Por Bruno Guedes
Tênis
Após mais uma lesão, Rafael Nadal abandonou o Masters 1000 de Paris
e não conseguiu todo seu rendimento no ATP Finals, onde os melhores do
mundo disputam o último título da temporada. O problema levantou,
novamente, a questão de o quanto o esporte de alto rendimento atual está
acima do limite de esforço humano. Além dele, diversos outros jogadores
perderam importantes competições ou temporadas inteiras devido a
lesões. Caso atualmente do Djokovic que está lesionado desde julho e
perdeu o resto do ano, Roger Federer que perdeu as Olimpíadas e o
restante de 2016 e, o mais emblemático de todos, Martín del Potro, que
quase abandonou a carreira por causa de um gravíssimo problema no punho.
Há
um debate muito grande entre médicos, fisiologistas e atletas sobre até
onde vai ou pode ir o limite físico dos competidores. E isso não se
restringe ao tênis, é unânime que o esporte de alto rendimento deixou de
ser sinônimo de saúde para ser algo quase que doloroso, penoso, para o
esportista. Diversas são as buscas para compreender esse aumento das
lesões, mesmo com o avanço cada vez maior da tecnologia, medicina e os
tratamentos. Ou ainda, os materiais cada vez mais adaptados a cada
biotipo, proporcionando a extração máxima de perfeição. Se por um lado
tudo isso ampliou carreiras e possibilidades, segundos muitos
especialistas, um dos motivos dos problemas são exatamente esses:
ampliação dos tratamentos e acesso a cada vez mais a exploração acima do
limite.
Obviamente,
essa visão não é contrária ao desenvolvimento medicinal e suas
ferramentas de apoio ao ser humano, mas sim sobre o quanto de exigência
se faz a um atleta por conta disso. A lógica é simples: quanto mais
maximizado o desempenho dos atletas, mas ele fica propenso à lesão. Além
de calendários amplos e jogos cada vez mais intensos, treinamentos
acima do limite em busca da perfeição e altas doses de pressão
psicológica, que pioram esse quadro de propensão. A cada vez que a corda
do acesso às novas formas de tratamento se estica, mais o corpo humano
passa a ser exigido na prática esportiva. Quanto mais longe os atletas
do topo vão, mais longe os demais também chegam se esforçam para chegar
nele.
Um
esporte símbolo disso é o futebol, que agora busca cada vez mais
práticas que visem "maltratar" menos o corpo do jogador, como a troca na
rotina de treinos por algo que se aproxime do praticado. Já há diversos
preparadores físicos, em diversas modalidades, que estão inovando suas
metodologias. Na NBA, onde há um alto índice de lesões nos joelhos e
parte traseira dos pés, a liga se uniu a GE Healthcare para promover
pesquisas em medicina ortopédica e esportiva. Além do mapeamento
individual e onde há mais propensão às lesões, cargas específicas são
delegadas, não explorando áreas potencialmente atingíveis.
A
busca pelo equilíbrio não encontrado acaba desaguando na ilegalidade de
se dopar, caso da Rússia banida em algumas modalidades olímpicas de
verão e, possivelmente, de diversas da inverno, em 2018. Com o corpo
reagindo negativamente à máxima exigência, o doping acabou virando uma
solução não permitida para mascarar resultados e dores. Mas totalmente
ao contrário da forma legal de se atingir todo o potencial, essas drogas
encurtam carreiras e pioram a saúde do atleta ao longo dos anos. É o
oposto do que um real competidor busca, atingir o limite. É atingir o
ilegal.
Não
há como parar essa máquina esportiva. Muito menos os próprios atletas
aceitar esse "corte" da exploração do seu limite. Só com o
desenvolvimento e as adaptações que ele causa, novas possibilidades são
abertas. Aos fãs do esporte, só nos resta torcer para que cada vez menos
haja tantos lesionados e ídolos fora de competições.
Foto: Action Images
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