Se a divisão populacional entre os países valesse como critério
para definir audiência, seria válido dizer que, para 20% das pessoas
conectadas aos Jogos Olímpicos do Rio mundo afora, há um nome tão ou
mais relevante que Usain Bolt, Novak Djokovic ou os astros da NBA. Um
atleta de 27 anos que não fala inglês com naturalidade, é tímido para
dar entrevistas com o tradutor chinês-inglês ao lado e carregou durante
um bom tempo, na adolescência, o apelido de "Dragão Gordinho".
“Eu tinha o rosto meio cheinho, redondo, quando era mais jovem e
ganhei esse apelido dos colegas de equipe”, disse Ma Long. Hoje
mundialmente conhecido pelo ótimo trabalho de pernas durante as partidas
e a forma física impecável, o atleta de 27 anos, 1,75m e 72kg é o
número um do ranking mundial do tênis de mesa.
Na China, o esporte tem dimensão cultural e simbólica similar à do
futebol no Brasil. Há quem brinque que, para eles, não trazer para casa
todos os ouros do tênis de mesa teria peso comparável aos 7 x 1 do
Brasil na semifinal da Copa de 2014. E existe um quase consenso na
modalidade: a competição interna para definir o time chinês é mais
complicada do que a tarefa de ganhar de todos os competidores do resto
do mundo.
“As duas coisas são muito, muito difíceis”, afirmou Ma Long, após a
primeira sessão de treinos da equipe asiática no Pavilhão 3 do
Riocentro, palco da modalidade nos Jogos Olímpicos, entre os dias 6 e 17
de agosto. “Nos quatro últimos anos, treinei muito duro e joguei
partidas e torneios extremamente difíceis. Como todos sabem, a
competitividade dentro da equipe chinesa é forte. Só havia duas vagas
para estar aqui, e conseguir estar nesse posto exige dedicação”,
afirmou.
Pressão
Com amplo favoritismo na disputa por equipe, o grande desafio de Ma
Long na chave individual tem tudo para ser contra seu compatriota e
atual campeão olímpico, Zhang Jike. As partidas entre os dois costumam
ser épicas e envoltas em rivalidade, embora nos últimos meses Zhang Jike
tenha sido o único entre os chineses da seleção a perder algumas vezes
para “não chineses” no circuito mundial. Mas, ao mesmo tempo, Jike é
conhecido pela capacidade de brilhar mais intensamente em eventos de
grande porte.
“O único trunfo do resto do mundo é que eles chegam sob muita, muita
pressão. É desse cenário bem específico que algum outro atleta pode ser
aproveitar. As Olimpíadas são um torneio diferente, com uma atmosfera
diversa”, afirmou recentemente, durante um torneio de demonstração da
modalidade no Rio, o veterano Jean-Michel Saive. O belga já liderou o
ranking mundial da modalidade e disputou sete vezes os Jogos Olímpicos.
“E o Ma Long tem mesmo de se cuidar. O Zhang Jike é bem conhecido por
tirar cartas da manga em torneios de grande repercussão”, completou
Saive.
Ma Long diz ter exata noção disso. “Existe, sim, muita pressão. A
medalha de ouro individual olímpica está num nível bem mais alto na
comparação com qualquer outro torneio. A minha expectativa, claro, é
buscá-la. Mas sei que, para isso, preciso estar 100% focado o tempo
inteiro e desempenhar 100% do meu jogo”, afirmou o campeão mundial.
Elogios ao Brasil
A equipe brasileira, no cenário mundial, ocupa um status de
coadjuvante qualificada. Qualificada porque tem sido hegemônica,
principalmente no masculino, no continente americano. No ano passado, o
país ficou com o título individual e por equipes do Pan de Toronto, no
Canadá. Além disso, Hugo Calderano, Gustavo Tsuboi e Cazuo Matsumoto, o
trio que representará o país no Rio, tem feito partidas bastante
equilibradas contra atletas do top 20 do mundo, conquistando inclusive
importantes vitórias. Para Ma Long, esse crescimento tem sido visível.
“Nos últimos anos, o Brasil melhorou bastante, com jogadores muito
competitivos. Eles têm uma comissão técnica extremamente qualificada e
vejo um futuro promissor para eles”, afirmou, citando especificamente um
dos consultores técnicos da equipe brasileira, Peter Karlsson. O sueco
foi tetracampeão mundial por equipes e campeão europeu na chave
individual em 2000.
Foto: ITTF
0 Comentários