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Meu Momento Olímpico: Kaio Esteves

Vanderlei Cordeiro em 2004, o momento olímpico do jornalista Kaio Esteves

"Era 2004. Jogos Olímpicos de Atenas, na Grécia. Eu estava no auge dos meus 13 anos. Sempre fui muito apegado ao futebol e ao meu Corinthians, mas comecei a gostar demais de assistir aos Jogos Olímpicos naquele ano. As disputas me instigavam do basquete à esgrima. Ver os campeões subindo no pódio, se emocionando tanto com aquelas conquistas também me deixava curioso.

Eu ainda não tinha quase nenhuma obrigação a não ser estudar e, por mais que essa fosse minha única tarefa diária, naquele dia fui pra escola normalmente. Não precisei matar aula para ver o Vanderlei Cordeiro de Lima correr como fiz várias vezes na Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coreia do Sul, quando a maioria dos jogos aconteciam de manhã ou de madrugada.

Eu não lembro a sequência no revezamento das posições do pelotão principal. Só lembro que Vanderlei surpreendeu quando estava entre os primeiros da prova. A liderança veio num momento importante da prova e eu estava ali, vidrado, na expectativa de mais um ouro para o Brasil.

Como na Eurocopa daquele ano, assisti aos Jogos Olímpicos sozinho, na minha pequena casa de quatro cômodos em Irapuru (SP), cidade de pouco mais de 7 mil habitantes. Foi uma época de muita dificuldade financeira e até mesmo psicológica. Meus pais haviam se separado. Meu irmão, cinco anos mais velho, quase não ficava em casa e minha mãe precisava trabalhar o dia todo para sustentar os filhos, além de estudar à noite. Só eu e a TV, por anos, fomos dois solitários amigos vibrando e chorando juntos, principalmente nos grandes eventos esportivos como a Copa de 2002, a Euro e as Olimpíadas de 2004. Criei o meu mundo ali, com minha TV de tubo de 20 polegadas, meu Playstation 1 com meus jogos de futebol e F1 e meu sofá velho.

Apesar das dificuldades, esse tempo me traz boas lembranças. A vibração de ser pentacampeão em 2002 e lamentar a derrota de Portugal para a Grécia na final da Euro foram tão grandes quanto o sentimento de ódio ao ver Vanderlei Cordeiro de Lima sendo empurrado por aquele manifestante vestido com aquele traje tradicional grego.

Mesmo diante daquele absurdo, Vanderlei não se abateu e continuou na prova. Perdeu duas posições, diminuindo o ritmo da corrida por conta do empurrão, mas conseguiu chegar ao grande Estádio Panatenaico e finalizar a prova em terceiro. Mais tarde, Vanderlei era premiado com, além do bronze, a medalha Pierre de Coubertin - entregue pelo Comitê Olímpico Internacional para exaltar o alto grau de esportividade e o espírito olímpico demonstrado por um atleta durante a disputa dos Jogos.

Mesmo diante da dificuldade, Vanderlei se superou e mostrou ser um ser humano gigante. Havia perdido a prova por culpa de um protestante maluco, mas estava feliz só por estar ali e poder representar o seu país. A alma doce do corredor acompanhou seus passos até o fim. E aquela vitória, aquele gesto mais importante e valioso que o ouro, me inspirou a superar aquele momento difícil da minha vida. Vanderlei foi um vencedor que, assim como eu, diante de todas as adversidades e dentro do meu universo pessoal, também me tornei."

Kaio Esteves,  jornalista do SBT Interior/O Liberal de Araçatuba e freelancer da Folha de São Paulo

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