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Surto Historia - O Massacre de Munique

Icônica imagem do terrorista do setembro negro, na sacada do prédio onde a delegação de Israel estava hospedada

Os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, estavam na sua segunda semana. O Comitê Organizador comemorava o que eles chamavam de as 'Olimpíadas da Serenidade'. A entidade evitou que muitos militares estivessem nas ruas da cidade, para que ninguém tivesse uma ideia exagerada de militarização.

Seguranças usavam apenas rádio e megafone, credenciais não eram item obrigatório. Tudo para desvencilhar a Alemanha totalmente da imagem que os Jogos olímpicos de 1936 deram ao mundo, com Hitler e sua propaganda exacerbada do nazismo e seu grande exército. Só que o relaxamento na segurança acabou causando uma das maiores tragédias da história olímpica, algo que mudou para sempre toda e qualquer estrutura de seguranças para grandes eventos: o massacre de Munique.

Madrugada de 5 de setembro. Vários atletas israelenses tinham saído e assistido a uma peça de teatro e já estavam na Vila Olímpica descansando. Apesar das tensões vividas por Israel no oriente médio e os pedidos por reforço de segurança para seus atletas não atendidos, tudo corria bem. Mas naquela madrugada, por volta de 4h30 da manhã no horário local, oito terroristas palestinos do grupo Setembro Negro, ligados à OLP (Organização para Libertação da Palestina) pularam o muro de dois metros da Vila Olímpica, com mochilas carregadas de fuzis, pistolas e granadas. Seu endereço era certo, o prédio onde estava a delegação de Israel.

Uma movimentação estranha acordou o árbitro de luta Youseff Gutfreund, que, desconfiado, foi investigar e se deparou com vários homens armados. Ele gritou para acordar seus companheiros e ainda jogou um aparelho de ginástica de 135kg para obstruir a passagem dos terroristas. Foi o necessário para seu colega de quarto, o treinador Tuvia Sokolovsky fugir pela janela. O outro treinador que estava no quarto, Moshe Weinberg, resolveu enfrentar os terroristas e foi baleado na boca. Ferido, Weinberg ainda teve que levar os terroristas ao outro quarto em que os outros atletas israelenses estavam. E ele resolveu entrar no quarto onde tinham os lutadores israelenses, na esperança de que eles pudessem parar os terroristas, mas foi em vão.

Foi quando Weinberg atacou os terroristas, deixando um desacordado e outro ferido, mas ele foi baleado novamente e não resistiu. Seu ato heroico ajudou o lutador Gad Tsobari a fugir. Youseff Romano, veterano da guerra dos seis dias, tentou enfrentar os terroristas e também acabou morto.

Com isso, os terroristas tinham em suas mãos nove reféns: Kehat Shorr, Amitzur Shapira, Andre Spitzer, Yakov Springer, Eliezer Halfin, Mark Slavin (que, com 18 anos, era o mais novo no local), David Berger (que também tinha cidadania americana), Ze'ev Friedman e Youseff Gutfreund.  Os demais israelenses no prédio conseguiram escapar e pedir ajuda.

Em alguns minutos o prédio estava cercado de policiais. Os terroristas fizeram um comunicado por volta das 7 da manhã: Eles queriam a libertação de 234 palestinos presos em Israel e dos alemães Urike Meinhof e Andreas Baader, membros da fração do exército vermelho. E se não fossem atendidos até as 9 da manhã, matariam dois israelenses de hora em hora. O corpo crivado de balas de Weinberg foi jogado pela janela para provar que eles estavam falando sério.

Logo, toda a imprensa que estava lá para cobrir os Jogos apareceu na Vila Olímpica. O mundo todo estava assistindo apreensivo ao sequestro. A primeira ministra israelense, Golda Meir, se recusou a atender às exigências do grupo e ofereceu os serviços de suas forças especiais, mais habituadas a lidarem com terroristas, mas a Alemanha recusou. Eles tinham seus próprios planos.

Depois de longas negociações, os terroristas mudaram as suas exigências, pedindo um avião e um helicóptero para fugir. Os alemães concordaram, pois viram que era a oportunidade ideal para emboscar e matar os terroristas. Dois helicópteros levaram os  reféns e os terroristas para uma base aérea perto do aeroporto de Munique.

O plano era emboscar os terroristas. Um Boeing 727 foi, então, separado para os terroristas, como eles haviam exigido. A tripulação da aeronave, contudo, era formada por agentes alemães disfarçados. Os terroristas Luttif Afif e Yusuf Nazzal iriam inspecionar a aeronave antes que o resto do seu grupo e os reféns entrassem. O plano era pegar os dois primeiros palestinos enquanto eles entravam no avião, com o restante do grupo sendo abatido pelos atiradores de elite no lado de fora. No total, todos os oito terroristas chegaram no aeroporto às 22h30, junto com dois helicópteros cheios de reféns.

O problema começou quando os agentes que estavam dentro do avião abandonaram seu posto. E quando Afif e Nazzal foram inspecionar o avião e não viram ninguém, se deram conta de que era uma emboscada. Quando saíram do avião e foram correndo para voltar ao helicóptero, os atiradores de elite começaram a atirar. Apenas Nazzal foi atingido. Logo após, o caos se instaurou. Três terroristas foram mortos pela polícia alemã, que também perdeu um agente no tiroteio. Os reféns estavam no meio do fogo cruzado, amarrados no helicóptero, sem poder fugir.

A emboscada alemã foi muito mal planejada, pois só visava a morte dos terroristas. Afif conseguiu chegar ao segundo helicóptero e fuzilou à queima roupa os quatro reféns israelenses. Adnan Al-Ghashey fez a mesma coisa no outro helicóptero. Afif ainda detonou um granada em dos helicópteros, incinerando os corpos. A missão de resgate alemã tinha falhado consideravelmente.

No final, cinco terroristas, onze reféns israelenses e um policial alemão, todos mortos. Uma tragédia sem precedentes abalou os Jogos Olímpicos, que ficaram suspensos por 34 horas. Por muita insistência do presidente do COI na época, Avery Brundage, os Jogos continuaram, após uma cerimônia no Estádio Olímpico no dia 7 de setembro, em memória dos atletas mortos.

Esse atentado, que foi noticiado em todo o mundo, trouxe grande consequências. A Alemanha, envergonhada por sua atuação desastrosa no evento, criou uma divisão anti-terrorismo, a GSG 9, para lidar melhor com essa situações no futuro. Os três terroristas sobreviventes do atentado que estavam presos, foram libertados após terroristas desse mesmo grupo sequestrarem um avião da Lufthansa. Israel tomou medidas drásticas, com a primeira ministra Golda Meir autorizando o serviço secreto israelense, o Mossad, a eliminar os terroristas sobreviventes ao atentado em uma operação chamada, 'A cólera de Deus'. Essa operação foi retratada no filme 'Munique', de 2006.

Esse evento é considerado como o início da era do terrorismo no mundo, pois foi o primeiro ato terrorista que teve repercussão mundial e a partir desse trágico evento, todas as competições de grande porte tratam a segurança dos atletas com extremo rigor.

Abaixo um documentário de noventa minutos narrado por Michael Douglas, chamado "An Day In September", legendado, que mostra com todos os detalhes, todo o desenrolar do massacre de Munique (o vídeo contém algumas cenas fortes):




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