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Especial: 6 meses depois, impasse continua e situação do skate brasileiro segue indefinida para Tóquio 2020

A Notícia de que o COB reconhece apenas a Confederação de Hóquei e Patinação (CBHP) como entidade responsável pelo o skate olímpico caiu como uma bomba entre os praticantes do esporte no início de 2017. O risco de não termos skatistas brasileiros, que ao lado dos americanos, são os mais talentosos do mundo e dominam as competições, se tornou real. A Confederação brasileira de Skate(CBSk) que é entidade máxima do skate há 17 anos, se posicionou fortemente contra a decisão e lançou a campanha #SomosTodosCBSK , pedindo que a entidade seja a responsável pelo skate olímpico.
 
E todo esse problema se deu pela vontade imensa do COI em ter o skate nos Jogos Olímpicos, por causa do grande apelo que o esporte tem entre os jovens. Tentava desde o início dos anos 2000 por o esporte no programa olímpico, mas esbarrava no rigor de seu próprio estatuto, que exige que a federação de uma modalidade tenha no mínimo, 90 confederações nacionais pelo mundo, algo que a ISF (Federação Internacional de skate) não conseguiu ter. O COI então costurou um acordo com a FIRS (Federação Internacional de esportes sobre rodas), a ISF foi incorporada à Federação e a FIRS ficaria responsável por toda a parte burocrática enquanto a ISF ficou com a parte esportiva do skate. Assim o esporte foi um dos cinco anunciados no programa olímpico de Tóquio antes dos Jogos do Rio de janeiro, em agosto de 2016.

Em âmbito mundial, a parceria flui bem, mas nos países os problemas começaram a ocorrer, pois ainda segundo o COI, só pode haver uma federação representante de uma modalidade no país e como a FIRS é a responsável pelo skate na teoria, quem for filiado a ela será a responsável por gerir o skate olímpico. E isso tem causado problemas em países além do Brasil, como Grã Bretanha e Austrália. Por aqui, a CBHP (Confederação brasileira de Hóquei e Patinação) foi anunciada como responsável oficial pelo skate, com o COB ignorando o pedido de filiação da CBSk.

Em entrevista a Marcelo Laguna, do diário Lance! em janeiro, Agberto Guimarães, diretor executivo de esportes do COB, explicou a postura da entidade sobre o problema: "A única confederação do Brasil reconhecida pela FIRS e pelo COI para o skate em 2020 é a CBHP, que está em processo de filiação ao COB. Não pode ter duas confederações representando o mesmo esporte. A partir de agora, o que precisa ter agora é um trabalho entre a CBHP, a única reconhecida até segunda ordem pela FIRS, com o skate, para quem eles façam um trabalho em conjunto. Um é o representante legal da modalidade junto ao movimento olímpico e à FIRS e o outro é a entidade que tem efetivamente os atletas. Eles precisam trabalhar juntos."

Agberto concluiu: "Vamos buscar uma aproximação junto às duas confederações no sentido de auxilia-los neste trabalho. Essa briga não leva a lugar nenhum, não ajuda ter dois donos. Há um só canal de comunicação, tem um só representante oficial e um só reconhecido pela federação internacional e pelo COI. É por aí que a gente vai. Nossa interlocução será sempre com o órgão oficial representante daquela modalidade no país. Não posso fazer diferente.”

Em nota, o COB reafirmou sua posição sobre o assunto, dizendo que a situação já está definida e os trâmites necessários para a filiação da CBHP ao comitê olímpico brasileiro serão concluídos até dezembro de 2017. A nota é concluída com o seguinte parágrafo: "O COB informa que ainda vem trabalhando para o entendimento entre as entidades representantes do skate no Brasil, a fim de que os atletas não sejam prejudicados na preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020" 

Em contato via e-mail com o Surto Olímpico, O Presidente da CBHP, Moacyr Neuenschwander Junior, afirma que seguiu o que determina o estatuto do COB e que o objetivo da CBHP é trabalhar em conjunto com a CBSk nos moldes da parceria da ISF/FIRS. Ele inclusive afirma que vem buscando contato com os dirigentes do skate nacional, sem sucesso, via e-mail. Moacyr Jr inclusive repassou ao Surto Olímpico os e-mails de duas tentativas da CBHP de contactar a CBSk nos meses de fevereiro e março de 2017.

Emails que o presidente da CBHP teria enviado para entrar em contato om a CBSk foto: Reprodução

A CBHP, assim como as outras confederações das modalidades que estrearão nos Jogos olímpicos de Tóquio, já esteve em reunião com o COB no dia 30/05, o que mostra o alinhamento do COB com a entidade. 
Reunião dos representantes brasileiros das novas modalidades que irão estrear nos Jogos de Tóquio 2020 realizada pelo COB  foto:CBHP, divulgação

Já a CBSk não vê com bons olhos a parceria com a CBHP e o problema com a entidade vem um pouco antes do skate ser anunciado como esporte olímpico. Em entrevista ao site tribo skate em janeiro de 2017, Ed Scander, vice presidente da entidade afirma que a CBHP, representada pelo skatista Jorge Zacarias, o Negreti, no início de 2016 ofereceu eliminatórias para o Pan-americano e para o Sul-americano de skate sem autorização da CBSk, para prefeituras Brasil afora : "Por causa disso a Confederação Brasileira de Skate mandou um e-mail para essa confederação indagando por que eles estavam fazendo isso, e explicando que a CBSk já é reconhecida pelo Ministério dos Esportes e pela ISF como a entidade do skate no Brasil. E eles simplesmente falaram que também eram administradores do skate no Brasil e não precisavam dar satisfação pra CBSk."

Logotipo da campanha de apoio a CBSk como representante do skate olímpico brasileiro. a campanha já teve mais de 17 mil assinaturas foto:Divulgação
Dentre os emails fornecidos por Moacyr Neuenschwander Junior ao Surto Olímpico, consta a conversa da CBSk e da CBHP sobre o assunto. CBSK questiona a organização de eventos sem autorização da CBSk e a CBHP explica que é uma confederação que tem como competência organizar todos os esportes sobre rodas. Ela também explica a nomeação do skatista Negreti, como diretor da CBHP para o desenvolvimento do skate no país e apesar de afirmar não querer criar conflitos com a CBSk, nada sobre uma possível resolução do problema ou parceria é cogitada nos emails.

Na mesma entrevista, Ed explicou que a CBSk pressiona a ISF a fazer o COI a reconhecer todas as confederações nacionais de Skate como reais representantes do skate olímpico para Tóquio 2020, em um acordo que já tinha sido feito no momento da união entre FIRS e ISF, e que não foi não cumprido, segundo Ed.

O Surto Olímpico contactou Ed Scander e o vice presidente da CBSk não respondeu nossas perguntas, mas nos atualizou a situação do entrave, demonstrando confiança em uma reviravolta: "A Campanha #SomosTodosCBSk continua, mas já atingiu o objetivo que é sensibilizar o COB e COI. O COI se reuniu no mês passado (maio) com a FIRS e ISF para resolver esta situação e houve uma reunião entre ISF e CBSk no Rio de Janeiro durante o STU Open (em abril) onde deixaram a gente confiantes de que a decisão será revertida. " Até o momento, a campanha #SomosTodosCBSk já atingiu a marca de 17 mil assinaturas e quando chegar a 25 mil assinaturas o manifesto será entregue ao presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman.

Ser uma confederação reconhecida pelo COB é de enorme importância para a saúde financeira de uma confederação. Em 2017, as 29 confederações olímpicas filiadas vão receber do COB via lei Agnelo/Piva um total de 85 milhões de reais. Até o momento deste post,  a única confederação de um esporte que estará estreando nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020 que não consta ainda na lista de confederações filiadas ao COB é a Associação Brasileira de Escalada Esportiva, a ABEE. Segundo o COB, as novas confederações passarão a receber o dinheiro da Agnelo/Piva a partir de 2018

A situação de quem vai gerir o skate continua indefinida. Apesar da CBHP ter o respaldo do COB para gerir o esporte, uma adesão dos principais skatistas brasileiros à entidade para disputar os jogos de Tóquio é improvável no momento, pois os mesmos já cogitaram fazer um boicote às Olimpíadas se a CBSk, não for a responsável pelo skate olímpico até 2020. E a CBSk parece não ter a mínima vontade de organizar algo em conjunto com a CBHP, devido aos problemas com a entidade, após tentar organizar eventos de skate sem o seu aval. Faltam aproximadamente três anos para os Jogos de Tóquio e cada dia é mais um dia perdido no planejamento que já deveria ter sido iniciado para que o skate brasileiro possa brilhar no Japão em 2020 como já brilha nas pistas de skate pelo mundo. O problema é que uma solução até o momento está muito longe de ser encontrada.

Foto de capa: André Durão/Globoesporte.com

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