Um dos principais membros do Comitê olímpico Internacional
(COI) quer a que a instituição passe a atuar com “mais dentes” após a operação
Lava Jato, no Brasil, ter atingido a base do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e
revelado um suposto esquema para a compra de votos de membros do COI para a
eleição do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Dick Pound
disse que o corpo olímpico foi "atingido após o golpe nos olhos do
mundo".
A operação batizada de “Unfair Play” foi desencadeada pela
Polícia Federal na última semana e investiga o possível pagamento de propina
para membros do COI para que a candidatura brasileira fosse a vencedora. A operação,
que culminou com o presidente do COB e Comitê Rio 2016, Carlos Nunzman, sendo
interrogado pela PF acontece às vésperas da próxima reunião do COI que será
realizada em Lima, no Peru, e que entre outros temas, deverá apontar
oficialmente Paris e Los Angeles como as próximas sedes olímpicas.
O canadense Dick Pound, um dos membros mais antigos do COI,
chamou o escândalo em torno de Nuzman de “uma bagunça” e sugeriu que o
brasileiro de veria ser convidado a desistir de sua participação no COI. "Precisamos de mais dentes nisso, porque
estamos sendo atingidos e atingidos novamente aos olhos do mundo e não somos
vistos fazendo nada sobre isso. Na verdade, provavelmente não estamos fazendo
muito além de esperar para ver se outra pessoa nos diz que um dos nossos
membros está fora, ou vários membros estão fora do jogo", afirmou Pound.
O COI adota uma postura de cautela em relação ao caso e
prefere esperar ser totalmente informado antes de poder tomar qualquer atitude
em relação a Nuzman e ao suposto caso de compra de votos. "O COI está
muito comprometido com a integridade de nossa organização. É por isso que
estamos levando isso a sério e estamos observando de perto. O COI tomará todas
as medidas e sanções adequadas em que sejam fornecidas provas", afirmou o
presidente do COI, Thomas Bach.
Nuzman foi detido pela Polícia Federal na terça-feira, 5 de
setembro, no Rio de Janeiro e foi levado para depor sobre o caso. Autoridades
francesas e brasileiras afirmam que o presidente do COB era a figura central na
captação e transferência para uma conta no Caribe de 2 milhões de dólares para
o senegalês Lamine Diack. Lamine é ex-presidente da Associação Internacional
das Federações de Atletismo (IAAF) e filho de Papa Massata Diack, um antigo membro
do COI e que exerceu uma grande força no bloco africano do COI.
O caso também atinge outro membro do COI, o atleta da
Namíbia e quatro vezes medalhista olímpico, Frank Fredericks, já afastado
anteriormente. O ex-velocista teria recebido a quantia de 300 mil dólares de
Diack no dia da eleição do Rio de Janeiro pelo trabalho legítimo de
consultoria. Fredericks, que já havia perdido seu da equipe de inspeção do COI
nas cidades de Paris e Los Angeles, negou as acusações. O COI disse que
respeita a “presunção de inocência” de Fredericks.
A PF informou que foram apreendidos cerca de 400 mil reais
na casa de Nuzman, divididos em moedas de 5 países diferentes. Os passaportes
de Nuzman também foram apreendidos. Pound
disse que houve relatórios consistentes de que Nuzman era um líder pobre na
organização das Olimpíadas do Rio, que se tornou fértil em problemas
organizacionais e déficits orçamentários. Ele disse que não houve relatos de
corrupção financeira ligada ao brasileiro. “Havia claramente todo tipo de
queixas sobre ele, sobre sua conduta saindo do Brasil e indo para o COI. Lembro-me
porque fui informado sobre alguns deles. Então, o fato de haver fumaça ou
preocupação, deve ter sido bastante óbvio”, afirmou o membro do COI. Pound
disse ainda que muitos dos problemas com os Jogos do Rio "não foram
resolvidos por ele (Nuzman), mas criados por ele".
Um ano após os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro a cidade
enfrenta problemas com o legado do evento. A maioria dos locais esportivos
seguem sem ser utilizados, se tornando “elefantes brancos”. Estudos apontam que
foram fastos mais de 20 bilhões de dólares entre dinheiro público e privado
para a realização dos jogos.
Ex-chefe de marketing do COI e que trabalhou nos estágios
iniciais da Rio 2016, Michael Payne disse que poucos estão realmente surpresos
com o envolvimento de Nuzman. Agora consultor do COI, Payne afirmou que não
tinha nenhuma sugestão de corrupção na ocasião e que os atuais problemas serão difíceis
de serem superados pelo COI. "Será um pouco difícil para o COI avançar no
legado do Rio, porque você continua sendo trazido de volta", disse Payne.
Foto: Pablo Jacob/O Globo
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