Em comunicados enviados à ESPN, Grigory Rodchenkov,
ex-presidente do laboratório antidopagem de Moscou e que denunciou o esquema, disse
que uma punição "séria" deveria ser imposta, mas deixando a porta aberta
para que alguns atletas, comprovadamente limpos, pudessem participar dos Jogos
PyeongChang 2018. Segundo ele, os atletas "inocentes" devem "ser
capazes de competir pelo menos sob uma bandeira neutra". Mas, acrescentou
Rodchenkov, a Rússia precisa tomar "um primeiro passo sério para a reforma
(do sistema antidopagem) e a redenção". "Gostaria que a terça-feira
começasse com uma confissão e desculpas da Rússia, o que daria ao mundo a
confiança de que poderiam abraçar a verdade e a reforma. Este não é o caminho
russo. Se eles não são disciplinados a sério, eles estarão rindo do COI atrás
de portas fechadas e planejando sua próxima travessura", disse Rodchenkov
se referindo ao encontro do Conselho Executivo do COI de terça-feira que
definirá o futuro russo em Lausanne, na Suíça.
Rodchenkov mora atualmente nos Estados Unidos e está sob a
proteção das autoridades federais. O ex-diretor russo foi o principal arquiteto
de um esquema para ajudar os atletas russos a se doparem, adulterando
resultados e destruindo amostras positivos durante as Olimpíadas de Sochi 2014.
Ele fugiu da Rússia no final de 2015 depois de ter sido demitido da presidência
do laboratório em meio a intensa investigação sobre corrupção revelada por
denunciantes, relatos da mídia e uma investigação da Agência Mundial
Antidopagem (WADA), conduzida por Richard McLaren, e após a morte súbita de um
amigo e colega que anteriormente dirigia a Agência Antidopagem Russa (RUSADA).
Em entrevista ao The New York Times, ao lado de
investigadores, incluindo o professor de direito canadense Richard McLaren, autor
do relatório da WADA, Rodchenkov acusou diretamente os funcionários do
Ministério dos Esportes e da RUSADA de estarem envolvidos na conspiração. Segundo
ele, toda a trama foi facilitada pela FSB, Agência de Segurança da Rússia.
A credibilidade de Rodchenkov como testemunha legitima do
caso foi recentemente reforçada por uma decisão escrita emitida pela Comissão
Oswald do COI, montada pela entidade para investigar os casos de doping. Como
resultado das investigações da comissão, o COI retirou nos últimos dias várias
medalhas de atletas russos conquistadas em Sochi 2014, entre elas a do
esquiador Alexander Legkov. Além disso, o COI proibiu que os atletas punidos
possam disputar futuras edições olímpicas. "Qualquer erro que tenha
cometido no passado, o Dr. Rodchenkov dizia a verdade quando forneceu
explicações sobre o esquema de encobrimento que ele gerenciou", concluiu a
comissão.
Rodchenkov disse à ESPN querer que a Rússia "admita a
verdade do relatório da McLaren e dê acesso à WADA às amostras armazenadas e
aos dados de backups do laboratório. Isto é o que requer o roteiro (da AMA)".
A WADA decidiu recentemente continuar com a suspensão da
RUSADA, o que desencadeou uma suspensão contínua da Federação Internacional de
Atletismo (IAAF). Um dos pontos exigidos pela entidade máxima do atletismo para
readmitir a federação de atletismo russo é o recredenciamento da agência
antidopagem do país. O Comitê Paralímpico Internacional (IPC) disse que vai
proibir a participação da equipe russa nos Jogos Paralímpicos de Inverno,
marcados para o mês de março.
Foto: EPA
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