogos Olímpicos de PyeongChang. Dentre nove campeões que foram consagrados pela primeira, segunda ou até quarta vez no dia 8 da Olímpiada de inverno, não tem personagem como a tcheca Ester Ledecka. Não há história mais espetacular. As imagens dela incrédula, sem entender o que tinha acontecido ao final da prova dizem tudo. Mas vamos com calma, do princípio.
Imagine que você pratique dois esportes. Em um você é muito bom, no outro, não tem nenhum destaque. Mas para os dois você se classifica para um evento importante, nesse caso, o mais importante da sua vida. Obviamente que vai competir nos dois, mas você cria uma expectativa para aquele que vai melhor e pode brigar por medalhas. Mas de repente, ao participar do outro esporte, descobre que é a(o) nova(o) campeã(o) olímpico. Esta é a vida de Ester a parir de hoje. Ela é favorita a conquistar o ouro no Snowboard Paralelo Slalom Gigante. No entanto, foi a mais veloz do Esqui Alpino Super-G por um centésimo de segundo de diferença e levou o ouro de forma inesperada. Tanto que nesta prova, ela não consta entre as primeiras 40 colocadas do ranking!
As favoritas já tinham descido e marcado seu tempo, a austríaca Anna Veith já comemorava o bicampeonato da prova, toda a internet já postava o resultado das três primeiras, inclusive a contra oficial dos Jogos Olímpicos. Ester ainda desceria, seria a 26ª a percorrer o caminho. A atleta anterior a ela, a sueca Lisa Hoernblad tinha ficado a mais de um segundo e meio de diferença da líder. Mas tem certas coisas que não têm explicação. A descida de Ester começou com a primeira parcial acima do melhor tempo, depois fez 0.18 abaixo, caiu para 0.04. Nisso já tinha feito um salto levemente errado. Veio para a última parcial, na tangente da curva errou e aterrissou desequilibrada, mas não o suficiente para sair do caminho e a confirmação do tempo ao cruzar a linha: 1min21s11, um centésimo a menos que a marca anterior. Anna Veith ficou com a cara no chão. Ester não entendia a vibração do público, ficou parada. O cinegrafista avisou que era ela a campeã. Mesmo assim não acreditou, achou que havia algum erro de marcação ou que tinha se equivocado na passagem de algum portão. Se bobear, até agora, já passada a coletiva de imprensa, na qual foi com os óculos gigantes de competição no rosto, por alegar não estar preparada, nem ter maquiagem, passada a cerimônia de premiação, ela não deve estar acreditando. Que deliciosa história a ser contada.
Deixa uma lição preciosa de que a surpresa sempre pode aparecer no esporte, o imponderável está à espreita de uma brecha. Não pode menosprezar aqueles que nunca apresentaram um resultado significativo, a superação dos limites pessoais pode representar a superação de todas as marcas. E nunca deixar de acreditar em seu potencial, sempre buscar fazer o seu melhor. Vai que ele valha um ouro olímpico, não é mesmo?
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