Últimas Notícias

Iraniano bate recorde mundial três vezes, levanta 310kg e encanta crianças e adultos

Há algum tempo do início dos Jogos Paralímpicos Rio 2016, já se sabia que um dos pontos altos era o halterofilista iraniano Siamand Rahman (+107kg) que prometia romper a barreira dos 300kg. Chegou o dia, o momento, Siamand não decepcionou e ainda foi além. Na tarde desta quarta, ele bateu seu próprio recorde mundial (296kg) três vezes e estabeleceu uma nova marca- 310kg - que os amantes do esporte acreditam que vá durar muitos anos.

Na arquibancada, antes do início da disputa, os 300 kg davam asas à imaginação do público. As famílias cariocas Albuquerque e Pinheiro, que foram juntas ao Riocentro, fizeram diversas comparações. Luciano calculou em seis sacos de cimento. Cristiane materializou o número em sessenta sacos de arroz. A Alice imaginou três geladeiras, enquanto a Isabella comparou com o armário dela cheio. O Darci pensou na pilha de 300 sacos de açúcar, e a Beatriz calculou em três ovelhas. Anderson se multiplicou por três para mensurar, enquanto o Lucas imaginou uma pilha de dez dele mesmo.

“Eu me sinto pequena”, disse Alice Pinheiro. “Deve ser o homem mais forte do mundo”, imaginou Beatriz Albuquerque, de oito anos.

Apenas para garantir o ouro
Eram oito competidores na disputa apenas em teoria. Na prática, eram sete lutando por prata e bronze e um querendo superar a si mesmo. Siamand, último a entrar na competição devido à alta pedida, levantou 270kg com uma facilidade que deixou Beatriz, literalmente, boquiaberta.  “O braço dos outros tremia, o dele não. Parece que ele nem fez força”, disse.

A competição mal havia começado, mas a comparação com o segundo melhor peso levantando na primeira rodada excluindo-se o do iraniano - 228kg - foi suficiente para o verbo de Beatriz mudar: “Ele é com certeza o melhor do mundo”, afirmou.

Quando o painel mostrou o peso da segunda pedida de Siamand, os burburinhos começaram. Lucas Pinheiro, de 10 anos, não se aguentava na cadeira. Com uma bandeirinha do Irã, aproximou-se da grade para ver mais de perto. A trilha sonora de Star Wars tomou conta do Pavilhão. Quando chegou sua vez, Siamand entrou tranquilo. Ajeitou-se no banco, olhou para a barra, gritou o nome de Alá (Deus para os muçulmanos) e cumpriu o objetivo. O novo recorde mundial tornara-se 300kg. A marca ainda seria ultrapassada na competição, mas o que o iraniano havia feito até aquele momento já foi o suficiente para encantar a criança.

"Para mim, parecia quase impossível que uma pessoa que não mexe nada da cintura pra baixo conseguisse levantar 270kg, e depois 300kg. A gente nunca tem que desistir mesmo. Ele está na cadeira de rodas e não desistiu do sonho dele. Nada é impossível quando a gente quer. É um semideus", disse Lucas.

Na terceira pedida, Siamand levantou com sucesso 305kg. A torcida foi à loucura, gritos de “Irã, Irã” espalharam-se. O iraniano tornou-se bicampeão paralímpico levantando 70 quilos a mais que o medalhista de prata, o egípcio Amr Mosaad (235kg). O bronze foi para o jordaniano Jamil Elshebli (234kg).

“Não é minha melhor marca. Errei a segunda e isso me deixou um pouco pra baixo, mas estou feliz. O homem mais forte do mundo não vai ser batido, então estou muito satisfeito com a prata. É impossível ganhar dele, então prata é ouro para mim”, afirmou Amr.

Para aumentar ainda mais
Siamand queria mais. Para tentar quebrar recordes, é permitido ao competidor retornar à área de competição. O iraniano voltou e o público deitou-se no banco junto com ele. Repetiu o ritual: olhou para a barra, gritou Alá e deixou a marca de 310kg para a humanidade se desafiar nos próximos anos. Firmou-se como o homem mais forte do halterofilismo paralímpico mundial, e um dos poucos – entre pessoas com deficiência ou não – a levantar mais de 300kg no supino.

Quando o movimento foi validado, Siamand deu um sorriso de alívio, mas que trazia a tranquilidade de quem estava apenas confirmando o que sabia que era possível.

“Ele quebrou o recorde três vezes. E, nos treinos, já levantou até mais que isso, 315kg. É um recorde que não vai ser batido por anos. Ele é um símbolo para outras pessoas com deficiência e as encoraja a entrar no esporte”, disse o técnico Reza Astaraki

Para Siamand, ficou a satisfação e a consciência de que cada conquista é um convite à ação para quem enxerga a deficiência como obstáculo. “Estou orgulhoso de mim mesmo e da minha nação. Eu prometi que ia fazer e fiz. Gosto de ser exemplo para os que têm deficiência e estão em casa sem fazer nada. Quero ser modelo para eles, especialmente para os jovens”, afirmou o campeão, que foi vítima de poliomielite.

Mas Siamand não encanta apenas as pessoas com deficiência. As famílias Albuquerque e Pinheiro, por exemplo, saíram do Riocentro anestesiadas. “Ele ensina às crianças sobre os limites. Ou melhor, sobre não limites. É um exemplo para todos. Temos que refazer as contas, porque a gente esperava 300 kg e ele fez até mais. É um mito”, resumiu Anderson Albuquerque, em referência às comparações de peso que fizeram antes da competição.

“É uma lição para toda a vida. Às vezes a gente se depara com pequenas coisas e não consegue superar. Para ele, nada é obstáculo. Serve de inspiração”, acrescentou Luciano Pinheiro.

Siamand espera bater mais recordes daqui em diante. Perguntado sobre a barreira dos 400kg, ele disse que é difícil, mas que só o futuro vai dizer. Por ora, os 310kg estão mais do que suficientes, especialmente se revertidos em estímulo.

“Eu estou feliz por ser um exemplo para todos, especialmente para os iranianos. Na minha cidade, depois de mim, muita gente começou a fazer esportes. Eu tento provar que, quando há vontade, há um caminho”, resumiu o iraniano.

Fonte: www.rio2016.gov.br
Foto: Rio 2016/ Brandão

0 Comentários

.

APOIE O SURTO OLÍMPICO EM PARIS 2024

Sabia que você pode ajudar a enviar duas correspondentes do Surto Olímpico para cobrir os Jogos Olímpicos de Paris 2024? Faça um pix para surtoolimpico@gmail.com ou contribua com a nossa vaquinha pelo link : https://www.kickante.com.br/crowdfunding/ajude-o-surto-olimpico-a-ir-para-os-jogos-de-paris e nos ajude a levar as jornalistas Natália Oliveira e Laura Leme para cobrir os Jogos in loco!

Composto por cinco editores e sete colaboradores, o Surto Olímpico trabalha desde 2011 para ser uma referência ao público dos esportes olímpicos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Apoie nosso trabalho! Contribua para a cobertura jornalística esportiva independente!

Digite e pressione Enter para pesquisar

Fechar