Gustavo Kuerten vinha para sua segunda participação em Roland Garros com uma expectativa: melhorar o resultado do ano anterior, quando ficou na primeira rodada do grand slam, ao conseguir furar o qualifying e ser derrotado pelo sul-africano Wayne Ferreira. Mas Guga já vinha com um status diferente de quando pisou no saibro francês em 1997. ele já era visto com uma promessa do tênis brasileiro, e foi um dos destaques na Copa Davis do mesmo ano, quando ajudou o Brasil a ir para divisão principal da competição ao derrotar a Áustria.
Mas 1997 não estava sendo um ano tão bom quanto esperado. Tinha conseguido sua primeira vitória em Grand slam no Australian Open, mas ficou na segunda rodada do torneio. Depois perdeu as duas partidas de simples na Copa Davis contra os Estados Unidos. e com muitas derrotas, Guga parecia sentir a pressão de ser o novo nome do tênis brasileiro ao lado de Fernando Meligeni. então o brasileiro foi disputar um challenge em Curitiba para recuperar a confiança perdida. Kuerten foi arrasador e venceu sem muitas dificuldades, ao 20 anos e atual número 66 do ranking, estava preparado para Roland Garros.
Seu adversário na estreia era o tcheco Slava Dosedel, que tinha derrotado Guga duas vezes em 97. Só que o tcheco, que vinha com problemas no ombro e não estava na melhor da sua forma, mal viu a cor da bola, pois Guga venceu por 3 sets a 0. O próximo adversário era o sueco Jonas Bjorkman. Apesar de uma derrota nessa fase fosse até aceitável para Guga, ele fez melhor e conseguiu derrotar o número 23 do ranking por 3 sets 1, apesar da demora de Guga em fechar o jogo, pois Bjorkman salvou sete match points,
Na terceira rodada, seria o jogo que aquele garoto franzino, cabelo grande e roupa colorida seria apresentado oficialmente para o mundo do tênis. enfrentando nada mais nada menos do que Thomas Muster, que venceu Roland Garros em 1995 e considerado um dos melhores tenistas no saibro do mundo Em uma batalha duríssima,com direito a virada no tie break Guga despachou Muster e avançou para a próxima fase. Guga considera esse um dos mais importantes de sua carreira e Muster disse após a partida: “Se continuar assim, não tenho dúvidas de que logo estará entre os melhores do mundo. Não fui eu que perdi, foi ele que ganhou”.
Nas oitavas, Guga enfrentou Andrei Medvedev outro tenista especialista em saibro já tendo mais público para vê-lo jogar. E foi outra vitória duríssima por 3 sets a 2 em uma batalha que levou dois dias, por falta de luz natural. Nas quartas de final tinha Yevgeni Kafelnikov, número 3 do mundo e atual campeão de Roland Garros. Vitória de Guga por 3 sets a 2, após estar perdendo por 2 sets a 1. Guga se tornava o primeiro brasileiro a ir a uma semifinal de Roland Garros, superando Thomas Koch que tinha parado nas quartas de final na edição de 1968. Guga explica na biografia que o russo, a quem chamava de “café no copo”, era o cara que colocava medo nele quando se enfrentavam.
Na semifinal, Guga pela primeira tinha o status de favorito, ao enfrentar o Belga Philp Dewulf que vindo do qualifying, também estava surpreendendo. vitória por 3 sets a 1 com uma autação um pouco nervosa de guga, mas que no fim, o garantiu na final.
A final seria contra o espanhol Sergi Bruguera, bicampeão de Roland Garros em 93 e 94, que buscava o tri. Guga já tinha atraído toda a atenção da mídia nacional e e assim como a semifinal, a decisão seria transmitida em tv aberta, na extinta TV Manchete com narração do lendário Ruy Viotti,' a voz do tênis', que narrou vitórias de Maria Esther Bueno nos anos 60. Na França, Guga ganhou o apelido de 'surfista do saibro'.
O que se viu na quadra Philp Chatrier foi um massacre, Guga dominou Bruguera por completo, que não teve nenhuma chance de reagir e venceu por inapeláveis 3 sets a 0 (6-3,6-4 e 6-2). Foi um feito histórico, pois essa foi a primeira final de Guga no circuito profissional e o primeiro título da carreira.
Esse também foi primeiro título brasileiro em grand slam desde o US Open de 1996, ganho por Maria Esther Bueno; Guga foi o terceiro tenista com o pior ranking a ganhar um grand slam, atrás apenas de Mark Edmonson em no Australian open de 1976 e Goran Ivanisevic em Winbledon 2001. Guga foi o terceiro tenista a conquistar o título de Roland Garros sem ser cabeça de chave. Antes deles, apenas o francês Marcel Bernard em 1946 e o sueco Mats Wilander em 1982. Guga recebeu o troféu das mãos de duas lendas de Roland Garros, Bjorn Borg e Guilhermo Villas.
Após a premiação, Guga, ainda foi comemorar com a torcida brasileira que batucava à sua espera. e o brasileiro pulou da 66º para a 15º do ranking. Guga ainda venceria o grand slam francês mais duas vezes e seria o número do 1 do mundo em 2000 e o maior tenista da história do Brasil. Perguntado sobre sua trajetória em Roland Garros, Guga diz: "De todas as coisas mágicas que aconteceram comigo em Roland Garros, o título de 1997 é a coisa mais inacreditável de todas"
fotos: Reuters
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