Em um ano, a jovem síria Yusra Mardini pode dizer que ganhou
duas inesperadas famílias. A primeira é formada por todos que a
acolheram na Alemanha, país que a recebeu como refugiada quando ela
conseguiu fugir, em agosto do ano passado, da guerra civil em seu país
natal. A segunda conta com mais nove pessoas e se reuniu pela primeira
vez neste mês no Rio de Janeiro, para os Jogos Olímpicos 2016.
Mesmo com pouco tempo de convívio e diferentes origens, os dez
atletas do Time Olímpico de Refugiados (TOR) partilham histórias de
perda e superação. Além disso, representam mais de 65,3 milhões de
refugiados, de acordo com dados de 2015 da Agência das Nações Unidas
para Refugiados (Acnur).
“Nós estamos muito felizes juntos. A equipe toda é muito unida. Não
temos a mesma língua, mas a bandeira olímpica nos uniu e agora vamos
fazer o máximo para demonstrar que somos pessoas do bem não só no
esporte”, disse Yusra, ao lado dos outros atletas refugiados, em
coletiva nesta terça-feira (02.08), no Centro de Mídia do Parque
Olímpico da Barra da Tijuca.
O time é formado pelos congoleses Yolande Mabika (judô feminino, peso
médio) e Popole Misenga (judô masculino, peso médio), os nadadores
sírios Ramis Anis (100m livre e 100m borboleta masculino) e Yusra
Mardini (100m borboleta feminino), os sul-sudaneses do atletismo Paulo
Lokoro (1.500m), Yiech Pur Biel (800m), James Nyang (400m), Anjelina
Nadai (1.500m) e Rose Lokonyen (800m), além do etíope Yonas Kinde, que
disputará a maratona.
A participação nos Jogos Rio 2016 é motivo de muito orgulho para cada
um deles. “Essa é a primeira equipe de refugiados que vai disputar as
Olimpíadas. A gente vai sair da tristeza para a alegria e isso vai
transformar a nossa vida. O Rio não é o fim de tudo, acho que será uma
porta aberta para novos talentos. Seremos embaixadores e voltaremos para
inspirar outras pessoas como nós. Saímos de nossos países por causa da
guerra e precisamos ajudar as pessoas, os jovens principalmente, para
que eles tenham uma vida melhor”, disse o corredor Yiech Pur Biel.
O exemplo dado pelos atletas já inspira pessoas por todo o mundo.
Yusra Mardini conta que tem recebido várias mensagens de apoio. “Existem
muitas pessoas que estão esperando muito da gente, com muita
expectativa. Muita gente está nos escrevendo, contando suas histórias”.
Essa corrente positiva une-se à motivação de um dia retornar à terra
natal. “Existem muitos problemas em nossos países, mas toda vez que a
gente lembra das coisas boas de lá, das boas memórias, tudo isso nos
motiva”, contou a garota de 18 anos, que tem o sonho de retornar a
Damasco, cidade em que nasceu.
Também sírio, o nadador Rami Anis vê o futuro com esperança. “Quando
eu era criança, sonhava em participar das Olimpíadas sob a bandeira do
meu país, mas tenho orgulho de estar participando com o time de
refugiados. Eu sempre penso na Síria, e espero que em 2020 não haja mais
refugiados”, vislumbrou.
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