“Vamos ganhar o ouro no Rio”. Foi essa a frase que a norte-americana
April Ross escutou de ninguém menos que a compatriota Kerri Walsh
Jennings pouco depois de ter sido derrotada por ela e Misty May-Treanor
na final do vôlei de praia nos Jogos de Londres, 2012. April acabava de
escrever seu nome na história olímpica, tornando-se medalhista de prata
junto com Jennifer Kessy, mas viu diante de si uma grande oportunidade
de ir ainda mais longe. E também um enorme desafio.
Três vezes campeãs olímpicas juntas (Atenas 2004, Pequim 2008 e
Londres 2012), Walsh e May tornaram-se praticamente um nome só, uma
referência de sucesso, mas May decidiu se aposentar após 2012. Walsh
prosseguiu e escolheu April como companheira. O objetivo foi traçado
desde o primeiro momento: chegar ao pódio no Rio 2016.
A quatro dias da estreia olímpica na Arena de Vôlei de Praia, em
Copacabana, a jogadora de 34 anos se emocionou quando questionada sobre a
nova parceria. Para Ross, todo o caminho percorrido até aqui ao lado de
Walsh é sólido e vai muito além da pressão de estar hoje no lugar de
May. Não se trata apenas de uma substituição.
“Eu realmente valorizo quando você pergunta sobre o novo time. Não
estou apenas substituindo uma pessoa, nós trabalhamos pesado para criar
um novo time. Acho que fizemos um bom trabalho ao desenvolver a
parceria. Temos muito o que fazer aqui no Brasil para escrever nosso
nome na história. Estou focada em jogar o melhor que puder, jogando o
melhor possível com Kerri, como time”, disse Ross.
Atuar ao lado da tricampeã olímpica é algo que ela define como uma
honra. “Amo jogar com a Kerri. É uma parceira incrível, a pessoa mais
generosa, aprendo muito com ela. Estar com ela nos Jogos Olímpicos é uma
grande honra”.
Um dos momentos que mais fortaleceu a parceria foi recente: Walsh
lesionou o ombro direito e passou por cirurgia em setembro de 2015. “Desde
o primeiro segundo quando entrei na quadra com a Kerri, vi que tínhamos
muito em comum. Mais similaridades do que pensei que teríamos. Somos
competitivas, compreensivas, e acho que isso foi importante. A lesão no
ombro da Kerri nos ajudou ainda mais como equipe. Tivemos que realmente
confiar uma na outra, então aprendemos com tudo isso”, disse.
O retorno ao Circuito Mundial, após a recuperação, não poderia ter
sido melhor: vitória no Grand Slam do Rio, em março de 2016, a primeira
de muitas conquistas nos meses antes da Olimpíada. Walsh e Ross também
venceram o Open de Fuzhou, na China, o Open de Cincinnati, nos Estados
Unidos, e o Grand Slam de Moscou, na Rússia, neste último vencendo
Larissa/Talita, em maio. O troco veio há duas semanas no Major de
Gstaad, na Suíça, quando as brasileiras devolveram o placar de 2 sets a
0.
A novela do voo
Ross tinha o voo reservado para o Rio havia meses, mas o mau tempo no
dia da partida pegou a jogadora de surpresa. O atraso de horas na
“primeira perna”, de Houston para Miami, acarretou a perda da conexão
para o voo de Miami ao Rio. Ela só não imaginava que conseguir uma
alternativa seria tão difícil. “Pensamos: ‘sem problemas, pegamos o
próximo voo, ou procuramos outra companhia aérea’. Conversamos com a
companhia do nosso voo original, eles se esforçaram para nos ajudar, mas
disseram que todos os assentos de todos os voos para o Rio estavam
vendidos. O próximo voo livre seria dia 6 de agosto. Pensamos: ‘Como
vamos chegar lá? Isso será depois da Cerimônia de Abertura’! Ligamos
para a federação de vôlei, para o Comitê Olímpico, eles entraram em
contato com as companhias. Ainda não sei como conseguiram, mas acharam
três assentos naquela mesma noite. Estamos agradecidos por eles terem
conseguido”, relembra. Os outros dois assentos foram para os também
jogadores da modalidade Nick Lucena (parceiro de Phil Dalhausser) e
Brooke Sweat (que joga com Lauren Fendrick).
Há um dia no Rio, April disse que está curtindo cada momento. Já não é
uma estreante em Jogos, o nervosismo da primeira Olimpíada ficou pra
trás, ainda mais em uma cidade onde já competiu várias vezes. “Não
esperava estar tão confortável como estou. Já estive aqui antes, é muito
divertido, mas não esperava tanta familiaridade. É uma honra
representar o meu país, mas esse sentimento se multiplica quando você
chega aqui, entra na Vila, compete. Como é a segunda vez, me sinto mais
preparada do que nervosa”.
Rivalidade no caldeirão
Walsh e Ross são candidatas ao pódio assim como as brasileiras
Larissa/Talita e Ágatha/Bárbara. Até aí, nenhuma novidade: a rivalidade
Brasil x Estados Unidos é praticamente tão antiga quanto o vôlei de
praia.
“É interessante como esta rivalidade existe até hoje tão forte. Os
dois países têm disputas nacionais fortes, podemos competir em alto
nível todo fim de semana e estamos sempre no pódio dos eventos mundiais.
Vai ser uma loucura no melhor sentido”, afirmou.
Basta saber se a medalhista olímpica está pronta para aguentar a
pressão de 12 mil pessoas, numa arena candidata a caldeirão, na praia
mais icônica da cidade maravilhosa.
“Doze mil não, porque minha família e a da Kerri vão estar aqui! Foi
bom ter jogado aqui antes, ainda que em uma arena menor, mas toda a
torcida era para o Brasil. Não sinto que estarão contra nós, é mais a
favor do Brasil. Eles são torcedores respeitosos, Kerri em especial tem
muitos fãs aqui, mas espero que ganhemos alguma torcida por boas
jogadas. Tentei me preparar para isso, mas não sei como vai ser. Doze
mil torcedores brasileiros gritando, eu espero bandeiras e batucadas,
será uma experiência única”, descreveu.
Walsh e Ross estreiam na madrugada do dia 6 para 7 de agosto, à meia-noite, contra as australianas Artacho del Solar e Laird.
Foto: Getty Images
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