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SurtoRetrô do Rio 2016 - 13 de Agosto

O segundo final de semana olímpico se iniciava. Os parques e arenas estavam mais cheios, principalmente daqueles espectadores que só poderiam prestigiar o evento nas folgas. Do outro lado, haviam aqueles torcedores que como eu estavam aproveitando suas férias para realizar sonhos olímpicos e nem percebiam como o tempo passava tão rápido naqueles dias, horas e minutos cansativos e muito mágicos  Jogos do Rio. Metade dos Jogos já haviam ido embora e junto com elas, o fim de algumas tradicionais modalidades.


Sábado, 13 de Agosto de 2016.

Era o último dia da natação, um dos esportes mais tradicionais do programa olímpico fazia sua despedida do Olympic Aquatic Stadium com apenas quatro provas a serem disputadas no dia, duas individuais e duas de revezamento. Primeiramente, as oito mulheres mais rápidas do mundo na natação, dentre elas a brasileira Etiene Medeiros, caíram na água brigando pelo ouro dos 50 metros nado livre que duraria 24s07 e premiaria de forma surpreendente a dinamarquesa Pernille Blume.  A jovem dinamarquesa não acreditou quando viu o resultado, vibrando e chorando muito no pódio, bem similar ao brasileiro César Cielo quando venceu a mesma prova entre os homens em Pequim-08. Prata para a americana Simone Manuel e bronze para a bielo-russa Aliaksandra Herasimenia, com a brasileira chegando num honroso oitavo lugar.

Se entre as mulheres a prova foi de velocidade, os homens disputaram os 1.500 metros nado livre,prova mais longa das piscinas - não contando as maratonas aquáticas, claro - e que premiou os resistentes e favoritos italianos Gregório Paltrinieri (ouro) e Gabrielli Detti (bronze), ficando entre eles o americano Conor Jaeger. Os emocionantes e animados revezamentos fecharam a natação nos Jogos Olímpicos do Rio, com vitórias americanas tanto no masculino quanto no feminino do 4x100 medley, e como já era tradição, com boas histórias por trás das medalhas de ouro. Que os Estados Unidos são a maior potência da história olímpica, isso todos já sabem, mas a supremacia americana foi jogada cada vez mais em evidência quando o time formado por Kathleen Baker (costas), Lilly King (peito), Dana Vollmer (borboleta) e Simone Manuel (livre) tocou primeiro na borda da piscina e entrou para a história olímpica americana ao conquistar a milésima medalha de ouro do país em Jogos Olímpicos. Isso mesmo, você não leu errado, o jovem quarteto da natação conquistava a medalha de ouro de número 1.000 somando todas as edições olímpicas para os Estados Unidos. Prata para a Austrália e bronze para a Dinamarca de Pernille Blume.

Já na versão masculina, os americanos (que conquistaram o milésimo primeiro ouro) venceram de ponta a ponta desde a abertura de costas com recorde mundial para Ryan Murphy. O time ainda tinha Cody Miller (peito), Natan Adrian (livre) e o grande Michael Pheps que foi o terceiro a cair na água para nadar borboleta. Era (até a segunda ordem) a despedida do maior de todos os tempos das piscinas e o Rio de Janeiro teve a honra de ser a cidade sede para esse grande momento. As provas de maratonas aquáticas ainda aconteceriam e o Brasil depositaria dali há alguns dias as esperanças em Poliana Okimoto, Ana Marcela Cunha e Alan do Carmo para que o país não saísse sem medalhas na modalidade.


Perto dali, no Centro Olímpico de Tênis, acontecia a final do torneio de simples feminino. Para quem comprou o ingresso daquela final um ano antes, pensando que veria naquele dia um show da já eliminada Serena Williams, com certeza não pode reclamar do que presenciou naquela noite. Se os Estados Unidos já tinham a àquela altura 1001 medalhas de ouro olímpicas (e contando), o povo de Porto Rico comemorava o seu primeiro. A ilha que com seus milhares de imigrantes ajudou e muito a formar a identidade cultural do povo americano reverenciava a jovem tenista Monica Puig que ao longo do torneio foi enfileirando atletas mais fortes do que ela, ate chegar a final e vencer a então número um do mundo, a alemã Angelique Kerber por 2 x 1. Com um erro não forçado de Kerber, Mônica atirou a raquete para o alto em uma comemoração digna de campeã olímpica. Era o maior feito da jovem e surpreendente tenista.


Três provas incríveis marcaram o último dia de disputas do remo na Lagoa Rodrigo de Freitas. Pra começar, as duas provas mais tradicionais da modalidade aconteceram neste dia, o oito com timoneiro masculino e feminino. Formado por oito remadores e um timoneiro, a prova é disputada em raias da Europa e dos Estados Unidos desde o século XIX e é considerada a mais importante do remo. Em um dia muito ensolarado e com poucos ventos, os britânicos venceram a versão masculina e as americanas a prova feminina. Ainda no remo, outra prova marcante foi a final single skiff masculino, onde 0,2 milésimos de segundo separaram o campeão Mahé Drysdale da Nova Zelândia do croata Darin Martin, um empate técnico que demorou minutos de apuração até o resultado final ter sido divulgado. Perguntado se estava triste por perder o ouro por tão pouco, Martin abusou do espírito olímpico e disse o contrário, " que estava muito feliz por ter ficado a apenas 0,02 do campeão da prova". Os britânicos com três ouros e cinco medalhas no total terminaram a modalidade na frente do quatro de medalhas.

Novas finais incendiaram o atletismo naquele dia. Ídolos britânicos e buscando o bicampeonato, Mo Farah e Jessica Ennis Hill não decepcionaram seus torcedores e conquistaram medalhas naquele dia. Mo, fundista de 36 anos, se tornava bicampeão olímpico ao vencer a final dos 10.000 metros, enlouquecendo o público presente no Engenhão que reconhecia o grande atleta que estava ali. Já Jéssica, não repetiu o ouro de Londres 2012, ficando com uma comemorada medalha de prata no heptatlo, ouro para a jovem belga Nafissatou Thiam. Nas outras finais do dia, ouros para Christoph Harting da Alemanha no lançamento de disco, Jeff Henderson dos Estados Unidos no salto em distância e talvez aquele que pode ser o mais especial do dia, o ouro dos 100 metros rasos feminino com a jamaicana Elaine Thompson, se tornando a mulher mais rápida do mundo na ocasião. Por falar em velocidade, o público finalmente pode ver Usain Bolt em ação. Ovacionado pelo público presente, o homem mais rápido de todos os tempos venceu a sétima eliminatória dos 100 metros rasos com 10s07.

O Brasil teve um dia de alguns altos e baixos. A seleção feminina de basquete conheceu sua quinta derrota ao perder para a Turquia por 79 a 76, sendo eliminadas sem nenhuma vitória nesta edição olímpica. No vôlei de praia, Evandro e Pedro Solberg eram eliminados e não teriam a oportunidade de buscar uma medalha assim como tinham feito na última edição do campeonato mundial da modalidade. Derrota para os russos Lamin e Barsuk. Por outro lado, a dupla campeã mundial Alison e Bruno conseguia sua segunda vitória com o placar de 2 x 0 sobre os vice campeões olímpicos de Atenas 2004 Herrera e Gavira da Espanha. No handebol masculino, empate de 27 x 27 contra o Egito. Ygor Coelho fez história para o Brasil neste dia ao pisar na quadra de badminton dos Jogos do Rio, se tornando o primeiro brasileiro a participar de uma edição olimpíca. A estreia porém, veio com derrota para um dos mais jovens atletas da delegação brasileira, 2 x 1 para o irlandês Scott Evans. No futebol masculino a seleção do Brasil avançava cada vez mais em busca do sonhado ouro olímpico, 2 x 0 no jogo contra Colômbia, partida marcada por 30 faltas e sete cartões amarelos.


Um outro jogo marcou o Brasil neste dia, o maior clássico para nós brasileiros. Um Brasil x Argentina no basquete. O resultado e como foi esse jogo é o tema do nosso depoimento de hoje. Marcos Antônio, editor do Surto Olímpico, conta como foi estar na Arena Carioca I aquela noite e presenciar um dos grandes jogos do torneio de basquete masculino do Rio 2016

Por Marcos Antônio

Fui para tantos eventos do basquete na Rio 2016 (quase vi a história sendo feita com a Sérvia quase ganhando dos Estados Unidos na primeira fase), que já chega ser cruel escolher esse momento, talvez seja o meu momento o mais triste lembrado dentre todos os convidados desse retrô. Mas tudo tem um contexto. Fã (incondicional) de basquete, e convivendo há muito tempo com a bipolaridade da seleção de Rubem Magnano, esperava o decisivo confronto contra a Argentina desde a derrota (boba)para Croácia. A temível Argentina. A Argentina que enquanto o Brasil esteve na pior, reuniu a maior geração de sua história e foi vice mundial, campeã olímpica. Aquele poderia ser o último ato daquela seleção que eu não conseguia odiar. Esse era o Jogo da Rio 2016 para mim.

Quando a bola subiu eu estava trabalhando. Mas graças a uma TV, pude assistir e sofrer nessa partida. E agora, analisando friamente, QUE PARTIDA. A Síntese do bom jogo de basquete: Inúmeras trocas de liderança, cada ponto era disputado como se fosse o último, emoção até o último momento. A Argentina, com sua gloriosa geração, compensava com sua genialidade a falta de força física, que sobrava no Brasil de Nenê, Benite, E Augusto Lima, que jogaram demais. É um jogo que eu adoraria ver e rever se não tivesse nenhum time que torço envolvido. A vantagem brasileira era de oito pontos no último quarto. Faltavam dois minutos. Mesmo com um jogo extremamente difícil, o 'Agora vai!" dentro de mim ficava mais forte.

Do lado argentino, Andres Nocioni, da velha (e genial) geração, e Facundo Campazzo, da nova (E nem tão boa assim), faziam atuações espetaculares que o Brasil não tinha resposta defensiva. E os oito pontos faltando dois minutos para o fim viraram um com sete pontos inacreditáveis de Campazzo. A bipolaridade da seleção de Magnano voltou com tudo, com a defesa pedindo ajuda a natureza para marcar o baixinho de 1,70m. Dois lances livres de Huertas nos últimos instantes, e eu rezava para são Dikembe Mutombo para algum brasileiro desse aquele toco salvador na última posse do jogo, que era da Argentina. Não apareceu. Três pontos de Nocioni, prorrogação.

Era hora de sair, e tinha que chegar o mais rápido possível em casa. O rádio seria meu amigo, me informando e me deixando mais nervoso acerca do jogo. E pelo rádio via empolgação do narrador, que via Nenê comandando o Brasil na frente. Mas nos dois minutos finais, mais uma vez, aquela dormida defensiva e mais 3 pontos do Nocioni. 36 segundos, o jogo empatado. O Brasil errou arremesso e a bola ficou na mão de Manu Ginóbili, gênio, maior jogador sul-americano da história (Desculpe Wlamir Marques e Oscar), um dos maiores ‘Clutch’ players que já vi em quadra. Chegando em casa, pensei comigo mesmo: 'f*deu". Mas ele errou. gritos nas casas, o pessoal estava assistindo o jogo também.

Finalmente em casa, era a hora da segunda prorrogação, quem fosse mais preciso venceria, porque as pernas já tinham acabado de ambos os lados. Ali no sofá, pude xingar à vontade quando a Argentina abriu oito pontos. E vibrar quando Leandrinho tirou da cartola sete pontos no seu melhor estilo 'papa-léguas'. Dois pontos de vantagem da argentina, três segundos para o fim. Delfino no lance livre. A Secada deu certo, ele errou os dois lances livres. Mas na hora do rebote pra pegar o pedido de tempo e armar a última jogada, dente todos os pivôs brasileiros que poderiam pegar essa bola, ela sobrou para Ginóbili. ‘El Narigón’ sofreu a falta e finalizou o placar e a esperança de ver o basquete brasileiro nas quartas de final da rio 2016.

Foi uma dor parecida que se sente quando você vê o seu time sendo eliminado com um gol no último segundo (Acredite, eu sei como é esta sensação também). Eu esperava mais. Eu vi mais dessa mesma seleção no mundial de 2014 e queria ter visto na Rio 2016, mesmo com esse grupo considerado da 'morte'. A 'geração perdida' não merecia ter a alcunha que tem, mas ali acabou sendo o fim de vários jogadores que deveriam ter sido muito mais vitoriosos do que foram com a camisa brasileira. Queria que ali fosse o ponto de virada de um basquete tão combalido, se tornando relevante no cenário mundial novamente, ao menos no masculino. Não foi dessa vez, Mas do fundo do meu coração, espero que essa virada aconteça em 2020, ou 2024, que alguma hora essa virada aconteça e eu possa torcer para a seleção sem entrar em desespero quando a diferença cai para oito pontos no último quarto. É só que eu espero.

Fotos: Basquete (Danilo Verpa / Folha de São Paulo); Monica Puig (Yonhapnews); Revezamento Americano (USA Today)

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