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SurtoRetrô do Rio 2016 - O histórico 18 de Agosto

Nada como um dia após o outro, afinal, isso é Jogos Olímpicos. Entre dias marcantes por bons e maus momentos, aquela quinta-feira ensolarada - que terminaria chuvosa, típico do Rio - entrava para a história do esporte olímpico brasileiro. Sob os pés do Cristo Redentor, três cartões postais da cidade maravilhosa viram o Brasil conquistar pela primeira vez duas medalhas de ouro em um mesmo dia olímpico, dia esse, que ainda teria uma segunda medalha de Isaquias Queiroz.


18 de Agosto de 2016.

O dia começou na famosa Lagoa Rodrigo de Freitas. Se tem uma coisa que marcará senpre os atletas do remo e canoagem durante os Jogos Rio 2016 é que, ao contrário do que eventualmente acontece, nessa edição dos Jogos eles, que sempre competem em lugares afastados, estavam desta vez no coração da cidade. Ali, o público brasileiro mais uma vez pode presenciar o irreverente e animado Isaquias Queiroz conquistando sua segunda medalha olímpica, igualando nomes como Gustavo Borges, Guilherme Paraense e César Cielo que também foram ao pódio duas vezes em uma mesma edição dos Jogos Olímpicos. O bronze veio na prova mais rapida da canoagem, C1 200, e foi depois de muita expectativa e análise dos árbitros. O00 baiano não havia largado bem e depois de uma boa recuperação chegou praticamente empatado com alguns atletas, se esforçando tanto pra chegar primeiro que até caiu do barco e foi parar na água. Na água, meio desacreditado de que tinha conseguido pois estava muito atrás durante a prova, comemorou e gritou muito a confirmação de mais uma conquista para sua ainda iniciante carreira. O ouro ficou com o ucraniano Yuri Cheban


A Baía de Guanabara, talvez o maior cartão postal do Rio de Janeiro, recebia outra modalidade náutica que também sempre ficava longe do centro da festa, a vela. Esporte que sempre trouxe alegrias e medalhas ao Brasil não poderia sair de maõs abanando pela primeira vez desde 1992, não em casa. Após dois quartos lugares do grande Robert Scheidt e do jovem Jorge Zarif, coube a Martine Grael e Kahena Kunze, naclasse 49er FX e última disputa de medalhas da modalidade nos Jogos do Rio a responsabilidade de manter a tradição do Brasil no pódio. Pódios aliás, que Martine presencia desde pequena, pois é membro de uma das famílias mais vitoriosas da vela mundial, os Grael. Seu pai, Torben (ouro em Atlanta-96 e Atenas-04, prata em Los Angeles-84 e bronze em Seul-88 e Sydney-00) e seu tio, Lars (bronze em Seul-88 e Atlanta-96) estavam entre os torcedores que lotaram a Praia do Flamengo para ver a decisiva regata que poderia dar desde o ouro até um quarto lugar para a dupla da casa. Brasileiras, neozelandesas, dinamarquesas e espanholas entraram na regata da medalha praticamente empatadas com os pontos conquistados ao longo dos dias de disputas, sendo que quem chegasse na frente, levaria. Aquela praia era, literealmente o quintal de casa de Martine e Kahena, jovens criadas no Rio e que sempre velejavam por ali, portanto, conheciam como ninguém cada ponto daquela área. Talvez por isso, atrás da Nova Zelândia até a última volta, resolveram arriscar, indo na direção oposta a que todas as outras nove competidoras seguiam. Provavelmente, os milhares de brasileiros que viram a prova pela TV naquele dia descobriram que a vela era sim muito emocionante. Na última volta e acertando a manobra feita pela esquerda, a dupla brasileira passou da prata para o ouro ao ultrapassar as neozelandesas e assumir a ponta, seguidas de muito perto pela dupla adversária. Se dois segundos no atletismo ou na natação é muita coisa, na vela é algo mínimo, uma diferença pequena, mas que como nas outras modalidades, pode definir quem fica em cada posição do pódio e, como de costume com muita emoção, Martine Grael e Kahena Kunze conquistavam o sétimo ouro olímpico da vela brasileira, o primeiro entre as mulheres e o terceiro entre os Grael. Se jogaram no mar junto com seus familiares, tiveram o barco erguido na areia por torcedores, amigos e voluntários enlouquecidos e quebraram o protocolo se jogando na galara após subirem ao pódio com vista pra baía, com certeza um dos mais lindos da história olímpica. As neozelandesas Alex Maloney e Molly Meech terminaram realmente com a prata, seguidas por Jena Mae Hansen e Katya Salskov Iversen da Dinamarca.


Nas areias da famosa Praia de Copacabana, uma chuva forte banhava a final do vôlei de praia masculino entre Brasil x Italia, rivalidade tradicional nas quadras mas que desta vez acontecia nas areias e frente ao mar. De um lado, os atuais campeões mundiais, Alison e Bruno Schmidt, que mantinham uma tradição entre os homens de uma modalidade que só ficou de fora da final olímpica em sua estreia, nos Jogos de Atlanta-96. Do outro, os italianos Nicolai e Lupo, surpresas da competição, que só de estarem ali já haviam feito história garantindo a primeira medalha olímpica de seu país no vôlei de praia. Não fosse só isso, os brasileiros queriam trazer de volta para o país o ouro que não vinha desde Ricardo/Emanuel em Atenas 2004. Alison - que em Londres jogava justamente com Emanuel - queria se tornar campeão olímpico após a oportunidade perdida na final dos Jogos de quatro anos atrás, mas, ele e Bruno, enfrentariam uma dupla italiana com gana de conquistar a primeira dourada do tradicional voleibol italiano, que apesar de vitorioso, nunca subiu no topo do pódio olímpico nem a quadra, tampouco na praia. O resultado da soma desses fatores foi um jogo nervoso debaixo de uma tempestade. Os italianos, talvez mais relaxados, começaram abrindo logo 5 x 1 no primeiro set, aproveitando de um nervosismo inicial dos brasileiros que, com algumas trocas de bolas depois, foram se encontrando e igualando o jogo. O que os italianos não contavam é que do outro lado na quadra jogavam contra Alison, apelidado de "mamute"por sua força no ataque e seu saque potente, somado a Bruno Schmidt, que superou às críticas e desconfiansas impostas em toda a sua carreira por ter "só" 1.85 de altura se tornando um dos jogadores mais técnicos e talentosos do mundo. Com parciais de  21/19 e 21/17 o Brasil voltava ao topo do vôlei de praia depois de dez anos. Os jogadores correram, literalmente, para os braços de uma torcida vestida de verde, amarelo e capas de chuva. Bruno, que se tornava o jogador mais baixo a se consagrar campeão olímpico no vôlei de praia, também possui, assim como Martine Grael, uma família no meio do esporte, pois é sobrinho do ex jogador de basquete Oscar "Mão Santa" Schmidt e do apresentador se programas esportivos da Rede Globo Tadeu Schmidt.


Já passava da meia noite quando o juiz apitou e o ouro foi para os brasileiros, mas como a programação fazia parte deste incrível dia 18, podemos sim dizer que foi, em termo de medalhas, o dia mais importante da história olímpica brasileira.

No atletismo o jamaicano Usain Bolt com 19s78, se tornou tricampeão olímpico dos 200 metros rasos, assim como já havia feito nos 100. O Rio teve a honra de presenciar a última prova olímpica individual do jamaicano, que ainda correria o revezamento. Desde sua estreia em Pequim, venceu até então todas as provas individuais que disputou. A prata foi para o canadense Andre DeGrasse (que desta vez só trocou sorrisos e risadas com Bolt no final da prova) e o bronze para o francês Christoph Lamaitre. Os Estados Unidos conquistaram três medalhas de ouro naquele dia na modalidade. Um deles foi para o fenômeno Ashton Eaton que conquistava o bicampeonato no decatlo. Teve ainda Delilah Mohammed vencendo os 400 com barreiras e Ryan Crouser que ficou com o ouro no arremesso de peso masculino, prova contou com uma excelente participação do brasileiro Darlan Romani, terminando em quinto. O único ouro do dia que não ficou no continente americano foi para Sara Kolak, da Croácia, que venceu o lançamento de dardo.

Foi um dia de famílias comemorarem títulos no Rio 2016. Além dos triunfos das famosas famílias Grael e Schmidt, os Brownlee puderam comemorar demais na final do triatlo masculino. Repetindo o sucesso de 2012, os irmãos britânicos Alistar e Jonathan, fizeram uma dobradinha fraterna no pódio. Alistar se tornava bicampeão olímpico e Jonathan subia uma posição em relação a Londres-2012. Bronze para o sul-africano Henri Schoemann

Na luta olímpica feminina duas americanas protagonizaram, de formas opostas, surpresas enormes naquele dia. Na categoria até 75 kilos, Adeline Gray, que não perdia uma só luta desde quando foi campeã mundial em 2014 e super favorita da categoria perdia para Vasiliia Marsaliuk de Belarus nas quartas de final, mesma fase que a brasileira Aline Silva (maior esperança de medalha do esporte no país) perdia para a russa Ekaterina Bukina. Como na luta olímpica para voltar na repescagem é necessário que o vencedor da luta chegue até a final, o que não ocorreu com as adversárias  de Adeline e Aline, ambas foram eliminadas e o ouro acabou com a canadense Erica Wiebe. Se por um lado Adeline decepcionou as expectativas de ouro dos Estados Unidos, por outro, sua compatriota Helen Maroulis deixou uma arena inteira surpresa com o seu. A vitória na final veio justamente contra a japonesa Saori Yoshida, um dos maiores ícones do esporte mundial, dona de um tricampeonato olímpico e um decacampeaonato mundial. A derrota sofrida ali pela japonesa era a terceira em sua vitoriosa carreira. O Japão, maior potência da luta feminina, saiu ainda com um ouro na categoria -63kg com Risato Kawai.

Se "Las Leonas" foram, de forma surpreendente, eliminadas nas quartas de final do hóquei sobre a grama feminino, "Los Leones" fizeram história naquela quinta-feira. Com vitória de 4 x 2 sobre a Bélgica venciam a final da masculina e conquistavam o primeiro ouro da história do hóquei sobre a grama argentino. O tradicional esporte para os hermanos, bateu na trave quatro vezes seguidas com duas pratas e dois bronzes entre as mulheres. O ouro conquistado ali era justamente a primeira medalha do país entre os homens.

O taekowondo viveu momentos de história naquela noite. No feminino, em uma categoria (-57kg) vencida por Jade Jones da Grã Bretanha, o bronze chamou mais a atenção  por ser histórico. A iraniana Kimia Alizadeh, que conquistou a terceira colocação, se tornou a primeira mulher iraniana a conseguir uma medalha em Jogos Olímpicos, pouco se levarmos em consideração que os homens iranianos conquistaram 68 pódios, porém, se tratando de um país em que as mulheres sequer podem assistir competições esportivas, Alizadeh conquistou um feito enorme. O sobrenome do taekwondo é ineditismo. Na categoria masculina até 68kg, Ahmad Abughaush da Jordânia se tornava o primeiro campeão olímpico/ medalhista olímpico da história do país ao vencer o russo Alexey Denisenko na final. Jovem de apenas 20 anos, Abughaush conquistava sua primeira medalha importante a nível internacional, justamente a primera da história de seu país.

História também fez a jovem chinesa Ren Qian. Nascida em 20 de fevereiro de 2001, se tornava ali a primeira medalhista olímpica nascida no século XXI na história dos Jogos. Com apenas 15 anos, venceu a final da plataforma de 10 metros dos Saltos Ornamentais.

Sobre esse dia histórico nada melhor que receber um dos melhores jornalistas esportivos do país. Principal nome dos Esportes Olímpico no Globo Esporte, Guilherme Costa conta pra gente como foi aquele histórico dia pra ele, que estava comentando a regata de Martine e Kahena rumo ao ouro.

Por Guilherme Costa



O dia 18 de agosto foi o único da Olimpiada em que o Brasil conquistou duas medalhas de ouro. Na parte da tarde, Martine Grael e Kahena Kunze levaram o título da vela e, quase na madrugada, Bruno e Alison ganharam o vôlei de praia.


Aqui nesse texto vou focar na medalha da vela, não desmerecendo o vôlei de praia. É que o título de Bruno e Alison vi na TV de um bar, como uma chuva danada, voltando do Engenhão, em que acompanhei um dia de provas do atletismo. O pódio da vela narrei ao vivo no site do globoesporte.com

O mais legal da medalha da disputa do último dia da vela é que não precisava fazer conta. Tinham dez barcos na final, quatro lutavam pelas medalhas. Quem chegasse na frente entre Brasil, Espanha, Dinamarca e Nova Zelândia ficaria com ouro. O segundo prata, o terceiro bronze e o quarto... Bom, o quarto ia ficar com um gosto amargo para sempre.  Sem essa de abrir a calculadora e começar "tem que colocar dois barcos de vantagem para um, três para outro, desde que o fulano não fique em tal posição", que nem nas outras finais da vela. Não. Era simples. 

Nas transmissões do site, sempre tínhamos dois apresentadores bem humorados, que não eram exatamente especialistas no esporte, e eu, que por incrível que pareça era a "parte séria e entendida" do projeto que fez sucesso durante os Jogos. Era uma narração com muitas brincadeiras (muitas mesmo), interação com os internautas e muita informação, desde as mais básicas, até as mais profundas.

Eu deveria ser a parte séria da transmissão. Mas, neste dia, me descontrolei um pouco. Mas a ocasião merecia. Eu queria ter me jogado na água com Martine e Kahena. Mas não podia, pois estava no estúdio a uns seis quilômetros dali. 

A regata demorou uns 20 minutos. No início, tentei seguir sério. Dar as informações de rajadas, explicar o tipo de barco, o que pode e o que não pode ser feito em uma regata. Mas, na parte final da prova, em uma jogada de mestre, a dupla brasileira reassumiu a primeira posição. Aí não tinha mais comentário. 

Os apresentadores e eu começamos a soprar. Isso mesmo, a quilômetros de distância, começamos a fazer "fuuuuuu" no ar tentando, de alguma forma, ajudar as brasileiras no fim. E quem estava nos assistindo começou a nós mandar vídeos e fotos fazendo a mesma coisa. Foram, para mim, os minutos mais tensos da Olimpiada (e olha que o que não faltou nos Jogos foi tensão). 

De uma figura (supostamente) séria e referencia do esporte naquela transmissão, fui para um cara que parecia uma criança soprando a vela de aniversário de três anos. Não tinha o que comentar. Era no sopro (sem trocadilhos). 

 O Brasil venceu por dois segundos a Nova Zelândia e levou o título. Martine e Kahena se tornaram as primeiras mulheres brasileiras campeãs olímpicas na vela.


Fotos: Principal e Isaquias Queiroz (Getty Images) / Pódio 49er FX e Alison e Bruno Schmidt (Agência Reuters) 

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