Últimas Notícias

SurtoRetrô da Rio 2016 - 09 de Agosto de 2016

A Olimpíada tem um dom de unir as pessoas. Vindos de vários lugares do mundo, atletas e torcedores de todas as religiões, etnias e culturas mostram para todos nós durante aqueles dias que a intolerância é algo que pode sim acabar. Basta que nós mesmos façamos isso.

Terça-Feira 9 de Agosto de 2016

Naquela terça-feira, o mundo pode reverenciar cinco meninas americanas na ginástica artística. Duas negras, uma latina, uma judia e uma descendente de armênios. Vinda de regiões americanas diferentes, não tendo os mesmos tipos de criação e religião, Simone Biles, Gabriele Douglas, Lauren Hernandez, Aly Raizman e Madison Kocian se juntaram para formar aquela que pode ser considerada a melhor equipe de todos os tempos na modalidade. Sempre favorita, as adversárias sabiam que ali brigariam por prata e bronze. Com 184.897 pontos, as americanas foram as melhores em todos os quatro aparelhos, o que já era esperado. Rússia - Que tem como principal atleta a muçulmana Alya Mustafina - com 1776.688 e China com 176.003 foram respectivamente prata e bronze. A diferença  de mais de sete pontos das americanas para as russas é um abismo para a ginástica. A equipe brasileira terminou em oitavo lugar. Flavinha Saraiva, Rebeca Andrade, Daniele Hypólito, Jade Barbosa e Lorrane Ferreira fizeram o melhor que podiam no momento e encantaram os torcedores brasileiros que estavam lá na Arena da Barra naquela tarde de terça.

O dia foi também foi americano na natação, com três medalhas douradas. Um deles veio com Katie Ledecky que venceu sua segunda prova no Rio ao bater na frente na final dos 200 livre. Os outros dois ouros tiveram participação do mito Michael Phelps. Primeiro, venceu os 200 borboleta, conquistando o tricampeonato e recuperando seu título perdido em Londres 2012. Uma hora e quinze minutos depois voltou à piscina do Estádio Aquático para conquistar sua vigésima primeira medalha de ouro vencendo o revezamento 4x200 livre, junto com Townley Haas, Conor Dwyer e Ryan Lochte, deixando a então campeã mundial Grã Bretanha em segundo. O único ouro não americano do dia veio com a húngara Katinka Hosszú, vencendo os 200 medley, sua terceira medalha de ouro no Rio.

No judô, um dia depois do ouro de Rafaela Silva, Mariana Silva chegou a semi-final da competição, mas acabou perdendo para a eslovena Tina Trsnenjak (que acabou campeã) e para a holandesa Anika van Emden na disputa do bronze. O quinto lugar foi excelente para a atleta que não era cotada para brigar por medalhas.

No boxe, o baiano Robson Conceição, favorito a medalha na categoria -60 kg, venceu com facilidade o tadique Avnar Yusunov.

Nos esportes coletivos, não foi um dia tão bom para os brasileiros. O basquete feminino  teve nova derrota, desta vez para Belarus por 65 x 63. No futebol, Marta e companhia ficaram com o empate em 0 x 0 contra a África do Sul, mas terminaram o grupo E em primeiro lugar. O handebol masculino perdeu para a Eslovênia por 31 x 28. Os resultados positivos vieram com o vôlei masculino que venceu o Canadá por 3x1 e o basquete, também entre os homens, que derrotou a poderosa Espanha por 66 x 65.

No tênis, a zebra passou novamente pelo Centro Olímpico. A americana Serena Williams, número um do mundo na ocasião, perdeu a oportunidade de buscar o tricampeonato olímpico ao ser eliminada pela ucraniana Elena Svitolina por 2 x 0. A dupla brasileira Marcelo Melo / Bruno Soares, favoritos à uma inédita medalha para o tênis brasileiro, também foi eliminada por 2 x 1 para a dupla romena Mergea / Tecau. O espanhol Rafael Nadal e o britânico Andy Murray venceram seus confrontos e avançaram.

No vôlei de praia, a dupla Talita / Larissa venceu a dupla americana Sweat / Fendrik por 2 x 0. Já os brasileiros Pedro e Evandro conheceram sua segunda derrota  para a dupla canadense Schalk / Saxton por 2x1, complicando e muito as pretensões para avançar na chave.

No tiro com arco Anne Marcele do Brasil perdeu para a britânica Naomi Folkard nas oitavas de final. Apesar da derrota, comemorou bastante o melhor resultado de uma brasileira na história da modalidade. Quem também foi eliminada foi Zahra Nemati, do Irã. A atleta se tornou a primeira mulher iraniana a carregar sua bandeira na Parada das Nações da abertura olímpica, além disso, Zahra é atleta paralímpica e conquistou uma vaga para as duas competições. O foco era defender o título conquistado em Londres da categoria arco recurvo W1/W2 (destinado para atletas cadeirantes) durante os Jogos Paralímpicos do Rio, em setembro de 2016.

O Surto tem a honra de receber hoje o depoimento de Alexandre Pussieldi. Técnico de natação e comentarista dos canais Sportv, ele fala um pouco sobre como foi presenciar naquela noite mais um dos grandes feitos do maior atleta olímpico de todos os tempos, Michael Phelps.

Por Alexandre Pussieldi


Cobrir natação para mim já é prazer, Olimpíada é ainda melhor.  No meu país e na despedida do maior nadador da história, não tem nem como definir.


9 de agosto de 2016, quarto dia da natação no Estádio Aquático. Mesmo morando na frente, chegava cedo para as eliminatórias que só iniciavam as 13 horas. E ali ficava, direto até a final, as 22 horas. Entrávamos no ar no SporTV uma hora antes, e seria um dia especial.

Michael Phelps nadaria sua primeira final, sua primeira chance de ganhar mais um ouro individual. Dois dias antes, ele já mostrara grande performance quando foi o melhor tempo do time americano no parcial de revezamento 4x100 metros nado livrecom 47.12.

Era a prova dos 200 borboleta, a mesma que deu a ele a sua primeira vaga na Seleção Americana, o primeiro título americano, a primeira medalha olímpica, o primeiro recorde mundial. Porém, também foi a prova que Phelps foi surpreendido e batido nos Jogos de Londres 2012 em chegada displicente por Chad Le Clos.

Le Clos tirou de Phelps a chance dele se tornar no primeiro tri campeão olímpico de uma prova. Quatro anos  antes, por cinco centésimos o sul-africano não perdoou a chegada alongada ganhando o ouro olímpico. Phelps se tornou tri olímpico nos 200 medley alguns dias depois, mas os 200 borboleta ainda guardavam algo especial para ele.

Ser campeão olímpico numa prova, perder na Olimpíada seguinte e voltar a conquistar, ninguém nunca tinha conseguido. Isso foi alertado pelo narrador Milton Leite momentos antes da prova. Phelps não foi bem na seletiva americana, não nadou nenhuma prova bem. Nas eliminatórias dos 200 borboleta no dia anterior fez o quinto tempo, mas melhorou na semifinal, segundo colocado atrás do jovem Tamas Kenderesi da Hungria.

Numa final onde os húngaros Laszlo Cseh, o melhor tempo do ano, Kenderesi, o jovem com a melhor marca da semifinal, ainda tinha o algoz Chad Le Clos. Phelps foi na raia 5 e, como em Londres, fez a sua prova. Saiu na frente, nadou o tempo todo na liderança. Os parciais estavam até forte demais.

Na emocionante narração de Milton Leite ainda tive a chance de dizer que estava surpreso com o ritmo, esperava que Phelps fosse cair no final. E até aconteceu isso, mas não para os húngaros, nem para Le Clos, mas um japonês de 21 anos, Masato Sakai. Este que virou em sexto na altura dos 150 metros e tirou proveito da queda de Phelps se aproximando como nunca.

Entretanto, desta vez, Phelps não errou a chegada. Quem errou foi Sakai, respirou uma braçada antes de tocar a parede e o ouro era de Phelps 1:53.36, apenas quatro centésimos a frente do japonês.

A história estava feita, o mito recuperava um título que era seu, corrigia um erro cometido há quatro anos e emocionava a todos no Estádio Aquático. É difícil prever o futuro, ainda mais mudar o passado. Fica até complicado imaginar se o japonês não tivesse respirado e Phelps, mais uma vez, perder a prova no final. Como seriam os próximos dias de tantas glórias e mais medalhas para Phelps no Rio 2016...

É melhor deixar assim, enquanto Phelps celebra sua carreira de maior medalhista da história e curte sua aposentadoria, Sakai vai ter outra chance de ser campeão nadando em casa em Tóquio 2020.

Foto: AP / Julio Cortez









0 Comentários

.

APOIE O SURTO OLÍMPICO EM PARIS 2024

Sabia que você pode ajudar a enviar duas correspondentes do Surto Olímpico para cobrir os Jogos Olímpicos de Paris 2024? Faça um pix para surtoolimpico@gmail.com ou contribua com a nossa vaquinha pelo link : https://www.kickante.com.br/crowdfunding/ajude-o-surto-olimpico-a-ir-para-os-jogos-de-paris e nos ajude a levar as jornalistas Natália Oliveira e Laura Leme para cobrir os Jogos in loco!

Composto por cinco editores e sete colaboradores, o Surto Olímpico trabalha desde 2011 para ser uma referência ao público dos esportes olímpicos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Apoie nosso trabalho! Contribua para a cobertura jornalística esportiva independente!

Digite e pressione Enter para pesquisar

Fechar