Leandro Guilheiro não disputou diretamente os Jogos
Olímpicos do Rio 2016, mas teve importância estratégica na conquista do
segundo pódio de Mayra Aguiar, conquistado na quinta-feira na categoria
até 78kg. Leandro é dono de dois bronzes olímpicos, obtidos em Atenas
(2004) e Pequim (2008). Aprendeu como poucos a dominar o gosto amargo da
derrota antes de chegar a uma decisão. E foi ele quem ajudou a deixar
na cabeça de Mayra o sentimento de que não poderia se entregar diante do
abatimento que, inevitavelmente, se segue ao fato de perder uma chance
de disputar o ouro.
"Em Londres eu perdi e fiquei muito triste, abatida, mas o
pessoal que estava comigo me motivou. O Leandro Guilheiro me falou uma
coisa que me marcou. Ele disse que eu ia me arrepender se não desse tudo
naquela luta pela medalha de bronze, que valeria muito ir até o final.
Eu fui e lutei, fui com tudo, e conquistei. Foi incrível. Desta vez,
depois da semifinal, eu me lembrei das sábias palavras dele de novo, fui
lá e conquistei meu bronze de novo Rio”, afirmou a atleta, em
entrevista coletiva no Espaço Time Brasil, no Rio de Janeiro.
Mayra Aguiar perdeu a chance de lutar pelo ouro em casa ao
ser derrotada pela francesa Audrey Tcheumeo na semifinal. Mesmo
chateada, não baixou a guarda e superou a cubana Yalennis Castillo na
disputa do bronze. “Tem horas que não sei decidir qual foi a
melhor medalha. O bronze de Londres foi a primeira, impossível não
ficar feliz. Mas receber uma medalha no seu país, com aquela torcida
vibrando comigo, não tem preço”, disse a atleta, que se tornou a única
judoca brasileira a subir ao pódio olímpico duas vezes.
O tempo entre a eliminação da final e a disputa do bronze
foi de 20 minutos, mas para ela tudo pareceu passar num piscar de olhos.
“Foi rápido demais. Se foram pouco mais de 20 minutos, para mim pareceu
menos. Quando a gente perde uma luta,, é horrível. Fica um sentimento
amargo. O chão parece que sai, é muito ruim. Isso porque você chega com
um objetivo e ele acaba se perdendo”, explicou Mayra.
Depois de subir ao pódio, a adrenalina, segundo a atleta,
foi tal que ela nem conseguiu relaxar e descansar. “Vencer em casa e ver
a família, amigos e torcida foi algo único. Fiquei tão eufórica que até
agora não dormi. Cheguei na Vila com a cabeça agitada, lembrando tudo
de novo, corpo dolorido, porém realizada”, conta.
Japão no horizonte
Ainda com 25 anos, Mayra sabe que é extremanente factível
chegar com condições de brigar pelo pódio também em Tóquio, nos Jogos de
2020. “Eu pensei em tirar férias depois dos Jogos, mas quando mentalizo
2020 eu já fico empolgada. Já penso em botar o quimono de novo. Só de
pensar no Japão, a casa do judô, eu já fico animada. Tenho certeza de
que a estrutura será enorme”, conta Mayra.
O foco é considerado por ela uma peça-chave para o
sucesso. Até por isso, ela optou por se desconectar do mundo virtual na
reta final de preparação. “Ficar sem as redes sociais antes e durante as
competições me ajudou. Foi uma coisa que nunca tinha feito, ficar tanto
tempo sem celular. Em Londres, tive experiências ruins por acompanhar
tudo. É fácil você se abalar e deixar o sentimento te abater. Vi que
estar desconectada do mundo virtual fazia eu treinar mais forte e
valorizar meu tempo de descanso”, explica.
Energia externa
Mayra falou, por último, sobre a importância da torcida no
momento da competição. “Eu fico 100% em foco, posso até dizer que eu
não consigo nem ouvir nada que a torcida diz, mas a energia que senti
ontem não tem nem como explicar. Vencer e correr pra torcida, meus
amigos e para minha família foi a melhor sensação da minha vida. Espero
ter a oportunidade de competir no Brasil muitas vezes”, conta Mayra.
Foto: ME
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