Últimas Notícias

SurtoRetrô do Rio 2016 - 05 de Agosto, a abertura olímpica

Então, finalmente aquele dia chegou. Desde aquela sexta-feira, 02 de Outubro de 2009, quando o então presidente do Comitê Olímpico Internacional, o belga Jacques Rogue, virou a plaquinha e soltou um "Rio de Rrraneiro", este era o dia mais esperado de dez entre dez brasileiros fãs de esporte olímpico. Era o dia da abertura!


Sexta-feira, 05 de Agosto de 2016.



Um dia lindo e ensolarado no Rio criava ainda mais um clima de expectativa sobre o que aconteceria naquela noite no famoso Maracanã, que entraria para uma seleta lista de estádios que sediaram aberturas olímpicas. Nas ruas, na internet e em toda a mídia, perguntas tomavam conta de fã ansiosos do mundo todo. "Como será a pira olímpica e quem vai acende-la?", "Quem vai cantar o hino nacional?", "Vão representar um Brasil pra gringo ver ou vão apresentar nossa história e realidade?" e a melhor indagação de todas, vindo daqueles que não conheciam a magnitude de uma cerimônia olímpica: " Espero que não seja sem graça como a da Copa".



Infelizmente, não consegui ingressos para a abertura olímpica, mas não estava triste por isso, viveria muita coisa boa nos próximos dias. Nesse dia, aproveitei para ver o clima da cidade, fui com um amigo em Copacabana e no Cristo (Ok, ali fui barrado porque estava acontecendo um encontro exclusivo para ministros do esporte lá em cima, mas depois de uma longa espera, subi). O clima da cidade estava maravilhoso, a felicidade se instalava no Rio e havia ali gente de tudo quanto é canto do mundo, inclusive acho que nunca mais pegarei o mesmo ônibus com quatro pessoas do Kiribati, como aconteceu neste dia cinco.



Não vou me alongar muito, assisti maravilhado a abertura de casa. O relato de hoje vem de Daniel Tozatto Grijó, leitor do Surto Olimpíco, que conta em detalhes agora tudo que viveu ao realizar um sonho de infância  e presenciar de perto uma abertura olímpica.



Por Daniel Tozatto Grijó



"Chegou o dia. Desde o dia em que o Rio foi escolhido como sede dos Jogos da XXXI Olimpíada da era moderna, eu já vislumbrava o momento em que veria a nossa cerimônia de abertura. Foram sete anos de muita ansiedade em que acompanhei os preparativos para os jogos diariamente, e sempre com ênfase nas preparações das cerimônias que são uma das minhas paixões.

Incrivelmente, no dia 05/08 eu estava calmo. Havia passado o dia trabalhando e me estressando como voluntário na Vila Olímpica. Foi tão complicado chegar e sair de lá, além de dar conta de todas as tarefas que me foram atribuídas que em determinado momento até esqueci o que ocorreria naquele dia, a não ser por um anúncio no elevador do bloco onde estava hospedada a delegação da Austrália que dava coordenadas para os atletas irem ao evento. Ao chegar exausto na casa de meu amigo Luiz, onde fiquei durante o Rio 2016, olhei para meu ingresso e então me toquei do que estava prestes a acontecer a cerca de 4 horas.

As cerimônias de abertura nas últimas edições têm sido alvo de uma “obrigatoriedade informal” de ter que ser melhor que a anterior. Milhões foram gastos para encantar o mundo (e dar mostras de superioridade) por meio das cerimônias. Impossível esquecer do fogo olímpico ser aceso na água em Sidney, das ilhas gregas sendo formadas por uma máscara gigante em Atenas e da sincronia quase sobre-humana de Pequim. O que o Rio poderia fazer para se igualar a isso? Qual papel teria nossa cerimônia na história?

Eu acompanhei a preparação árdua dos eventos. Foram muitas dificuldades, a começar pelo Maracanã, estádio que não foi projetado para um evento do tipo. Sua cobertura não aguentava muito peso e seus túneis de acesso eram insuficientes para a passagem de grandes alegorias. O orçamento das cerimônias, já menor do que o de outras edições, sofreu cinco cortes que desafiaram e muitos os diretos artísticos. Um desastre eminente? Uma vergonha internacional?


Cheguei ao Maracanã de metrô seguindo o fluxo da grande multidão que encheria as arquibancadas. Perto do início, o cronômetro no telão fazia me dava um imenso frio na barriga.

4... 3... 2... 1.... “O Rio de Janeiro continua lindo, o Rio de Janeiro continua sendo...
A voz de Luiz Melodia iniciava a cerimônia e o vídeo introdutório nos lembrava de que o Rio é maravilhoso. E não precisava dos Led’s nas arquibancadas de Londres, ou do alçapão no meio do campo de Atenas ou do luxo de Pequim. Para emocionar o mundo, o Rio só precisava ser o Rio. A cerimônia foi simples e de bom gosto, com Paulinho da Viola dedilhando delicadamente os acordes do Hino Nacional. Os elásticos com projeções do segmento “Pindorama”, formou na minha opinião, um dos elementos mais bonitos já vistos em todas as cerimônias. O voo do 14 Bis me deu uma vertigem que até hoje me arrepia quando lembro.  Diferente de outras cerimônias, não criou um conto de fadas sobre o país sede. A dura formação de nosso povo foi mostrada com confrontos entre os índios e portugueses, chegada de africanos escravizados, árabes e japoneses. A trilha sonora instrumental deixou tudo muito marcante. Valorizou-se tanto ritmos cult, como a Bossa Nova, como também o ultra popular com Zeca Pagodinho. Um país de contrastes que ainda luta por igualdade entre gênero, cor, orientação sexual etc. Um retrato muito mais verdadeiro do país do que as fantasias de outrora.  Se for para destacar um elemento presenta na abertura do Rio que não teve em nenhuma outra vista, foi a vibração de seus expectadores. As músicas, tão caras entre nós, foram entoadas a toda voz pelo estádio tornando a torcida brasileira um elemento essencial da cerimônia. A festa esportiva se fez com o desfile das delegações. A grande maioria foi recepcionada com aplausos (em especial as grandes potências ou àquelas que tinham um grande astro a sua frente). ale lembrar que a cerimônia também teve um forte apelo ambiental, assunto caro a Fernando Meirelles, um dos diretores. Fomos alertados das mudanças climáticas, seus riscos e sua possível solução. Os atletas olímpicos plantaram sementes durante seu desfile, que depois de mudas, seriam replantadas em Deodoro. Primeira atitude concreta por uma melhora do mundo tomada nesse tipo de evento.  Enfim, o “grand finale” com a chegada da chama olímpica ao estádio pelas mãos de Guga, ovacionado como bom labrador humano. A chama chegou ás mãos da (maquiadíssima e diva) Hortência que a repassou para um dos brasileiros que protagonizou um dos momentos mais emblemáticos do esporte brasileiro: Vanderlei Cordeiro de Lima!! A homenagem foi justa e o estádio foi à loucura. Em uma cerimônia que propunha alertar sobre os riscos da emissão de CO2, foi de bom grado fazer uma pira bem pequena... mas acompanhada de uma gigantesca escultura cinética representando o sol. A chama se viu valorizada com a escultura tal qual uma sambista ganha destaque com um grande esplendor na Sapucaí. Lágrimas escaparam dos meus olhos.

Ainda assim, não se agrada a todos. Alguns reclamaram a ausência de luxo, extravagância e tecnologia que já são quase inerentes á cerimônias. Outros queriam uma festa 100% cult. Mas será que isso seria uma boa ideia no momento em que nosso país vive?

A cerimônia nos mostrou um retrato de quem nós somos e que não adianta fugir disso. A cerimônia entrou para a história? Não sei e não me importa se será esquecida, porque o que importa para mim é que a emoção do momento jamais sairá do meu coração e de muitos que saíram extasiados do estádio. Os jogos do Rio foram abertos com sucesso.

Foto: Getty Images






0 Comentários

.

APOIE O SURTO OLÍMPICO EM PARIS 2024

Sabia que você pode ajudar a enviar duas correspondentes do Surto Olímpico para cobrir os Jogos Olímpicos de Paris 2024? Faça um pix para surtoolimpico@gmail.com ou contribua com a nossa vaquinha pelo link : https://www.kickante.com.br/crowdfunding/ajude-o-surto-olimpico-a-ir-para-os-jogos-de-paris e nos ajude a levar as jornalistas Natália Oliveira e Laura Leme para cobrir os Jogos in loco!

Composto por cinco editores e sete colaboradores, o Surto Olímpico trabalha desde 2011 para ser uma referência ao público dos esportes olímpicos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Apoie nosso trabalho! Contribua para a cobertura jornalística esportiva independente!

Digite e pressione Enter para pesquisar

Fechar