A Competição de Salto em distância masculino no México em 1968 prometia ser interessante. Os medalhistas olímpicos de Tóquio, o britânico Lynn Davies, o americano Ralph Boston e o soviético Igor Ter-Ovanesyan estariam presentes, mas quem detinha o favoritismo da prova era o americano Bob Beamon, que havia vencido 22 das 23 competições que participou em 1968.
Mas a pressão estava afetando Beamon. Na primeira fase ele por pouco não se qualificou à final. O norte-americano queimou nos dois primeiros saltos e apenas no último conseguiu a classificação, com a ajuda de Ralph Boston, que o aconselhou antes do derradeiro salto.
Na final, caia uma chuva persistente, e que supostamente favorecia Davies. Dezessete competidores se preparavam para saltar, sendo que Beamon era o quarto a competir. E logo no primeiro salto de Beamon, tudo aconteceu.
Beamon se concentrou por 20 segundos no começo da pista de corrida, reunindo forças e dizendo a si próprio para não queimar o salto. Então ele começou a corrida em direção a caixa de areia, chegou na tábua de decolagem, saltou numa altura inacreditável e aterrissou tão forte na caixa de areia que ele foi "rebatido" para frente e para fora da caixa. Beamon assombrou o mundo saltando incríveis 8,90m, que significava o novo recorde mundial, antes marcado em 8,35m.
Os competidores se entreolhavam incrédulos. Boston disse "Isso foi 8,90m" e Lynn respondeu: "No primeiro salto? Não pode ser!!" Um juiz usou um marcador ótico para medir a distância, mas antes de chegar no local, o medidor caiu e teve que ser utilizado a velha trena para fazer a marcação. Foi registrado 8,90, mas Beamon, não familiarizado com o sistema métrico, não tinha noção de quanto havia saltado.
Apenas quando Boston disse que ele havia saltado 29 pés, Beamon ficou abismado com tal distância. O atleta teve um ataque de cataplexia provocado pelo choque emocional, caindo de joelhos. Os demais saltadores o ajudaram a se reerguer e Davies se virou para Beamon falando:"Você destruiu esse evento".
A prova continuou, mas apenas para confirmar a vitória de Beamon, pois começou a chover mais forte e acabou de vez com a possibilidade de algum atleta chegar pelo menos perto da marca de 8,90. O segundo colocado, o alemão Klaus Beer marcou apenas 8,19 e Boston ficou em terceiro com 8,16.
Ao fazer seu salto recorde, Beamon teve um número de fatores ambientais vantajosos. A uma altitude de 2.240 m, o ar da Cidade do México tinha menos resistência do que o ar ao nível do mar, embora a atmosfera rarefeita na Cidade do México teria feito uma diferença de apenas cerca de 4cm, segundo estudiosos.
Beamon também se beneficiou de um vento 2 metros por segundo em seu salto, o máximo permitido para fins de registro. Estima-se que o vento e a altitude podem ter melhorado o salto de Beamon por 31cm. Depois de ganhar a medalha de ouro na Cidade do México, Beamon não conseguiu sequer se aproximar de seu feito, ele nunca mais pulou mais do que 8,22m.
O feito de Beamon foi tão incrível que levou 23 anos para ser superado. Somente o americano Mike Powell, em 1991, conseguiu 8,95m no Mundial de Atletismo em Tóquio. Nos Estados Unidos, criou-se um jargão esportivo chamado 'Beamonesque', usado para descrever uma atuação espetacular de um atleta. O Salto de Beamon ainda hoje é o recorde olímpico na prova.
A Sports Illustrated considera o salto de Beamon um dos cinco eventos mais incríveis da história do esporte no século XX.
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