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Coluna Lógos Olympikus - Momento de atenção com o futebol feminino

Por Juvenal Dias

No último dia 22, o futebol tem ocupado os noticiários com uma demissão de técnico. Não seria novidade se fosse o futebol profissional masculino. Mas trata-se da exclusão da treinadora Emily Lima da Seleção feminina. Desde então uma sequência de fatos vem ocorrendo que indica algo de errado no futebol deste gênero. Volta o técnico Vadão, que estava no comando até a Olimpíada do Rio e que não conseguiu uma medalha jogando em casa, perdeu a semifinal nos pênaltis para a Suécia e o bronze para o Canadá. Cinco jogadoras pediram para não ser mais convocadas, entre elas a atacante Cristiane, talvez sendo a maior expoente delas. Afinal o que acontece com o lado feminino do maior esporte do planeta na terra mais “fértil” para sua prática?

Tudo parece um tanto quanto obscuro e sem perspectiva de resposta. A demissão da técnica foi pela falta de resultados contundentes ou por ser a primeira mulher no cargo? Por que ela ficou apenas dez meses e não foi creditado um projeto de longo prazo para ela? Se foi por falta de resultados, o que dizer do técnico antecessor que regressou? O que motiva algumas das principais jogadoras a estarem protestando pedindo para não ser convocadas? Por que umas aderiram a causa e outros nomes, como o da capitã Marta, não se pronunciam? Afinal, a CBF se preocupa com o futebol feminino de fato, ou há outros interesses para que a Seleção sirva de vitrine para venda de jogadoras, com uma porcentagem destinada à entidade, e a constatação da sua existência é somente em Copa do Mundo e Jogos Olímpicos?

Uma vez estava fazendo uma reportagem sobre a jogadora Formiga, cobrindo sua aposentadoria da Seleção, e me disseram que tinha jogadoras que eram convocadas apenas por sua beleza física, que teriam outras melhores em suas posições. Não sei o quanto disso é verdade, nunca será provado uma escalação que é completamente subjetiva. Se chegou a esse ponto, temos que começar tudo de novo. Emily não tinha esse quesito (se é que alguém tem) e procurava fazer um trabalho diferenciado, visando às novas jogadoras, pensando em um time se depender de sua principal estrela, que já não brilha como antes há algum tempo. Seu começo de trabalho foi animador com a conquista do torneio internacional em Manaus. Logo, natural de todo treinador é querer pegar adversários mais fortes para medir seu potencial e evoluir aspectos táticos do jogo. Nisso, surgiu uma sequência de resultados ruins e a cultura do resultado fez sua vítima mais uma vez.

Nós que gostamos de esportes olímpicos temos certa repulsa de ver o futebol das mulheres ser administrado por um presidente da entidade que é sabidamente envolvido com casos de corrupção e não pode sair do seu país para não ser preso pela Interpol. Um cara desse não deveria ter poder de decidir o futuro da Seleção feminina, sequer considerou a carta assinada pelas atletas, que pedia a manutenção da comandante. A gestão poderia ser subordinada à Confederação, mas agir de forma independente, com pessoas dedicadas ao desenvolvimento do gênero no esporte. Emily poderia até não trazer um resultado expressivo nas principais competições, mas o voto de confiança deveria durar mais tempo.

Gostaria de entender melhor porque algumas jogadoras abdicaram do sonho de vestir a amarelinha protestando a favor da treinadora. Será que era tão boa assim ou simplesmente entendia melhor o vestiário e todas as nuances que muitas mulheres reunidas exige? Haverá mais jogadoras que irão aderir ao protesto?

Uma pessoa que fica entre a cruz e a espada é a principal referência do time. Marta teve um pronunciamento protocolar até agora. Compreensível pela posição que representa e pelo status alcançado. Mas justamente por esse patamar, acredito que ela deveria se posicionar de forma mais contundente para um lado ou para o outro. É uma discussão muito importante e que envolve o futuro de muita gente, inclusive o declínio ou acréscimo de possibilidades de um título expressivo. O que me parece é que, apesar de haver grandes jogadoras, que estão sendo exportadas para diversos times mundo a fora, não temos um elenco forte o suficiente para repetir as pratas olímpicas de 2004 e 2008. Nesta questão também ela deveria se pronunciar. O que ela enxerga que está sendo feito para que a Seleção alcance novamente algum degrau olímpico.

O fato é que com Emily ou Vadão, o Brasil terá um torneio a ser disputado e seria surpreendido caso vencesse. O momento, apesar de aparentar uma crise, um racha, serve para trazer à tona da discussão uma vertente que fica esquecida de tempos em tempos pela maioria das pessoas. Infelizmente a cultura futebolística atinge o lado feminino na sua pior face: apenas resultados interessam, não importa como se chegue neles.

foto: CBF

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