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Após gesto polêmico no Rio 2016, etíope reencontra o atletismo no CT Paralímpico


Quando o fundista etíope Tamiru Demisse cruzou a linha de chegada do Estádio Olímpico do Rio de Janeiro, travou o cronômetro em 3min48s49 - suficientes para lhe dar a prata nos 1.500m da classe T13 (confira o vídeo da prova abaixo), para atletas com baixa visão. Seria o bastante, inclusive, para ser medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio, que terminara semanas antes - se neles estivesse inscrito.  

O sinal de protesto do recém-coroado vice-campeão paralímpico - gesto idêntico ao de Feyisa Lilesa, vice-campeão olímpico da maratona, ao cruzar a linha de chegada no Rio 2016 - desencadeou repercussão muito além do que o feito alcançado na pista do Engenhão. E tem consequências em sua vida até hoje, quase um ano após a histórica disputa com o argelino Abdellatif Baka.

O gesto denunciava a repressão do governo etíope ao povo Oromo - etnia de origem de Tamiru e que habita a Etiópia e o norte do Quênia e da Somália. Aos 23 anos, ele nunca mais retornou ao país africano, por medo de represálias pelo protesto no Engenhão.

Ao longo de quatro meses, Tamiru manteve-se no Rio de Janeiro. Com o auxílio de um professor de Educação Física que conheceu na capital fluminense, o atleta passou a vislumbrar a continuidade de sua carreira. Decidiu vir a São Paulo, onde estabeleceu-se no Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI), na centro.

Lá, conheceu um taxista, que o ajudou a encontrar o Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, na Zona Sul de São Paulo. Tamiru, que perdeu a visão aos dez anos, por motivos que não soube explicar, porta o protocolo de solicitação de refúgio no Brasil, que o autoriza a viver legalmente no Brasil. Sonha, ainda, em retornar às competições de alto rendimento.

"Pan-Americano 2019!", diz, entusiasmado, o atleta, em referência aos Jogos Parapan-Americanos de Lima. Em poucas palavras, esboçadas em seu limitado conhecimento tanto de português quanto de inglês, fala ainda de sua intenção de naturalizar-se brasileiro e representar o país na competição.

A vinda ao Centro Paralímpico ainda lhe trouxe benefícios fora da pista. Hoje, por intermédio da Associação Desportiva para Deficientes (ADD), pôde deixar o CRAI e já divide casa próxima ao CT com Vinicius Rodrigues, atleta que disputa provas de velocidade da classe T42 (amputados de perna).

"Ele é uma pessoa tranquila e está se adaptando bem à nossa cultura. Estou ensinando ele a falar um pouco de português, e ele já está matriculado em uma escola, também. Dorme muito, come muito e tem muita vontade de treinar", disse Vinicius. 

"O Tamiru é um excelente atleta e fez parte talvez da prova mais forte dos Jogos Paralímpicos do ano passado. Tenho ajudado-o nesta volta aos treinamentos, já que ele ficou muito tempo parado", conta Fábio Breda, técnico responsável pelos fundistas do atletismo paralímpico no Brasil. "Temos feito um trabalho forte de fisioterapia e fortalecimento muscular para prepará-lo para a volta aos treinos específicos, enquanto ele cuida do processo de regularização dele no Brasil."


No CT, Tamiru faz trabalhos específicos de fisioterapia três vezes por semana. Exercícios de musculaçao também compõem sua rotina nos dias restantes da semana. Tudo para que o gesto dos punhos cerrados seja ofuscado, em breve, por mais conquistas dentro nas pistas.

Foto: CPB




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