A primeira vez em que Yuri van der Heijden esteve no Brasil, ele
tinha 1 ou dois anos. Dali até os 16, de dois em dois anos passava
férias na terra natal de sua mãe, brasileira, enquanto era criado na
Holanda, onde seu pai nasceu e onde começou a jogar hóquei sobre grama
aos 7 anos, influenciado por primos mais velhos. Foi quando passou uma
semana treinando na equipe de hóquei sobre grama do Germânia, clube do
Rio. Era menino ainda, 16 anos. Mas dois anos depois recebeu um
telefonema do técnico da seleção, o convidando para passar uns dias na
concentração, treinando com o grupo. Não saiu mais.
"Eles gostaram e me chamaram para jogar o Sul-americano de Hóquei de
Montevidéu, um mês depois. No início, disputava cerca de dois
campeonatos por ano pelo Brasil e depois voltava para a Holanda, para o
meu clube. Mas de dois anos para cá, tenho ficado muito mais aqui do que
lá. Nos primeiros seis meses de 2016, joguei apenas sete jogos pelo meu
clube (Larensche MHC) e passei cinco meses com a seleção", comentou
Yuri, 26 anos, que tem dupla nacionalidade, assim como seu irmão caçula,
Patrick, de 23 anos, também da seleção.
Essa será a estreia do hóquei brasileiro em Jogos Olímpicos. Uma
conquista sacramentada com muita festa no ano passado, nos Jogos
Pan-americanos Toronto 2015. Para conseguir uma vaga nas Olimpíadas, o
Brasil precisava ficar pelo menos entre os seis primeiros colocados do
Pan. Nas quartas de final, contra os Estados Unidos, o jogo terminou
empatado em 1 a 1 e foi para os pênaltis. A seleção – que terminou a
competição em quarto lugar – venceu a disputa por 3 a 1, garantindo a
ida para as semifinais e para os Jogos Olímpicos Rio 2016.
"Essa vitória sobre os Estados Unidos foi um dos melhores dias da
minha vida. Foi muito louco. A gente chorava, gritava. No ônibus, na
volta, teve muita música", lembrou Yuri, que fala português bem, mas com
forte sotaque, e ficou tímido na hora de cantar: "A gente sempre canta
Pescador de Ilusões, mas sozinho para mim é difícil. Eu acompanho os
outros, quando todo mundo está junto", contou, rindo.
Este ano, com as seleções europeias na jogada, Yuri sabe que as
chances de a seleção brasileira acabar numa posição tão boa são
pequenas. Para ele, importa é sentir uma evolução. E, acima de tudo, ver
o esporte crescer. "A gente quer fazer a criança conhecer o esporte e
se interessar em praticar. Dois jogadores da equipe têm projetos com
escolas: o Bruno Mendonça, no Rio, e o Augusto Felipe, em São Paulo. O
sonho é ver o hóquei cada vez mais popular", disse ele, que hoje se
sente mais brasileiro do que holandês: "Nos últimos meses, pensei muito
nisso. No início, meu sentimento era maior pela Holanda. Mas isso foi
mudando com o tempo. Ser jogador da seleção brasileira foi a melhor
maneira de conhecer o país da minha mãe e de me apaixonar por ele. Hoje,
não trocaria por nada. Tenho orgulho do que fazemos aqui".
Foto: COB
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