Em um dia comum, João Gomes Júnior estaria no
“terceiro sono” às 22h. Mas, durante os Jogos Olímpicos Rio 2016, este é
o horário mínimo em que o nadador entrará na piscina caso chegue às
finais na disputa dos 100m peito e no revezamento 4x100m medley. Não só
pra ele, mas para todos os atletas da modalidade, as provas tarde da
noite representam um desafio. Na delegação brasileira, ele está sendo
enfrentado com tecnologia e mudança de hábito já na aclimatação,
realizada no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, até 2 de
agosto.
Não se assuste se encontrar os 33 nadadores – a maior
equipe brasileira da história em Olimpíadas – chegando de óculos escuros
à noite no hotel. Ou se vê-los com um outro modelo, que emite luzes
verdes, antes do treino noturno. São técnicas que fazem parte da clínica
do sono coordenada pelo fisiologista e professor da Universidade
Federal de Minas Gerais Marco Túlio de Mello, com o objetivo de atrasar o
relógio biológico dos atletas em três horas.
“O que estamos fazendo (com os óculos) é dar um banho de
luz, para que a curva de temperatura do corpo fique mais alta até por
volta das 0h, 0h30. O banho de luz é no início da noite, por volta das
19h, durante meia-hora. E, após o treino, eles começam a usar óculos
escuros, para mostrar para o organismo que a noite chegou e é preciso
dormir rápido”, explica o professor.
Tudo mais tarde
Horários para dormir, acordar e para alimentação também
foram atrasados em três horas desde segunda-feira (25.07).Os óculos do
banho de luz foram introduzidos na quarta (27.07).
“É meio estranho, você fica olhando para as luzinhas
verdes. No início dá um pouquinho de dor de cabeça, depois você vai se
acostumando e nem percebe. Depois que você tira, você fica com o olho
mais aberto”, descreve João Gomes Júnior, que também narra a
experiência com os óculos escuros.
“É até meio engraçado sair da piscina com tudo escuro,
entrar no ônibus totalmente escuro usando óculos escuros. É mais para
induzir o sono, e acaba baixando a temperatura do corpo. Você não vê
nenhum ponto de luz e acaba quase dormindo”.
Para Nicolas Oliveira, que está classificado para quatro
provas (100m e 200m livre, revezamentos 4x100m e 4x200m livre) e deve
nadar quase todos os dias – mesmo com o plano de desistir dos 200m -, a
experiência é diferente, mas necessária.
“Acho que sou o atleta que mais vai estar nadando provas.
Para mim é muito importante a questão de acabar um dia, conseguir
recuperar, dormir para a outra prova. Quem vai nadar só uma prova pode
estar mais tranquilo, mas quem vai estar nesses oito dias de competição,
igual o meu caso, tem que prestar bastante atenção”, avalia.
Ele explica que é um pouco estranho usar os óculos – tanto
o tecnológico quanto o escuro comum, à noite -, mas que o atraso nos
horários chega a ser uma volta no tempo. “A sensação é igual quando a
gente era moleque, podendo dormir tarde e acordar tarde. Está sendo
aquele sonho de criança, acordar 11h, vai almoçar 15h, jantar às 23h30.
Pra mim está sendo uma adaptação bem tranquila”, explica.
Há ainda há o recurso das luvas. “Logo depois do
treinamento, em especial para os que têm dificuldade de dormir ou que
vão ter provas no dia seguinte, vamos ter uma luva gelada na mão, que é
para o efeito oposto ao dos óculos de luz, tirando o calor do corpo,
para que possam dormir depois da prova”, diz Marco Túlio.
Os banhos de luz e demais técnicas serão usadas com os
nadadores até a véspera de suas competições. Segundo o fisiologista,
com a seleção de handebol será feito, a partir desta sexta-feira
(29.07), o trabalho inverso, para acostumar o organismo a jogar mais
cedo: algumas partidas estão marcadas para 9h30 da manhã. Há ainda a
proposta de usar a técnica das luvas de gelo com as equipes de voleibol,
para que consigam dormir logo depois das partidas realizadas após as
22h.
Foto: Brasil 2016
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