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SurtoRetrô do Rio 2016 - 14 de Agosto

"Na primeira Olimpíada eu caí de bunda. Na segunda, caí de cara. E, nessa, eu caí de pé". Com essa marcante frase, aos prantos de um choro de alegria, Diego Hypolito lavava a alma na Arena da Barra ao conquistar sua sonhada medalha olímpica. Aquela tarde de domingo, foi ainda mais mágica, com um inesperado Arthur Nory também entrando pro seleto hall de medalhistas olímpicos do esporte brasileiro.

Domingo, 14 de Agosto de 2016.

A caminho mais difícil para chegar ao pódio olímpico do Rio talvez tenha tornado a medalha ainda mais especial. Em Pequim-2008, então campeão mundial, e dono de uma confiança exacerbada - admitida pelo próprio ginasta -, caiu na final olímpica do solo. Quatro anos depois, em Londres, voltando a uma boa forma e principal atleta do projeto olímpico do Flamengo de Patrícia Amorim, novamente um queda na última passagem, desta vez nas eliminatórias. Para os Jogos do Rio, no quintal de sua casa, Diego foi até o último momento uma incerteza no time. Desacreditado, chamado de "velho" e lotado de "haters", Diego foi escalando e ultrapassando pouco a pouco uma montanha de críticas para chegar naquela tarde de domingo, em um ginásio lotado de fãs e familiares e conquistar sua sonhada medalha olímpica. Ao lado de Diego naquela final, estava Arthur Nory, ginasta de 23 anos e que participava de sua primeira edição dos Jogos Olímpicos. 

Em uma final que contava com os melhores atletas do mundo, os brasileiros chegaram na decisão do solo naquele dia apenas com o objetivo em mente de fazer uma prova limpa e cair de pé. Era o que mais queriam. Na ginástica artística, por mais que você tenha uma prova de nível técnico e de execução superior ao ao seu adversário, é de grande importância fazer uma prova com o menor número de erros possíveis, no final isso é que definirá os medalhistas. Abrindos os trabalhos, o grande campeão Kohei Uchimura já começou mostrando ao mundo que era humano, cometendo vários erros e tendo dedução de 0.3 na nota final. Diego veio a seguir, o clima de tensão tomava conta de torcedores que acima de tudo desejavam uma prova limpa, sem erros,Diego merecia isto, e cada acrobacia e chegada perfeita se configuravam num respiro de alívio de brasileiros dentro e fora da arena. Al terminar a prova de pé, Diego assumiu a liderança com 15.553 pontos até que Max Whitlock da Grã Bretanha, o terceiro a se apresentar, roubar do brasileiro a ponta da tabela com uma nota 0.1 melhor. Arthur Nory, seguindo a ordem de apresentação, incendiou a torcida com uma apresentação de alto nível técnico e sem erros. Com direito a muita comemoração, tirava Uchimira do pódio e até ali tinha a medalha de bronze. Depois do britânico Kristian Thomas que não representou grande perigo, ainda se apresentariam dois americanos e um japonês cotadissimos à uma medalha e com chances enormes de tirar o pódio dos brasileiros. 

Como dissemos, não basta ter a série mais forte ou mais difícil, se não fizer uma prova perfeita, você tá fora. Shirai, Dalton e finalmente Samuel Mikulak não foram perfeitos, e sofreram o que Diego sofreu nos Jogos anteriores. Tristesa para uns e alegria para outros, a Arena da Barra naquela tarde parecia que iria abaixo de tamanha explosão de alegria. A medalha de Diego já deixou as pessoas em extremo êxtase, mas tudo ficou ainda melhor quando os torcedores perceberam: Nory também estava no pódio. Até mesmos os ginastas não esperavam uma medalha de Nory. Chorando muito ainda sem acreditar, os brasileiros foram para o tablado com uma bandeira do Brasil, acenando e agradecendo à todo o apoio. Graças aos dois, a ginástica artística se juntava ao vôlei de praia como únicos esportes a porcionarem dobradinhas brasileiras em pódios olímpicos. Max Whitlock, em uma noite perfeita, voltava mais tarde para vencer ainda a final do cavalo com alças. As grandes Simone Biles (Estados Unidos) e Aliya Mustafina (Rússia) venceram respectivamente as finais do salto e paralelas no feminino.

O atletismo pegou fogo neste dia, absolutamente. Começou com a final da maratona feminina, prova mais longa e tradicional do atletismo, com chegada no Sambódromo, coroando Jemima Jelagat Sumgong, que se tornava ali a primeira queniana a vencer a prova que é dominada pelas atletas do país em provas pelo mundo, mas que ainda não havia sido vencida por elas em Jogos Olímpicos. Outras três finais aconteceriam no Estádio Olímpico naquela noite. Na única final feminina, Caterine Ibarguen venceu a prova do salto triplo e se tornou a primeira colombiana a conquistar uma medalha de ouro no atletismo. Nos 400 metros rasos masculino, Wayde wan Niekerk da África do Sul deixou todas pessoas no Estádio enlouquecidas com seu feito na final da prova. Largando da raia 8, o tímido sul-africano quebrou o recorde mundial da distância marcando 43s03, superando a marca de Michael Johnson de 48s19 desde 1999. Johnson inclusive estava no Estádio fazendo comentários para uma TV americana e ficou incrédulo com o que estava vendo. O ápice da noite sem dúvidas chegou para a prova final. Com sua irreverência e seus milhares de fãs, o Brasil e o mundo pararam para ver Usain Bolt se tornar tricampeão olímpico nos 100 metros rasos. O jamaicano, mais uma vez demonstrando uma facilidade assombrosa, deixou em segundo lugar o controverso americano Justin Gatlin. Andre de Grasse do Canadá completou o pódio.

O britânico Andy Murray se tornou, após uma batalha de quatro horas, o primeiro homem bicampeão olímpico de tênis ao vencer o argentino Juan Martin del Potro na final. Foi uma aula de tênis, uma final disputadíssima digna de um torneio que cada vez mais é valorizado e desejado pelos grandes tenistas, mesmo que não valha pontos pro ranking mundial ou premiação financeira. As duplas Elena Vesnina/ Ekaterina Makarova da Rússia e Bethany Matheck-Sands / Jack Socks dos Estados Unidos, se tornaram respectivamente vencedores das finais de duplas femininas e mistas.

O boxeador Robson Conceição venceu seu grande rival, Lazaro Borges de Cuba, e garantiu vaga na final da categoria -60kg do boxe olímpico. Em dois dias, teria a oportunidade de se tornar o primeiro brasileiro campeão olímpico da modalidade. Era o único atleta do país ainda vivo no torneio. Outros destaques do dia foram a vitória do Brasil sobre Montenegro no torneio de handebol feminino por 29 x 26 e Larissa e Talita vencendo a dupla suíça Zumkher / Heidrich em um emocionante e nervoso 2x1. Assim, a dupla garantia presença na semifinal da competição.

O Surto Olímpico não entrou em tantos detalhes sobre o fantástico feito de Bolt pois para isso, temos a honra de receber Marcelo Laguna, grande jornalista esportivo, editor do Blog Laguna Olímpico do Lance e que cobriu os Jogos Olímpicos pelo portal. Ele conta como foi cobrir de perto os grandes feitos daquela noite no Estádio Olímpico.

Marcelo Laguna
Editor do blog Laguna Olímpico, do Lance!

Assim que saiu a definição da divisão de funções que cada um dos integrantes da equipe do Lance! Teria na Olimpíada Rio-2016, fiquei duplamente feliz. Primeiro, porque teria entre as minhas tarefas a incumbência de fazer para as edições do impresso e do site a cobertura do atletismo, um de meus esportes prediletos. Depois, por saber que teria a oportunidade de ver e escrever sobre a maior lenda do esporte que pude ver ao vivo em ação: o jamaicano Usain Bolt.

Não seria a primeira vez que teria o privilégio de ver Bolt desfilar toda sua genialidade a poucos metros de meus olhos. Na edição anterior dos Jogos, em Londres-2012, quando trabalhava no portal iG, também estava designado para acompanhar o atletismo. E naquela oportunidade já havia experimentado a sensação de ver um estádio inteiro ficar com a respiração suspensa durante menos de dez segundos e no final, explodir de alegria pela vitória de Bolt.

Uma coisa aprendi naquele dia em Londres: não há como torcer contra Usain Bolt.
Como cheguei ao Rio para a cobertura dos Jogos com mais de 15 dias de antecedência antes da abertura, pude notar que fora a participação dos atletas brasileiros, a única coisa que interessava de fato ao povão menos acostumado a acompanhar o noticiário dos esportes olímpicos era sobre a possibilidade de um novo show de Bolt na pista do Estádio Olímpico do Engenhão. Taxistas, garçons, balconistas de lojas, qualquer um que o identificasse como jornalista credenciado para a Olimpíada queria saber uma única coisa: E o Bolt, vai ganhar a medalha de ouro?

A dúvida, mesmo para os especialistas em atletismo, era bastante pertinente. Embora já tivesse mostrado uma incrível capacidade de superação em momentos adversos, o jamaicano não estava vivendo a melhor de sua forma. Para complicar, um rival vinha dando sinais de que poderia impedir que Bolt conquistasse o tricampeonato olímpico nos 100 metros (assim como nos 200 m e revezamento 4 x 100 m).

O americano Justin Gatlin, após cumprir uma pena de quatro anos de suspensão por doping, vinha de uma excelente temporada e em todas as entrevistas esbanjava confiança e dizia que tinha condições de levar o ouro e finalmente conseguir derrotar Bolt.

Como sabia que aquele domingo, 14 de agosto, seria mais do que especial, me programei para chegar bem cedo ao Engenhão. Embora a final dos 100 m só estivesse marcada para acontecer às 22h30, peguei um dos primeiros ônibus da imprensa que saía do Parque Olímpico, às 17h. Não poderia dar sopa para o azar e tinha que conseguir um bom lugar na tribuna de imprensa.

Já instalado, começava a adiantar o material do dia e preparar outras reportagens já apuradas, combinar esquema de cobertura com outros colegas do jornal, como quem ficaria na zona mista, quem iria para a coletiva, o responsável por abastecer o tempo real, estas coisas comuns na cobertura de um evento especial. Só que dia de Usain Bolt foge de qualquer parâmetro.

Para confirmar a minha expectativa, o Rio de Janeiro tornou-se uma espécie de filial de Kingston, capital da Jamaica. Na semifinal, que aconteceu às 21h, o Engenhão inteiro já torcia para Usain Bolt. Embora o número de jamaicanos não fosse pequeno, todos no estádio só estavam ali para aplaudir e incentivar um único competidor.

A expectativa para acompanhar o show do jamaicano era tão grande que muita gente nem se deu conta de um outro resultado espetacular que aconteceu naquele 14 de agosto: o sul-africano Wayde van Niekerk venceu a prova dos 400 metros de maneira impecável e ainda batendo o recorde mundial e olímpico, que pertenciam ao americano Michael Johnson, com a marca de 43s03.

Menos de meia hora depois, às 22h25, o grande show da noite. No momento do aquecimento, o Engenhão era a casa de Usain Bolt. Diante do maior público do estádio na Rio-2016, o jamaicano brincou, pediu silêncio, se benzeu e correu. O roteiro idêntico de Pequim-2008 e Londres-2012 terminou com um novo triunfo. Um feito inédito na história dos Jogos Olímpicos e a consagração de um dos maiores nomes do atletismo em todos os tempos, o homem mais rápido do planeta. Quem viu, não esquecerá jamais.

Foto: Mike Blake / Agência Reuters


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