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Surto Entrevista: Evandro e André

Por Juvenal Dias

No amistoso de vôlei entre Brasil e Estados Unidos, realizado domingo passado em São Paulo, duas presenças ilustres chamaram a atenção e foram homenageadas. Nada menos que os campeões mundiais de vôlei de praia, Evandro e André, dupla formada no início do ano e que já conquistou o campeonato mais importante do circuito, com exceção do título olímpico, nas areias de Viena, na Áustria. Eles foram apresentados ao ginásio do Ibirapuera, que os reverenciou com um mar de aplausos. A Confederação Brasileira de Vôlei também demonstrou seu reconhecimento através de uma premiação simbólica. Eles ainda puderam exibir o bonito troféu recém-conquistado além de suas medalhas. 

A reportagem do Surto aproveitou esse breve descanso da dupla para ouvi-los, com exclusividade, enquanto a partida se desenrolava. Conversamos também com seu técnico Edenílson Costa, responsável direto por este feito. Confira o que a equipe falou:

- Como foi jogar esse campeonato mundial e, principalmente, vencê-lo?

Evandro: Esta conquista, para nós, foi super legal, isso é reflexo do bom trabalho que estamos fazendo com nosso técnico, nossa comissão que está no Rio de Janeiro. Estamos muito felizes de termos conquistado este título lá na Áustria, sete meses de trabalho, nosso primeiro ano de parceria, então significa muitas coisas boas para nós. Mas sabemos que temos um longo caminho pela frente, temos metas a ser batidas. Nosso próximo torneio é o Finals, em Hamburgo (Alemanha) – torneio que será disputado do dia 23 a 27 de agosto – mas estamos muito felizes e temos que desfrutar disso agora.

- Como é este entrosamento de vocês em tão pouco tempo de trabalho e já conquistando um título de tamanha importância?

André: Nós nos juntamos dia 4 de janeiro para treinar e desde então, viemos fazendo um trabalho bem forte com nossa equipe. Todos dispostos, trabalhando duro. Acho que foi fundamental nossa comunicação, dentro e fora de quadra nós nos damos muito bem, foi refletido para nosso título, foi realmente uma parceria, além de paciência. Isso que deu um entrosamento muito rápido para nós e, assim, colhermos frutos dos nossos objetivos.

- O que podem apontar como o aspecto mais forte da dupla?

Evandro: O extra quadra, somos muito amigos fora de quadra, temos uma convivência boa e, como nós vivemos muito tempo juntos, é fundamental essa harmonia para levarmos para dentro de quadra. Esse aspecto está sendo muito bom, assim como a comunicação, e espero manter assim até 2020, 2024.

- E qual o ponto em que é preciso melhorar?

Evandro: Temos bastante coisa para evoluir, somos bem novos (Nota: Evandro tem 27 anos e André acaba de completar 23, foi, inclusive, o atleta mais novo a vencer o Mundial), agora sabemos que os caminhos ficarão mais difíceis, seremos mais estudados, temos muito trabalho por fazer e com um passo de cada vez nós vamos seguindo nossa evolução no dia-a-dia.

André: Nós somos dois bloqueadores, nos juntamos nessa nova ideia, que veio do Edenílson. Juntar dois caras mais altos, a dificuldade está nisso, conseguir entrosar para fazer defesa e bloqueio, nós revezamos, temos que manter o controle de bola. A dificuldade maior é essa e trabalhamos muito em relação a melhorar isso.

- Em pleno dia dos pais o público veio, lotou o ginásio e aplaudiu vocês. O que dizer dessa participação?

Evandro: O público brasileiro é sempre muito carinhoso com o vôlei, então só podemos agradecer pela vinda e por torcer pela Seleção. Esse carinho é muito importante para nós, atletas, somos um povo carente desse sentimento, mas é muito bom ver esse ginásio lotado interagindo e reconhecendo nosso trabalho.

André: Foi emocionante ali (momento em que desceram na quadra e foram anunciados), acho que fiquei mais nervoso agora do que no jogo da final. Receber essa homenagem foi muito lindo, muito legal da parte deles (CBV), então ver o ginásio lotado, acompanhando a Seleção de quadra, evento televisionado, é muito gratificante para nós receber esta homenagem.

Evandro: Só temos a agradecer à CBV por fazer isso por nós, agradecer ao público maravilhoso que compareceu num domingo como esse, muita gente poderia ter ficado em casa com seus pais, mas preferiram vir e torcer, viram também esta homenagem, então somos muito gratos.

- Estamos concluindo o primeiro ano deste novo ciclo olímpico. O que vocês podem dizer do nível das duplas adversárias que têm visto nos torneios?

Evandro: O nível do circuito mundial está cada vez mais difícil, agora não tem um ou dois países bons, todos têm condições de serem campeões mundiais, mas se nós continuarmos a fazer nosso trabalho, com simplicidade e humildade, teremos mais frutos por colher. Temos que manter nossos pés no chão.

Agora, com esse título, vocês passam a ser considerados favoritos e mais visados. Como lidar com esta questão?

André: As coisas tendem a ser mais difíceis porque nós somos o time a ser batido, estamos no olho de toda equipe, seremos mais estudados, mas estamos preocupados com o que temos a evoluir ainda, este foi só o primeiro passo, esse ciclo vai ser pesado, as outras duplas do Brasil vêm forte também, então estamos focados em continuar esse nosso progresso.

Evandro: Nosso campeonato nacional é um dos mais fortes do mundo, então o país sempre está bem representado, independente se for Evandro e André, Alisson e Bruno, Álvaro e Saimon ou Pedro e Guto, todos têm condições de chegar e ganhar os torneios. Estamos muito felizes que fomos nós os vencedores, mas o Brasil está bem no vôlei de praia.

Você (Edenílson) esperava que a dupla se entrosasse tão rapidamente a ponto de ganhar o campeonato mundial?

Edenílson Costa: Não, a meta não era essa agora. O objetivo era crescermos aos poucos, evoluindo, trabalhando bastante. Mas esse Mundial veio antes do esperado. Foi muito bom para dar confiança à equipe, continuar o trabalho que estamos fazendo. Sempre traçamos metas de longo, médio e curto prazo. Este ano era ganhar experiência, “criar casca”, ganhar entrosamento, já que é uma dupla de dois bloqueadores.

O que representa a conquista deste Mundial?

Edenílson: É o torneio mais importante do voleibol de praia, para dois caras que sequer haviam chegado a finais juntos, foi maravilhoso. Só traz mais confiança e credibilidade para a equipe trabalhar com mais calma e seguirmos em frente.

Você falou de metas. Quais são os próximos objetivos?

Edeníson: Participamos de um circuito diferente, já que temos quatro duplas brasileiras e somente três podem jogar os principais torneios, isso gera uma meta importante, que é ficarem justamente entre esses três primeiros no país. A partir daí, tentar conquistar outros campeonatos, buscar pódios. Em 2018-19, buscar a vaga olímpica, é a meta principal da equipe, visando os Jogos de Tóquio. Mas a principal meta é fazer com que eles se entrosem cada vez mais e ganhem mais experiência nos campeonatos, se sentido a vontade nas partidas, para chegar em Tóquio estando tudo mais ajeitado.

Qual é o aspecto que você enxerga que mais precisa evoluir?

Edenílson: O sistema defensivo. Como temos dois bloqueadores na equipe, a defesa em si tem que ser mais trabalhada, tem que ter mais paciência, eles têm que aprender a jogar naquela posição. Eles não estão acostumados a isso. Têm que aprender a jogar como defensores também. Essa transição de bloqueador para defensor é um pouco difícil, mas eles estão se adaptando bem, estão aprendendo rápido.

Geralmente, os oponentes tendem a explorar a parte da dupla que não é a bloqueadora. Nesta configuração atual, cria mais dúvidas para os adversários?

Edenílson: Existe duas partes da história: a dúvida é maior para nós e para eles (adversários) também, porque nós podemos revezar. Tem jogos que o Evandro fica no bloqueio, outros o André fica bloqueando e ainda há outros que jogam os dois revezando. Então complica para o adversário, não sabe contra qual tipo de bloqueio que vai enfrentar. Conseguimos assim, nos adaptar a cada adversário de um modo diferente.

Explica porque gera dúvidas para vocês também.

Edeníson: Jogamos contra equipes que, por termos um bloqueador no fundo, exploram muito a largada de bola. Temos que prepara-los para, taticamente, jogar de acordo com esse tipo de jogo, é defender sem estar sendo atacado, questão de posicionamento.

Ao mesmo tempo, ter dois bloqueadores acaba sendo o ponto mais forte da dupla, não?
Edenílson: Sim, sem dúvida. Por serem altos, não é preciso sacar e correr para a rede, pode ficar na defesa. Isso cansa menos o bloqueador, conseguimos que desenvolvam um voleibol melhor.


foto: Sebastian Pucher/AFP

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