Os quatro países mais bem colocados no ranking mundial
masculino do goalball testaram a Arena do Futuro, no Parque Olímpico da
Barra, no Rio de Janeiro, nesta quarta e quinta-feiras (4 e 5 de maio). O
Brasil, atual campeão mundial, venceu a competição. Participaram também
Lituânia, Estados Unidos e Finlândia, campeã paralímpica de Londres
2012. Todos jogaram entre si, e os dois melhores – Brasil e Lituânia –
fizeram a final. Os donos da casa ganharam o título com vitória por 11 x
7.
Para o brasileiro Leomon Moreno, a oportunidade de jogar contra os
principais rivais foi bem aproveitada. “A gente já quis convidar essas
equipes que concorrem diretamente com a gente. Como não temos tantos
campeonatos fora do Brasil, temos que trazê-los para cá para ver como
eles estão jogando. Os jogos não foram fáceis”, disse o artilheiro do
último Mundial, em 2014.
As quatro equipes contribuíram para a avaliação da casa da modalidade
nos Jogos Paralímpicos de 2016. A Arena do Futuro foi aprovada,
ponderando-se o fato de que o piso da quadra será diferente durante o
megaevento. O mau cheiro que incomodou jogadores e torcedores no
evento-teste do handebol, realizado no último fim de semana, também foi
citado pelos atletas do goalball.
Esporte auditivo
A modalidade é jogada por cegos, que são classificados em três
categorias – B1 (Cegos totais), B2 (atletas que percebem vultos), e B3
(jogadores que conseguem definir imagens)–, mas todos usam vendas nos
olhos, de forma a garantir igualdade de condições. É um esporte que
exige silêncio da arena, já que a bola usada tem um guizo que orienta os
jogadores. Ruídos altos podem atrapalhar, mas os atletas e técnicos não
apontaram problemas graves nesse sentido.
“Ontem, treinamos de manhã e de noite, pudemos explorar um pouco a
arena. Fomos lá em cima, na área dos espectadores, que é muito boa,
assim como o layout do piso que é bem aberto. Como o goalball é um
esporte auditivo, o som de grandes arenas pode ser problemático, mas
aqui estamos jogando em um espaço bem menor”, disse o norte-americano
Andrew Jenks.
“Tem um pouquinho de eco, mas a gente consegue tirar de letra.
Parabéns para a organização, está tudo muito bonito e a quadra também
está legal, o piso está bom. A temperatura está legal, eu gosto de jogar
no calor”, acrescentou o brasileiro Parazinho.
A temperatura foi a única reclamação do finlandês eleito o melhor do
mundo em 2014, Erkki Miinala. “O ar condicionado podia estar mais forte,
porque está bem quente e úmido. Talvez haja algo para fazer com a
refrigeração. Mas no geral está muito bom para os Jogos
Paralímpicos”,disse.
Piso
O piso da quadra foi bastante elogiado pelos atletas. Andrew Jenks
destacou a ausência de imperfeições como bolhas, que já foram
encontradas por ele em outras arenas. Mas a superfície será diferente
para os Jogos Paralímpicos, de acordo com Gustavo Nascimento, diretor de
Gestão de Instalações do Comitê Rio 2016. Tanto para o handebol quanto
para o goalball – as duas modalidades disputadas na Arena do Futuro nos
Jogos –, haverá uma estrutura de madeira, chamada de piso flutuante,
embaixo do carpete. E o piso em si também será diferente para o
goalball.
“É válido o piso de handebol ser usado no goalball, é autorizado pela
Federação Internacional (de Esportes para Cegos). Aqui a gente teve
três dias entre o handebol e o goalball, nos Jogos teremos 15 dias,
então usamos o mesmo piso para os dois eventos-teste. O carpete do
goalball nos Jogos é diferente e teremos uma plataforma a mais”,
explicou Nascimento. Essa plataforma, acrescentou o dirigente, dará mais
visibilidade ao jogo e facilitará o trabalho de transmissão.
O técnico do Brasil, Alessandro Tosim, aprovou a arena e comentou a
mudança de piso. “Vai ser o mesmo piso em que jogamos o Mundial, um
pouco mais grosso que este, a bola vai quicar um pouco mais. O tempo de
bola muda. Vamos ter que nos adaptar ao piso na semana de aclimatação. A
arena é de arrepiar, é linda. Tem só um barulhozinho do ar
condicionado, mas não interferiu em nada”, disse.
Quanto ao eco citado por Parazinho, o Comitê Organizador informou que
está atento à questão. “Teste é para isso, para avaliar os pontos
levantados. É um atleta falando. Se a federação internacional disser que
tem um problema grave de eco, a gente vai ver sim”, disse Nascimento.
Os testes principais do Rio 2016 tiveram como foco a área de
competição, os voluntários específicos do esporte e o sistema de
resultados.
Mau cheiro
O mau cheiro relatado no torneio de handebol também foi percebido
pelos atletas do goalball. Os deficientes visuais têm os outros sentidos
mais apurados, e o olfato do brasileiro Parazinho não ficou
indiferente. “Está muito forte nos corredores e no banheiro. Isso
não é muito legal. A gente poderia ficar um pouco mais tranquilo, mas
precisa se trocar logo para sair de lá de dentro porque incomoda
bastante. Mas na quadra a gente quase não percebe”, explicou.
“Ontem, algumas vezes senti o mau cheiro, mas hoje está melhor. Fora
da arena, também senti algumas vezes”, relatou o lituano Mantas
Brazauskis. O norte-americano Andrew Jenks sentiu o odor na área
externa da arena, mas minimizou a questão. “Tudo dentro da arena está
perfeito, e eu não jogo goalball lá fora. Para mim não é problema”,
disse.
Para o Rio 2016, é preciso saber a origem exata do mau cheiro antes
de qualquer atitude. “A gente continua investigando e não há sinal de
que esse cheiro venha da instalação, de algum tipo de conexão mal feita,
não há evidências. Se for da lagoa, a gente tem que achar uma solução,
mas não vamos falar disso agora. A gente só vai falar da solução quando a
gente tiver certeza de onde vem”, explicou Gustavo Nascimento.
Limpeza das lagoas
A Arena do Futuro é a instalação do Parque Olímpico mais próxima da
Lagoa de Jacarepaguá, a qual é atribuído o mau cheiro. Presente no
Dossiê de Candidatura e no Plano de Políticas Públicas dos Jogos
Olímpicos, o projeto de recuperação ambiental do sistema lagunar da
Barra e de Jacarepaguá, com trabalhos de dragagem e desassoreamento, não
seguiu plenamente o cronograma idealizado. O Ministério Público Federal
fez questionamentos, como a falta de um estudo de impacto ambiental, o
que retardou o início das obras. A crise financeira, segundo a
Secretaria Estadual do Ambiente, agravou a situação.
“Em virtude das legítimas intervenções do Ministério Público, que
acabaram por atrasar em um ano e meio o início das obras, o orçamento
previsto para as intervenções no Complexo Lagunar da Barra, com o passar
do tempo, foi impactado. Nesse período, veio a crise econômica e a
realidade agora é outra”, informou a secretaria em nota, que continua:
“A secretaria está fazendo um grande esforço orçamentário, mesmo diante
da crise, buscando realizar o que estamos chamando de primeira fase da
obra, que é a execução da ampliação do molhe – estrutura costeira feita
por pedras e blocos de concreto – na embocadura do Canal da Joatinga.
Esta intervenção vai facilitar uma troca maior de água entre a lagoa e o
mar, melhorando a balneabilidade da praia. O projeto será feito de
forma que essa troca se dirija mais para o alto mar, favorecendo a
qualidade da água na região”.
Em relação ao Programa de Saneamento da Barra da Tijuca, Recreio e
Jacarepaguá, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro
(CEDAE) disse que as obras estão mais de 80% finalizadas, com previsão
de conclusão para o fim de junho. Orçadas em cerca de R$ 72 milhões, as
intervenções beneficiam áreas da região ainda não conectadas à rede da
companhia e os empreendimentos e novas construções voltados aos Jogos
Olímpicos.
Ainda de acordo com a CEDAE, o eixo viário, formado pelas avenidas
Abelardo Bueno e Salvador Allende, onde se concentram os principais
trabalhos, tem a função de coletar e transportar o esgoto para a Estação
Elevatória de Esgotos (EEE) de Jacarepaguá. As novas tubulações ligarão
a rede de esgotos da região às novas EEE Olimpíada e EEE Olof Palme, e à
Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da Barra. A obra foi projetada
para atender a demanda futura nos próximos 20 anos.
Resultados do evento-teste
Quarta (04.05)
Brasil 7x6 Finlândia
Estados Unidos 5x14 Lituânia
Quinta (05.05)
Finlândia 4x4 Estados Unidos
Lituânia 14x11 Brasil
Finlândia 7 x 8 Lituânia
Estados Unidos 4x10 Brasil
Final: Brasil 11x7 Lituânia
Fotos: Brasil 2016
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