A Seleção Brasileira Paraolímpica de tênis de mesa se prepara para o
principal desafio deste ano, o Parapan-americano de Toronto, de olho nos
Jogos Rio 2016. O objetivo dos seis atletas cadeirantes (classes 1 a 5)
que integram o time nacional e treinam na Associação Atlética do Banco
do Brasil (AABB), em Brasília, e a dos demais mesatenistas da equipe
permanente do país (classes 6 a 11), que treinam em Piracicaba (SP), é
manter a hegemonia no continente e buscar duas medalhas nas
Paraolimpíadas.
“A seleção é permanente e treina todos os dias. A meta é ganhar as 15
medalhas de ouro possíveis no Parapan-americano. Já a Paraolimpíada é
mais difícil. Temos uma hegemonia nas Américas, mas nas Paraolimpíadas
estamos sendo otimistas e lutamos por duas medalhas. Não sabemos a cor
delas, mas ganhar duas medalhas seria excelente”, afirma José Ricardo
Rizzone, técnico da Seleção Brasileira.
O Brasil conta com uma medalha de prata na história do tênis de mesa
nas Paraolimpíadas, conquistada em Pequim 2008. Com os investimentos do
Ministério do Esporte, através de convênio firmado em 2012 com a
Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), as condições de
treinamento dos atletas mudaram e os resultados melhoraram.
“Hoje a seleção tem material de primeira, os atletas têm as borrachas
(para as raquetes), que antes eles tinham que comprar, têm as melhores
mesas do mundo, piso de borracha importado, bolas e robô lançador de
bolas. Todo um aparato técnico. No projeto, eles têm salário, bolsas e
subsídio para viajar. Eles só têm de pensar em treinar”, diz Rizzone.
Quando começou no projeto na AABB, antes de ser parte da seleção
permanente, Guilherme Costa, 23 anos, não estava nem entre os 40
melhores do mundo na classe 2. Atualmente é o 18º do ranking. Para ele, a
possibilidade de se dedicar exclusivamente ao esporte fez seu
desempenho crescer.
“A gente treinava de forma amadora. Competia com outras coisas. Eu
treinava, fazia faculdade e pagava do meu bolso a parte física. A partir
do momento que iniciou o convênio, começamos a treinar o dobro de
tempo. Temos a parte física e hoje vivo do esporte. Os resultados
melhoraram. Não tem fórmula mágica, é trabalho”, afirma Costa.
O convênio entre o Ministério do Esporte e a CBTM prevê R$ 2,37
milhões para pagamento de salários aos atletas, técnicos e de equipes
multidisciplinares (fisioterapeutas, médicos, nutricionistas e
psicólogos), compra de material e equipamentos. Para o custeio de
viagens para competições o valor é de R$ 1,49 milhão. Além disso, os
seis mesatenistas da equipe permanente de Brasília recebem Bolsa-Atleta
ou Bolsa-Pódio do Governo Federal.
“Imagine fazer uma viagem para a Europa levando seu staff? É muito
caro. Se não tivesse esse apoio nós não teríamos a oportunidade de jogar
contra os tops do mundo, que é o que faz a diferença. Teríamos a
exigência de um resultado que não seria tão palpável, porque você não
saberia como seriam os adversários”, analisa Ronaldo Souza, 38, 23º do
ranking na classe 2.
Respeitabilidade
Com os resultados, os brasileiros começaram a ser respeitados pelos
adversários mais fortes do mundo, segundo Ronaldo Souza. Antes do
Parapan-americano, que acontece de 7 a 15 de agosto, a seleção terá a
oportunidade de medir forças contra os principais oponentes durante as
etapas do circuito mundial na Hungria e na Itália, em março, na
Eslovênia e na Eslováquia, em maio, e no aberto da Espanha, em junho.
“Quando comecei, há quase sete anos, os atletas top não nos
respeitavam. Você era um adversário fácil para eles. Hoje em dia não. O
respeito é igual. Isso foi conquistado com resultados e investimentos.
Aqui, a maioria já venceu campeões mundiais e olímpicos. Não existe mais
o negócio de o Brasil ser fácil”, disse Souza.
A Seleção Brasileira Paraolímpica que representará o Brasil nos Jogos
Parapan-Americanos de Toronto 2015 contará com 28 atletas, já
escolhidos. A competição será classificatória para os Jogos Rio 2016. As
outras vagas para as Paraolimpíadas serão definidas pelo ranking
mundial. “Meu objetivo é ganhar o Pan para ser classificada direto para a
Paraolimpíada”, afirma Joyce Oliveira, 24 anos, 9ª no ranking na classe
4. Nascida em Jundiaí (SP), ela se mudou para Brasília para treinar com
a Seleção Brasileira.
Do luto à luta
A cada bate-rebate das bolinhas, histórias se cruzam nas duas pontas
da mesa. A maioria dos cadeirantes da Seleção começou a praticar o tênis
de mesa como parte do processo de reabilitação após acidentes que
mudaram suas vidas. O veterano da turma, Iranildo Espíndola, 45 anos,
fazia tratamento no hospital Sarah Kubitschek e foi incentivado por um
professor de educação física do local a praticar a modalidade.
“Gostava de esportes desde pequeno, mas sofri um acidente em 1995 que
me impossibilitou de praticar futebol, que era minha paixão. Tirou a
condição de jogar, mas não tirou a vontade. Comecei a praticar o tênis
de mesa como fisioterapia, para recuperar movimentos que havia perdido.
Mas os médicos, o fisioterapeuta e os professores do hospital enxergaram
um potencial e a partir de então comecei a treinar e não parei mais. O
tênis de mesa me devolveu a vida”, diz Espíndola, que está no esporte
desde 1999 e já disputou as Paraolimpíadas de Atenas (2004), Pequim
(2008) e Londres (2012). Atualmente, é o 16º do ranking da classe 2.
Foi durante os torneios organizados pela federação do Distrito
Federal que Iranildo Espíndola conheceu o técnico José Ricardo Rizzone.
Parceria que deu certo e angariou novos atletas para a modalidade. “Eu
fazia reabilitação e minha esposa me levou para fazer hidroterapia. Só
que eu bebia água o tempo todo. Era terrível. Não consigo flutuar.
Passaram alguns dias, o José Ricardo e o Iranildo chegaram onde a gente
treinava para fazer um trabalho. Eu fui fazer a experiência para a
reabilitação. O intuito não era a prática de esporte profissional, mas
acabou que me adaptei bem, melhorou a minha condição física e estou até
hoje no tênis de mesa”, disse Aloisio Lima, 41 anos, 13º no ranking da
classe 1.
A situação é semelhante à de outros atletas, que tiveram o primeiro
contato com a modalidade no hospital Sarah, referência em reabilitação
no país. Hoje, o convívio é diário, durante várias horas. Apesar das
diferentes classes, todos treinam juntos e garantem: a parceria tem
feito todos crescerem, não só no desempenho esportivo.
“Depois do tênis de mesa voltei a dirigir e a fazer atividades que
não imaginava. Hoje saio sozinho, me viro. Você estabelece contato com
outras realidades, que te inspiram a fazer outras coisas, como o
Iranildo, que foi o precursor e é um exemplo para nós. A gente coloca as
limitações para nós mesmo muito mais do que elas existem de verdade”,
afirma Lima.
“O tênis de mesa é grande parcela da minha vida. Trouxe a experiência
e a confiança que tenho em mim. A minha superação não está ligada à
minha deficiência. Hoje a minha superação está ligada ao tênis de mesa,
ao meu trabalho. Aqui mostro todos os dias para o Guilherme que ele é
capaz de mais, de aprender novas coisas, fazer novas técnicas e de se
superar”, destaca Guilherme Costa.
Foto: Brasil 2016
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