Todos têm um coração. Do coração vem a força de todos os seres
humanos. E o coração não conhece limites, não importa se a pessoa tem
uma deficiência ou não. Aliás, quem não é deficiente em algo?
Passa por esses conceitos a mensagem da Cerimônia de Abertura dos
Jogos Paralímpicos Rio 2016, marcada para 7 de setembro no Maracanã. Em
coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (02.09), os diretores
criativos explicaram que o espetáculo vai falar de humanidade, de
diversidade. O tema da superação existe, mas ligado à eficiência dos
atletas que vão estar em ação até 18 de setembro: eles querem bater
recordes, ir além em suas performances.
“A gente entendeu que, acima de tudo, a cerimônia deveria passar a
energia sem fim que esses atletas têm. Superação é bater o oponente,
mais do que qualquer coisa, isso é o norte. A gente entendeu que a
deficiência era menos importante num certo sentido, já que todos nós
somos eficientes ou deficientes em algo”, disse Fred Gelli, um dos
diretores criativos.
“A gente quer provocar a audiência, quer desmontar o preconceito com a
deficiência. A gente entendeu, nesse mergulho no universo paralímpico,
que os atletas são grandes inspirações, e sempre tratando da alta
performance. Foi um trabalho motivante para todos nós e espero que a
gente consiga entregar uma cerimônia que mantenha o orgulho que as
cerimônias olímpicas trouxeram”, acrescentou o produtor executivo,
Flávio Machado.
O escritor Marcelo Rubens Paiva, que ficou paraplégico quando tinha
20 anos, em 1979, revelou outra marca da cerimônia. “Descobri o humor
entre os deficientes físicos. Essa cerimônia também tem humor, a gente
brinca com o assunto. É uma marca do movimento paralímpico”, disse o
também diretor criativo.
A exaltação não será ao país e sim ao ser humano, acrescentou
Marcelo, reforçando que o espetáculo terá uma mensagem clara. “É a
chance de falar com os deficientes no mundo todo, com os familiares, com
o pessoal envolvido na causa. Levantamos a questão da intolerância, da
diferença. Não temos que fazer uma rampa só para o cadeirante, mas
também para o idoso, para a grávida, para o carrinho de bebê. Estamos em
um novo mundo que vê o homem com múltiplos formatos. A cerimônia é a
maior bandeira da causa da diferença, da tolerância, do respeito ao
outro”, afirmou.
Números e atrações
Marcelo adiantou ainda um dos pontos altos da cerimônia. O momento da
entrada da bandeira do Brasil, segundo o diretor criativo, será
emocionante. “Podem preparar os lencinhos. É com alguém muito especial e
vai fazer todo o sentido”, disse.
A cerimônia está marcada para 18h15 e a expectativa é de que ela se
encerre por volta de 21h. Flávio Machado comentou uma das principais
diferenças em relação à cerimônia olímpica: a entrada dos atletas será
feita antes, exatamente 18 minutos depois do início do espetáculo. O
objetivo, segundo ele, é permitir que eles assistam a uma parte maior da
festa.
A pira será a mesma da Olimpíada, mas estará posicionada no lado
leste do estádio, enquanto em agosto ela esteve nos lados sul e norte na
abertura e no encerramento, respectivamente. A pira que fica em frente à
Igreja da Candelária, assim como no evento anterior, também será acesa
após a festa.
A cerimônia contará com a participação de dois mil voluntários, além
de 78 bailarinos profissionais. Haverá duas companhias de dança de
cadeirantes, e o samba não estará de fora do evento: Diogo Nogueira,
Hamilton de Holanda, Maria Rita, Pretinho da Serrinha e Gabrielzinho do
Irajá (sambista cego) são alguns dos nomes que farão uma roda de samba.
Uma Gisele norte-americana
“Falei com ela que é a Gisele Bündchen da nossa cerimônia”, disse
Marcelo Rubens Paiva sobre a atriz, modelo, dançarina e atleta de
snowborad paralímpico, a norte-americana Amy Purdy. Ela vai estrelar uma
apresentação solo na cerimônia de abertura com duração de cerca de 4
minutos.
Simpática e claramente empolgada com a participação no evento, Amy
contou que só aceitou o convite após saber mais detalhes sobre o
conceito por trás da cerimônia. Coube à coreógrafa Cassi Abranches
convidá-la diretamente no Colorado, nos Estados Unidos.
“Desde que começamos a trabalhar juntos, vi que o conceito era
espetacular. Qual a melhor palavra para traduzir ‘cool’ para
Português?”, perguntou. “É algo empolgante e ao mesmo tempo desafiador. A
mensagem é de que o espírito humano e a tecnologia podem trabalhar
juntos. No final, o espírito humano é mais forte, mas nós precisamos dos
dois. Acho que minha performance vai explicar essas relação entre
tecnologia e humanidade”, disse a dançarina, que é biamputada.
Amy contou também que, em determinado momento da apresentação, ela
terá um parceiro “incrível”, mas não revelou o nome do companheiro no
espetáculo. Após a cerimônia, Amy vai trabalhar para a rede de TV
norte-americana NBC na cobertura do basquete em cadeira de rodas.
Segundo o Comitê Organizador Rio 2016, até a manhã desta sexta-feira,
haviam sido vendidos 41 mil dos 45 mil ingressos disponíveis para a
Cerimônia de Abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016.
Foto: Getty Images
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