1m59s22. A quarta melhor marca do Brasil na disputa dos 200m livre feminino do Troféu Maria Lenk 2016
deu a Gabrielle Roncatto uma vaga olímpica no revezamento 4x200m.
Enquanto ela ainda estava na piscina, o telefone celular já se enchia de
vídeos e mensagens da família e dos amigos orgulhosos. Com 17 anos –
completa 18 em julho –, a paulistana é a
caçula da maior delegação brasileira da história em Jogos Olímpicos: além dos 29 garantidos no Maria Lenk,
Gabriel Santos foi apresentado pela Confederação Brasileira de
Desportos Aquáticos (CBDA) junto com a equipe na semana passada. Ele
será reserva do 4x100m livre masculino, chegando-se, assim, ao histórico
número de 30 atletas.
A trajetória entre os primeiros treinos na seleção principal e o Rio
2016, segundo Gabrielle, foi rápida, passando pelo Pan de Toronto, no
Canadá, em julho do ano passado – quando ela ficou com a prata no revezamento 4x200m livre por ter nadado a eliminatória – e pelo Mundial Júnior, em Cingapura, no mês seguinte.
“Em 2014, eu comecei a treinar com a seleção principal. Eu olhava os
mais velhos, o Henrique Rodrigues, a Joanna Maranhão, e tinha muita
vontade de estar onde eles estavam, de chegar onde eles chegaram. O Pan
foi uma experiência incrível, de conviver com outros países, ver a
postura de outros atletas. Nesses meses de treinamento até aqui, fui
tentando levar para a piscina o que eu aprendi no Pan, no Mundial Júnior
e acabou dando certo”, comemora a atleta, que começou a nadar na
Unisanta, passou quatro anos e meio no Pinheiros, em São Paulo, e voltou
a defender a equipe de Santos em 2016.
Bronca e exemplo
O apoio incondicional dos pais e dos três irmãos é marcante para
Gabrielle. Mas ali bem ao lado, no dia a dia das competições, a
"supervisão" fica por conta de Joanna Maranhão. Colegas de clube até o
ano passado, antes de Gabrielle trocar o Pinheiros pela Unisanta, as
duas trocam elogios. Joanna reconhece o potencial da jovem nadadora, mas
conta que muitas vezes puxa a orelha de Gabrielle.
“Eu sofri muito quando ela saiu do Pinheiros, gostava de estar junto
com ela treinando. É uma menina talentosa demais, às vezes tem que
encaminhá-la, falar: ‘Gabrielle, você pode ser jovem, mas pode ser
atleta também’, equilibrar um pouco isso. Foram erros que eu cometi que
eu não quero que ela cometa. Tenho um carinho muito grande por ela, uma
menina que com certeza vai puxar essas provas de medley depois que eu
parar de nadar ”, diz Joanna sobre a “brincalhona que faz falta na
rotina”.
Gabrielle faz faculdade de Direito à noite na própria Unisanta e
conta que é no ambiente universitário que ela vive a “vida normal”,
fora da rotina de atleta, dividindo com as amigas as angústias da idade.
Fora isso, é treino de manhã e de tarde. Gabrielle nada os 100m e 200m
livre, os 200m e 400m medley e, dependendo da competição, também encara
as disputas de 100m e 200m peito. Quando a paulistana se junta à
seleção, lá está Joanna fiscalizando tudo, assim como fazia no
Pinheiros. No Maria Lenk 2016, em clubes diferentes, foi assim também.
“Esses dias (no Maria Lenk), ela me deu uma bronca porque eu estava
de chinelo no balizamento. Às vezes, quando treinávamos juntas, eu
chegava um pouquinho mais em cima da hora do treino e não aquecia fora
d'água e ela me dava bronca. Coisa cotidiana, como irmã mais velha, como
mãe. Ela sempre foi maravilhosa comigo”, conta Gabrielle.
Características diferentes
O Rio 2016 será a quarta edição de Jogos Olímpicos de Joanna, que
garantiu vaga nos 200m e nos 400m medley. A estreia foi em Atenas 2004,
quando a pernambucana, aos 17 anos, chegou a duas finais, terminando em
quinto lugar nos 400m medley – melhor resultado da natação feminina
brasileira em Olimpíadas, igualando o feito de Piedade Coutinho, em
Berlim 1936 –, e em sétimo no revezamento 4x200m, a prova
de Gabrielle em agosto. Antes de nadar os 200m que lhe deram a vaga
olímpica, foi exatamente Joana quem acalmou Gabrielle.
“Foi maravilhoso. Ela me passou bastante tranquilidade, conversou
comigo, me motivou, e com certeza parece que é um bastão que ela está
passando pra mim. Tomara que dê tudo certo e que a gente consiga pegar
essa final olímpica igual elas pegaram”, aposta.
Para Joanna, não há exatamente uma passagem de bastão no que diz
respeito ao 4x200m livre, porque as características das duas nadadoras
são distintas. “Eu estive nesse revezamento poucas vezes, não estive
sempre. O 200m livre não é minha prova, é sempre um prazer estar nela,
mas sou mais resistente e Gabrielle é muito mais rápida. Para uma prova
de 200m livre, nada melhor do que uma atleta que é mais rápida do que
eu”, afirma Joanna.
No Mundial do ano passado, em Kazan (Rússia), quando o quarteto
brasileiro terminou em 11º lugar no 4x200m, fizeram a prova Manuella
Lyrio, Jéssica Cavalheiro, Larissa Oliveira e Joanna. No Troféu Maria
Lenk, Joanna optou por não nadar a Final B dos 200m livre para focar nas
provas de medley.
Nova geração
Gabrielle é um dos principais nomes da nova geração da natação
brasileira e vem crescendo no esporte junto com nadadores como Brandonn
Almeida e Luiz Altamir. Eles também dividem a responsabilidade de
substituir, num futuro próximo, a geração de Cesar Cielo – que ficou fora do Rio 2016 – e Thiago Pereira. Para Gabrielle, os Jogos Olímpicos serão um momento de aprendizado, acima de tudo.
“É uma experiência pra gente, mais pra aprender, pra ver os mais
velhos, como que eles fazem, para, no futuro, poder defender bem (a
seleção). No começo, e digo por mim, a gente vai ter que aprender
bastante coisa. Sei que a Joanna vai me ajudar, mas tudo é muito novo
pra mim. Espero que na outra Olimpíada, se eu for, eu já esteja com
outra cabeça”, diz Gabrielle.
Joanna recorda Atenas 2004 como uma grande festa. Ela deseja que
Gabrielle também desfrute, mas sem perder de vista a importância da
competição. “Espero que ela curta tudo isso também, mas que curta com
responsabilidade. Eu vou estar lá para fiscalizar, caso ela saia da
linha. Então, não vai ter problema”, afirma.
Além da estreia, Gabrielle poderá realizar outro sonho no Rio 2016,
ao dividir a piscina com o ídolo, o multimedalhista norte-americano
Michael Phelps, maior campeão da história dos Jogos Olímpicos, com 18
ouros. “Nunca cruzei com ele. Ele nadando de perto vai ser uma das
coisas que eu mais quero ver. Nunca tive a oportunidade”, comemora.
Fotos: Brasil 2016
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