Superação, evolução e aprendizados a partir dos percalços.
Expressões que ajudam a definir Claudio Massad e as principais lições
que um dos melhores mesatenistas paralímpicos da América Latina
transmitiu em visita à Fundação Casa Nelson Mandela, de Bauru, na última
sexta-feira (16.10). Defensor do potencial transformador do esporte, o
jogador traçou um paralelo entre a sua história e a dos internos.
“De certa forma, a trajetória deles é similar à carreira de atleta.
Eu aprendi muito mais com as minhas derrotas do que com as vitórias, e
foquei em usá-las para evoluir. Foi isso que eu tentei passar para
eles”, contou. O encontro entre o atleta e os internos ocorreu a partir
de um convite do professor de educação física da instituição, Jorge
Cerigatto.
“O Jorge fez Educação Física comigo em Bauru. Ele começou a trabalhar
lá há pouco tempo e queria que eu falasse da carreira, das conquistas,
dos obstáculos que tive de superar”, disse Massad.
E não são poucos os triunfos e adversidades em seu caminho. O 27º
colocado no ranking mundial da Classe 10 coleciona conquistas também na
classe olímpica. Em 2014, foi duas vezes campeão paulista individual,
campeão paulista de duplas mistas e campeão brasileiro do rating B,
título que o levou à elite do tênis de mesa do país, o rating A.
Claudio descobriu, em 1995, uma lesão no joelho chamada Doença de
Blount. Teve um desgaste ósseo na parte interna da perna esquerda e
passou por cirurgia em 2001, mas ainda não pisa corretamente, tendo uma
diferença de 3 cm de altura entre as pernas. Classificado para a Classe
10 paralímpica, em outubro de 2014, na França, conseguiu, logo em seu
primeiro torneio, superar duas vezes o chinês Kong Weijie, à época o 10º
colocado no ranking mundial.
Do luto à luta
Praticante de tênis de mesa desde os 13 anos de idade, o atleta
afastou-se do esporte para ingressar no curso de Direito. Em 2008, um
baque: a perda do irmão mais velho devido a uma pneumonia, tida por ele
como a maior derrota de sua vida.
Claudio o acompanhou durante o período de internação, no qual o irmão
confessou a ele que não era feliz por não ter tido coragem de fazer o
que amava. Faleceu alguns dias depois. No mesmo ano, Claudio iniciou o
curso de Educação Física e profissionalizou-se no esporte.
Presidente, técnico e atleta da Associação Nova Era de Tênis de Mesa
de Bauru, os esforços em desenvolver a modalidade e educar através do
esporte são uma constante em sua vida. “Fizemos uma demonstração, falei
da modalidade, expliquei as regras, ensinei as técnicas. Contei a minha
história e falei das dificuldades que enfrentei. Tentei passar alguns
exemplos, deixando claro para eles que, independentemente do que tenham
feito, eles devem olhar para o futuro, aprender com os erros e tentar
ser pessoas melhores”, contou Massad.
Sensível à trajetória de vida conturbada dos internos, Claudio sentiu
que o encontro foi bem produtivo. “Brincamos juntos, batemos bola.
Chamou a minha atenção o material que eles têm lá, que é raquete de
madeira e bolinha de desodorante roll-on. Saí com a sensação de ter
passado algo de bom: a noção de que eles podem sempre tentar evoluir. E é
complicado, porque muitos lá já nasceram com pais traficantes, usuários
de drogas. É difícil”, afirmou.
Tendo isso em vista, Claudio fez um apelo à valorização do esporte e
da educação. “É claro que cada um tem responsabilidade pelas suas
escolhas, mas a sociedade influencia. A educação é o caminho. O esporte
tem um papel fundamental nisso, porque mistura educação, saúde, inclusão
social. A sociedade tem que olhar com mais carinho para eles,
preocupando-se com a construção de cidadãos de caráter e a evolução do
ser humano a partir da educação e do esporte”, concluiu.
Foto: CBTM
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