O esporte de alto rendimento sempre revela boas histórias,
sejam aquelas dos grandes campeões e suas conquistas, das quebras de recordes
mundiais ou da tentativa de mortais atingirem o patamar de uma entidade olímpica
indo cada vez mais alto, rápido e forte. Mas o esporte de alto rendimento é,
principalmente, a tentativa de superar os próprios limites, sejam físicos,
estruturais ou mesmo da falta de apoio local.
E uma dessas histórias é a de Shiva Keshavan, um indiano do luge que
está classificado para as próximas Olimpíadas de Inverno. Provavelmente Shiva,
assim como nas outras edições, não vai conquistar uma medalha em Pyeongchang,
mas isso não o torna irrelevante. A cada quatro anos seu nome é ouvido mundialmente
por causa de sua história. Um atleta da Índia, onde não há um grande legado nos
esportes de forma geral, ainda mais em esportes de inverno, vai disputar as
Olimpíadas.
Quando Shiva entrar em seu treno e descer pela pista de
Pyeongchang, será seu sexto e provavelmente o último momento como atleta olímpico.
Nas outras cinco edições olímpicas ele nunca terminou em uma posição melhor do
que um 25º lugar, e não será dessa vez que entrará como favorito a um pódio.
Participar de 5 Olimpíadas e não passar nem sequer perto do pódio seria
frustrante para a maioria dos atletas, mas não para Keshavan.
Questionado se valeu a pena tanto sacrifício, o indiano não
hesita em dizer que sim. “Eu não fiz isso para outras pessoas olharem minha
história. Eu fiz isso por mim mesmo. Eu fiz isso para me superar e eu sinto que
percorrei um longo caminho. Até agora aprendi muito, percorri o mundo,
encontrei pessoas de todo o mundo e tive o privilégio de fazer isso. E, bem, se
outras pessoas me olham, eu sei que elas me respeitarão pelo que fiz ",
afirmou o atleta.
Keshavan disputou a etapa da Copa do Mundo das Nações na
quinta-feira em Monte Van Hoevenberg, mas um problema em seu trenó fez com que terminasse
apenas em 31º lugar entre 35 atletas. Com o resultado o indiano não poderá
disputara a próxima etapa neste final de semana, já que apenas os 15 melhores
avançaram. Entretanto, isso não o detém e nunca deteve.
A atitude de Keshavan tem inspirado outros atletas do luge
ao longo dos nãos, e caso se confirme o fim de sua jornada olímpica no próximo
ano, a comunidade do luge irá sentir a falta do atleta. "Realmente é como
uma comunidade que você é parte, e é algo que é realmente difícil de deixar ir.
É muito divertido viajar, competir em todo o mundo com um ótimo grupo de
pessoas", afirmou o líder da equipe de Luge dos estados Unidos, Chris
Mazdzer, um dos muitos no circuito da modalidade que considera Keshavan um bom
amigo.
Keshavan chama Lake Placid de quintal de sua casa, embora
esteja a 7.000 milhas da região do Himalaia, onde realmente fica a sua casa. Quando
ele terminou sua prova na noite de quinta-feira, os australianos e os
ucranianos foram os primeiros a lhe oferecer os parabéns. E na semana passada
Keshavan obteve ajuda de uma croata para poder competir. O trenó de Keshavan
quebrou e Daria Obratov acabou lhe oferecendo o dela. O equipamento era muito
pequeno para Keshavan, e não exatamente no contorno de seu corpo, mas ele o
usou de qualquer forma para terminar a corrida da Copa das Nações em Calgary,
no Canadá. Ter terminado a prova foi o que essencialmente o fez conquistar a
sua vaga em Pyeongchang.
Como o carinho dos colegas demonstra, Kashevan é considerado
integrante de várias equipes dos mais diversos países. "Embora
representemos diferentes países, o espírito olímpico não conhece
fronteiras", disse Obratov.
Keshavan fez sua estreia olímpica aos 16 anos em Nagano,
Japão, em 1998, quando alcançou o 28º. Desde então ele esteve presente em todas
as edições, alcançando resultados similares. Ele foi 33º colocado em Salt Lake
City em 2002, 25º em Turim 2006, 29º em Vancouver 2010 e 37º em Sochi. Ele
sempre esteve em algum lugar a cerca de 5 ou 10 segundos atrás dos medalhistas
de ouro na classificação final das Olimpíadas.
Agora seis vezes atleta olímpico, ele alcança um legado que
ele jamais imaginou atingir. "Eu dei o meu melhor. Talvez seja o motivo
pelo qual eu quero ser lembrado: ele deu o melhor e nunca desistiu",
afirmou Keshavan.
Foto: AP
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