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E agora, o que vem depois dos Jogos Rio 2016?

Por Bruno Carril

No dia 24 de agosto de 2002, ao ser anunciada a escolha do Rio de Janeiro para ser sede dos Jogos Pan-americanos de 2007, foi iniciado um grande ciclo de investimentos e desenvolvimento esportivo, que, infelizmente, parece ter encontrado o seu fim quase exatamente 14 anos depois, no dia 21 de agosto de 2016, ao encerramento dos Jogos Olímpicos de 2016.

Durante todo o período, o Brasil experimentou os benefícios de uma economia sólida, com inequívocos avanços estruturais e sociais, projetados nas atividades esportivas, cada vez mais solidificados como um novo elemento de lazer e entretenimento, principalmente em razão dos grandes eventos que viriam a ocorrer no país, tais quais os Jogos Olímpicos, os jogos Pan-americanos, os Jogos Mundiais Militares e a Copa do Mundo.

Atualmente, entretanto, o cenário parece ser completamente diferente do que aparentava há menos de quarenta dias atrás. O cenário de crise econômica e política, a profunda crise de credibilidade das instituições públicas e a falta de perspectivas de novos eventos esportivos de grande porte parecem ter mergulhado o Brasil em uma enorme ressaca, que já começa a dar sinais nebulosos para o movimento olímpico brasileiro.

Depois de sete anos em que o orçamento do Ministério do Esporte teve aumentos constantes, a perspectiva para o ano que vem é de uma considerável redução nos investimentos. Se no ano de 2009, quando o Brasil foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos, o investimento total realizado pelo governo federal foi de R$ 580 milhões, alcançando R$ 1,9 bilhão no ano passado, para os próximos anos as perspectivas são menos animadoras.

A previsão orçamentária do governo federal limita os investimentos em R$ 960 milhões para o próximo ano. A situação de programas importantes como o Bolsa Atleta são uma enorme incógnita. Os correios anunciaram uma redução drástica nos investimentos diretos concedidos ao tênis, natação e handebol e espera-se que o mesmo caminho seja seguido por outras empresas públicas e estatais. Os patrocínios privados são um enorme incógnita e já existe um movimento de afastamento de técnicos estrangeiros, que tanto contribuíram para o desenvolvimento de algumas modalidades.

São problemas que precisarão ser contornados, para que o país possa seguir um caminho de crescimento e desenvolvimento esportivo. Sem a obrigação e o peso de ter que fazer um bom resultado em casa, o Brasil precisará, mais do que nunca, aprender a fazer uso consciente da verba que possui, otimizando recursos e trabalhando mais adequadamente a formação de estrutura e uma base sólida de atletas, preocupando-se menos com o repasse direto de verbas.

Se os últimos anos testemunharam um enorme crescimento e melhoria de resultados fundamentados, basicamente, na abundância de recursos, é chegado o momento de repensar completamente o modelo de desenvolvimento. Gastou-se demais e os resultados, se não foram ruins como alguns pessimistas gostam de alardear, inequivocamente não atingiriam o seu potencial. É preciso, mais do que nunca, investir na formação de uma base sólida, na constituição de uma estrutura adequada de instalações esportivas e incentivo à participação da ciência no esporte.

Há muito o que ser feito, mas é essencial que país tenha a consciência necessária para escolher os caminhos corretos, e evitar repetir o desempenho comum de tantos países que, após sediar os Jogos Olímpicos, acabam vivenciando um período de depressão esportiva, com resultados muito abaixo do esperado.
                              
Mais do que isso, é essencial que os esportes olímpicos comecem a ser pensados desde já. É preciso mudar a cultura de só lembrar de algumas modalidades a cada quatro anos, ou de realizar investimentos no ano anterior aos jogos olímpicos. A formação de um atleta olímpico leva oito, talvez doze anos. De grandes campeões, talvez, até mais. Investimentos isolados são ineficazes.

Mas é necessário que essa discussão comece desde já. Podemos, sim, driblar todos os problemas que teremos e continuar o nosso caminho de desenvolvimento. Mas, dessa vez, não teremos a oportunidade de cometer tantos erros. Nas próximas semanas, iremos promover, neste espaço, um completo debate sobre o desempenho brasileiro nos jogos olímpicos, como cada modalidade se desenvolveu nesse período, as perspectivas e os caminhos para que, em Tóquio 2020, possamos colher tais frutos.

As Olimpíadas podem ser a cada quatro anos. Mas os esportes olímpicos não param. 

*O artigo publicado é de inteira responsabilidade de seu autor. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista do site Surto olímpico


foto: Anthonin Thullier/ AFP/ Getty Images

                                     

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