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Surto História - O guarda descalço do imperador


Abebe Bikila, filho de um pastor na Etiópia, resolveu entrar para a guarda real do imperador etíope Haile Selassie para ajudar nas despesas da família durantes a adolescência. No exército, Bilila foi inserido ao esporte aos 24 anos de idade, quando surpreendeu Onni Niskanen, que fora contratado para descobrir novos talentos para o atletismo etíope.

Para os Jogos Olímpicos de 1960, realizados em Rola, Bikila acabou sendo inscrito no último momento no lugar de Wame Biratu, que tinha quebrado o tornozelo em uma partida de futebol. Bikila correria a maratona. A Adidas, patrocinadora dos Jogos na época, tinha poucos pares disponíveis quando Bikila pôde experimentá-los. Ele não gostou de nenhum deles e resolveu disputar a maratona descalço, do mesmo jeito que ele treinava na Etiópia. Niskanen alertou que ele enfrentaria adversários muito fortes e estar de tênis era fundamental para enfrentá-los de igual para igual, mas ele ignorou os pedidos do técnico.

A maratona dos Jogos de Roma seria a primeira disputada à noite, com guardas italianos segurando tochas pelo caminho e a primeira a começar e terminar fora do estádio olímpico. Fazendo o reconhecimento da rota dias antes, Abebe, junto com o seu treinador finlândes, Onni Niskanen, notaram que a menos de 1,5 km do final da maratona, no Arco de Constantino, estava o Obelisco de Axum, que foi levado da Etiópia para a Itália após a Guerra Ítalo-Etíope, em 1935. Ali seria, intencionalmente, o ponto que Abebe Bikila daria a arrancada final. 

Antes da maratona, Bikila foi alertado que o favorito à prova era o marroquino Rhadi Ben Abdesselem, que usaria o número 26. E na largada, com 69 maratonistas, o etíope, correndo descalço, começou a procurar Ben Abdesselem. Após 18 quilômetros, Bikila liderava a prova ao lado de um atleta com o número 185. E era o próprio Ben Abdesselem, que estava usando o número que ele usou nas provas de pista na busca de despistar os adversários. Bikila mantinha o ritmo forte, ignorando os copos d'água oferecidos a ele, pois achava que o número 26 estava à sua frente.

Os dois ficaram juntos até o final da prova, quando, ao passar pelo Obelisco de Axum, Bikila acelerou e deixou Ben Abdesselem para trás para vencer a prova, cravar o recorde mundial e se tornar o primeiro negro a vencer uma maratona. E tudo isso estando descalço!

A sua vitória teve enorme significado na Etiópia, que tinha sido invadida pelos Italianos em 1935, que ficaram cinco anos controlando o país. Para os etíopes, Bikila tinha vingado o país: "Foram necessários um milhão de soldados italianos para invadir a Etiópia, mas apenas um soldado etíope para conquistar Roma", era o que dizia o povo etíope.

Bikila voltou como herói nacional, e foi promovido a Cabo pelo Imperador. Em 1961, ele acabou sendo forçado a participar de um golpe de Estado, que acabou sendo mal-sucedido. Ele foi perdoado, muito pelo feito grandioso em Roma, e voltou a competir. Nos Jogos de Toquio 1964, mesmo tendo operado o apêndice seis semanas antes e ter sido obrigado a usar tênis para disputar a maratona, Bikila venceu novamente, cravando novo recorde mundial, se tornando o primeiro homem a vencer duas vezes a maratona olímpica.

Quando voltou, Bikila foi promovido novamente pelo imperador e ganhou um carro, um Fusca. O etíope disputou ainda os Jogos de 1968 e recebeu o número 1 da organização para a disputa. Mas Bikila acabou se contundindo no quilômetro 17 e não pôde completar a prova. Por outro lado, seu compatriota Mamo Wolde venceu a prova e disse que só ganhou porque Bikila não completou a prova.

Em 1969, Bikila sofreu um acidente de carro, capotou várias vezes e caiu no barranco. Bikila, mesmo sendo operado na Inglaterra, acabou ficando paralítico. Bikila chegou a participar de competições de tiro com arco paralímpico, mas não chegou a disputar nenhuma Paralimpíada.

Bikila acabou morrendo em 1973, de uma complicação neurológica de seu acidente de carro. Seu enterro atraiu 75 mil pessoas na Etiópia e um estádio em Ades Abeba foi batizado com o nome do atleta que fez história e pôs o nome da Etiópia no cenário mundial

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