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Único brasileiro na ginástica de trampolim, Rafael Andrade só pensa em não errar

No Rio de Janeiro, o Brasil competirá nas Olimpíadas com a maior delegação de sua história desde que iniciou sua caminhada nos Jogos, em 1920, na Antuépia. Serão 465 atletas defendendo as cores verde e amarela diante de milhares de torcedores nas arenas e outros milhões espalhados de norte a sul do país.

Mas, apesar do número recorde de participantes, Rafael Andrade, nascido em 7 de maio de 1986, em Goiânia, é um guerreiro olímpico solitário. Aos 30 anos, ele é o único representante do Brasil no Rio 2016 em uma modalidade que ainda é pouco conhecida e praticada no país: a ginástica de trampolim

O Brasil jamais competiu nesse esporte em Olimpíadas e, assim, caberá a Rafael fazer história ao se tornar o primeiro atleta olímpico brasileiro na modalidade. “A ginástica de trampolim entrou no programa olímpico em 2000 e essa é só a quinta Olimpíada. Dentro da ginástica, é a modalidade mais nova e uma das mais novas entre todos os esportes do programa, tanto que o número de vagas olímpicas é bem limitado. São só 16 atletas. No Mundial disputaram 131 atletas, todos especialistas em um único aparelho, e desses só 16 vão para as Olimpíadas. Então eu me sinto honrado por fazer parte desse grupo. É um sonho que se realiza. É a primeira vez que o Brasil terá um representante e espero que as próximas gerações possam continuar com essa missão”, diz o ginasta.

Rafael começou na ginástica de trampolim aos 10 anos, de um modo totalmente inesperado, já que o plano inicial eram praticar ginástica artística. “Lá em Goiânia, onde eu comecei, os equipamentos de ginástica artística eram muito velhos. Mas eles tinham uma cama elástica que era um aparelho mais novo. Então a gente usava mais aquele trampolim porque ele estava em melhores condições. E acabou que foi assim que eu entrei para essa modalidade. Não foi nada planejado. Foi a vida que me levou mesmo”, admite.


O ginasta entrou na Vila dos Atletas na terça-feira (02.08) à noite e ontem acordou para fazer o primeiro reconhecimento do local. “Eu estava ansioso para conhecer todos os espaços e ver tudo. Estou dando a primeira volta na Vila, vendo as coisas, e é emocionante. Estou muito feliz”.

Até a hora de competir, Rafael ainda terá pela frente vários dias para aproveitar ao máximo a experiência como atleta olímpico. Na sexta-feira (5.8), ele participa do desfile na cerimônia de abertura dos Jogos Rio 2016 e, depois, retoma os treinos para defender o país na Arena Olímpica do Rio, no Parque Olímpico, na Barra da Tijuca.

Para o ginasta, o mais importante até o dia da prova é estar bem preparado para controlar a ansiedade e o nervosismo, de modo a impedir qualquer falha. Os 16 atletas competem na fase preliminar no Rio em duas series, uma obrigatória e uma livre. A somatória das duas apresentações determina a nota total e os oito melhores avançam para a fase final, no dia seguinte.

“Minha expectativa é fazer uma competição limpa. É fazer essa estreia do Brasil em Olimpíadas na ginástica de trampolim ser algo bonito com a minha série. O trampolim é um esporte muito cruel porque depende muito do momento. É impreciso. Não é igual à ginástica artística que se acontecer um erro você continua. No trampolim, se você tiver uma falha no primeiro salto acabou a sua série. Você não continua. O erro interrompe tudo. Isso gera uma ansiedade e aumenta o nosso estresse, porque a gente sabe que não pode cometer nenhuma falha. A gente treina muito visando isso, não cometer falhas. Então, o que eu quero aqui no Rio é competir sem falhas, não pensando em colocação, em resultado. O meu objetivo é esse: concluir a apresentação”, detalha.

Ao contrário de muitos atletas da delegação brasileira que buscaram apoio psicológico para lidar com as pressões de disputar os Jogos em casa, Rafael revela não trabalhar com psicólogo em seu desafio de frear o nervosismo e o estresse. Ele diz que tem buscado outras formas de lidar com a pressão a que vai ser submetido no dia 13 de agosto.

“Eu já tenho uma vivência no esporte. Eu já não estou mais no início da minha carreira. Agora vai ser diferente do que foi nos Jogos Pan-Americanos aqui no Rio em 2007, que foi a minha primeira grande competição. Eu tinha 21 anos e não tive uma competição boa. Eu fiquei nervoso com o público, com todos os meus amigos, minha família, todos próximos, e eu me senti na obrigação de ter que fazer uma coisa muito bem-feita. Isso foi um aprendizado grande e que eu espero que sirva para esse momento que eu vou viver agora”, recorda o atleta.

Vaga no Mundial
Por ser país-sede, o Brasil tinha uma única vaga assegurada na ginástica de trampolim. Os atletas da Seleção Brasileira, tanto no masculino quanto no feminino, disputaram essa vaga e, ao final, Rafael superou os outros seis companheiros, três homens e quatro mulheres, que estavam no páreo. Assim, conquistou seu lugar nos Jogos Olímpicos Rio 2016.

“Eu fui o melhor brasileiro no Mundial. Fiquei em 36º, entre 131 atletas, em novembro, na Dinamarca, e foi ali que eu garanti a vaga”, lembra o atleta, que nos últimos anos viveu fora do país, na Europa.

“Meu treinamento eu fiz todo fora do Brasil. Desde 2014, eu estou morando na Inglaterra (na cidade de Poole)”, diz. Para ele, essa distância foi um dos fatores positivos que o ajudaram a se classificar para as Olimpíadas. “Ter ficado longe e ter vindo para o Rio só agora me ajudou a não ficar preocupado com a pressão das Olimpíadas. Às vezes eu nem lembrava de Olimpíada e ficava só pensando no treino e acho que isso me ajudou”.

Indagado como imagina que serão as emoções da cerimônia de abertura, Rafael disse que, por estar vivendo um passo de cada vez, ainda não havia pensado nisso. “Eu ainda não parei para imaginar como será o desfile, porque ainda não consegui dimensionar a grandeza disso tudo. Estou descobrindo as coisas agora. Só quero desfrutar ao máximo. Sei que será uma experiência única na minha carreira, provavelmente não vou viver isso de novo, e então quero aproveitar o máximo que puder”.

Só detalhes
A delegação do Brasil na ginástica de trampolim no Rio 2016 é restrita apenas a Rafael e sua técnica, Tatiana Figueiredo. Para ela, após a chegada à Vila, o momento é de iniciar os treinos e ajustar os últimos detalhes para a competição olímpica.

“Vamos fazer os primeiros treinos, nos adaptar à aparelhagem, mas agora são só os ajustes finais. As séries já estão todas prontas, ele já fez várias competições de preparação antes de chegar aqui e então está tudo bem. Agora é mais a adaptação mesmo e pensar na parte psicológica. Temos que fazer o treino de pódio, conhecer o ginásio, que é bem grande, e só falta ajustar os detalhes nessa adaptação mesmo”, diz a técnica.

Para ela, o mais importante dos Jogos Olímpicos Rio 2016 será tornar a modalidade mais conhecida no país. “É uma oportunidade de aparecer, de a gente ter bastante exposição. Espero que o esporte cresça e que haja mais praticantes no Brasil depois das Olimpíadas”, encerra Tatiana.

Foto: Brasil 2016


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